Telinha

Bastidores da fama

Série Hebe mergulha nas contradições de uma das mais conhecidas e admiradas personalidades da TV brasileira

Da TV Press
09/08/2020 às 09:00.
Atualizado em 28/03/2022 às 19:28
Andréa Beltrão protagoniza o filme e a série sobre a vida da dama da TV brasileira (Fabio Rocha/Divulgação)

Andréa Beltrão protagoniza o filme e a série sobre a vida da dama da TV brasileira (Fabio Rocha/Divulgação)

Falecida em 2012, aos 83 anos, Hebe Camargo teve uma vida intensa e exuberante. A produção de um filme abordando essa rica trajetória era uma ideia óbvia e, inclusive, fazia parte dos planos da família da apresentadora com o objetivo de celebrar sua memória e legado. Responsável pelo roteiro do longa Hebe - A Estrela do Brasil, e experiente em cinebiografias, Carolina Kotscho percebeu o potencial dessa história durante a primeira fase de pesquisa e, ao lado do diretor Maurício Farias, sugeriu um desdobramento do filme à Globo. “Dediquei seis anos da minha vida para estudar o melhor jeito de retratar a Hebe, uma mulher destemida, grande defensora da liberdade e ao mesmo tempo conservadora. Fiquei obcecada por essa figura tão intrigante”, destaca a autora. Já disponível no Globoplay, a série estreou na TV aberta, conta com dez episódios, e segue por um caminho diferente de outras biografias recentes, como as de Tim Maia e Elis Regina, que ampliavam a abordagem dos filmes adicionando cenas de arquivo e sobras das filmagens. Enquanto o longa foca nas polêmicas políticas e no sucesso televisivo da apresentadora em meados dos anos 1980, a série faz um apanhado especial de toda a vida da homenageada, de 1946 a 2012. “São produções totalmente diferentes, mas complementares. Tudo foi feito com a mesma equipe, mas a série ganhou nomes adicionais no elenco e uma narrativa mais televisiva”, diferencia Farias, diretor de ambas as produções. Desafio Estrela das duas adaptações, Andréa Beltrão ficou surpresa ao receber o convite de Carolina para interpretar a apresentadora. Sem tanta sintonia física, a atriz decidiu evitar uma imitação simples e criar uma versão mais pessoal sobre a homenageada. “Estive no programa da Hebe uma única vez, no início dos anos 1990. Estava começando a minha carreira e fiquei muito impactada com a presença de palco dela. Nada passava despercebido e ela mantinha um controle especial sobre a câmera e o público. Por muito tempo, achei que não daria conta da força que o papel exigia”, explica Beltrão. Na série, Beltrão divide o protagonismo com Valentina Herszage, atriz que vive Hebe durante a adolescência e juventude. Nascida em 1998, ela confessa que pouco sabia sobre o papel até passar no teste. A partir de matérias jornalísticas, muitos vídeos encontrados no YouTube e diversos encontros com Beltrão, Valentina, enfim, encontrou a segurança para viver uma jovem mulher à frente de seu tempo, característica que marca toda a trajetória da biografada. “Garantir uma unidade entre as nossas atuações era essencial. Eu e Andréa fizemos uma lista de gestos que poderiam marcar esse “encontro” entre as nossas versões, como o jeito de olhar, as pausas na hora de falar, o choro emocionado e a gargalhada, que foi o detalhe mais difícil”, aponta Valentina. Com gravações iniciadas em novembro de 2018, a série é pontuada por momentos importantes de Hebe à frente e longe dos holofotes. Os bastidores ganham o primeiro plano, em uma narrativa sem cronologia e costurada a partir das memórias da protagonista. Neste contexto, a produção mergulha na vida em família antes da fama, nos casamentos, na relação com o filho e as decisões profissionais que a tornaram uma das maiores comunicadoras do Brasil. Neste processo, o público também é apresentado às mais diversas facetas de Hebe, onde cabe tanto a luta dos direitos das mulheres e apoio à população LGBTQIA+, como a defesa de políticos e discursos calorosos sobre moral e bons costumes. “É uma visão muito humanizada. Todos nós temos nossas contradições. Hebe falou besteira muitas vezes, mas também não tinha vergonha de se redimir. Enfrentou diversos tipos de assédio e se manteve firme e corajosa no seu propósito de estar perto do público”, analisa Beltrão. Trio inseparável Os amigos famosos da apresentadora também se destacam ao longo dos episódios, em especial o “crush” em Roberto Carlos, vivido por Felipe Rocha, e o trio inseparável que a protagonista formava com Nair Belo e Lolita Rodrigues, interpretadas por Claudia Missura e Karine Teles, respectivamente. “São personalidades muito famosas. Então, para não ficar algo muito caricato, pedimos para o elenco fazer uma versão realista, que não soasse como uma mera imitação”, detalha Maria Clara Abreu, que divide a direção da série com Maurício Farias. Com amplo acesso ao acervo de objetos, figurinos e joias da apresentadora, o realismo também pautou a estética de “Hebe”. Em um trabalho conjunto das equipes de caracterização, cenários e direção de arte, a ideia foi remeter às variadas décadas retratadas em cena utilizando itens originais e algumas réplicas dos visuais usados por Hebe ao longo dos anos. “Precisávamos remeter o público a determinadas épocas e brincamos muito com percepção das cores específicas de cada período. Para a persona da Hebe, recorremos ao acervo espetacular que encontramos na casa dela. Móveis, roupas, sapatos, prêmios e presentes estão compondo as cenas. O resultado é exatamente o tom de realidade que queríamos”, conta a diretora de arte Luciane Nicolino. Oportunidade de conhecer o lado mais humano da loira Quando se pensa em retratar a vida de uma figura pública, quase sempre o que mais chama a atenção são justamente os detalhes mais íntimos dessas personalidades. Na minissérie, não é diferente. A personagem-título é até hoje, quase oito anos depois de sua morte, a figura feminina mais emblemática da TV brasileira. É claro que isso, por si só, já tornaria o projeto interessante. Mas a cereja do bolo ali é a oportunidade de conhecer o lado mais humano de Hebe, cuja trajetória é explorada desde a adolescência sofrida ao estrelato. Algumas peculiaridades da vida de Hebe são favorecidas pelo trabalho eficaz da equipe de direção de arte. Como seu fascínio pelas joias e pelos carros da Mercedes-Benz. Questões importantes da vida dela ganham espaço, como o aborto que fez após engravidar do namorado casado, na juventude. E a proximidade com Paulo Maluf, muito criticada na época. Quanto às décadas exploradas, a epidemia de Aids é levemente induzida quando ela se preocupa com a magreza exagerada de um colega de trabalho. É curioso ver atores interpretando nomes conhecidos da época, como Silvio Santos, que é encarnado por Daniel Boaventura. Karine Teles e Cláudia Missura fazem Lolita Rodrigues e Nair Belo. Cabe a Stella Miranda a função de encarnar Dercy Gonçalves. O segundo marido de Hebe, o ciumento Lélio, fica a cargo de Marco Ricca, e o sobrinho Cláudio, tratado como filho por ela, é defendido por Danton Mello. Conteúdo de qualidade, com elenco de primeira e uma personagem principal que vale a pena conhecer.

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