CRIATIVIDADE

Basicamente originais

Peça democrática que cabe em qualquer guarda-roupa, a camiseta é tão essencial que algumas empresas se especializaram em vender apenas isso

Crislaine Coscarelli
13/10/2013 às 05:00.
Atualizado em 25/04/2022 às 02:24

Camisetas brancas ou coloridas, regatas ou de manga longa, divertidas e – muitas vezes – fashions: quem é que não usa? Seja para aquele visual mais despojado do final de semana ou para o dia a dia mesmo, mas enriquecida com detalhes, essa peça básica da vestimenta, usada democraticamente tanto por homens quanto por mulheres, é um clássico e sempre o será. De olho nessa “eternização” do item, que se recria a cada nova estação, não são poucas as empresas que focaram o seu negócio apenas na venda pura e simples de camisetas. Foi assim que nasceu a Camisetas da Hora, loja virtual de vendas pela internet. O foco da empresa são os temas divertidos. No site, é possível encontrar mais de cinco mil modelos, como exemplares com os dizeres “Só Ctrl + S salva” ou “‘Não existe trabalho ruim. Ruim é ter que trabalhar’ - Seu Madruga”. Mas até fundar a empresa em 2005, Marcelo Ostia passou por maus bocados. O primeiro negócio que ele montou foi uma de estamparia de roupas, porém, quando tomou um calote de R$ 4,5 mil de um dos clientes a empresa quebrou. Falido e desempregado, Ostia saiu de Itu (SP) e foi para a Capital paulista com R$ 50 no bolso para vender algumas das peças personalizadas que ainda tinha no estoque da empresa falida e tentar se reerguer. Durante um mês, sobreviveu com R$ 4 por dia. Para não ter que dormir nas ruas, convenceu um dono de estacionamento a alugar uma vaga, mesmo sem ter carro, assim ele teria cobertura e segurança para conseguir descansar. A “aventura” em São Paulo terminou três meses depois quando descobriu que sua namorada estava grávida. Ele voltou para Itu, mas o sonho de ser empreendedor não acabou. Mesmo trabalhando como auxiliar administrativo em uma fábrica, ele permaneceu vendendo camisetas personalizadas, dessa vez no Mercado Livre, um portal de compra e venda. Foi um recomeço. Decidiu juntar R$ 300 e montar um site para mostrar e vender as peças. A ideia deu frutos e, depois de um ano, transformou-se no site Camisetas da Hora. “Gosto de falar da minha história porque ela fez toda a diferença para o meu sucesso como empreendedor. As dificuldades me fizeram ser uma pessoa melhor e mais humilde, compreensiva e paciente”, afirma. Foto: Divulgação Marcelo Ostia, dono da Camisetas da Hora: peças divertidas são o carro-chefe Sempre com bom humor Nenhuma dificuldade foi capaz de tirar o bom humor de Ostia e isso é importante já que, de certa forma, isso é uma das matérias-primas do seu negócio. “Vendemos camisetas engraçadas, estilosas, inteligentes. Estes adjetivos marcam o conceito da Camisetas da Hora, que traz em seus produtos uma pegada arrojada”, diz. E as ideias de onde vêm? “De todo o lugar”, garante o empresário que conta com a criatividade e se preocupa em estar sempre por dentro dos acontecimentos. “Tiramos ideia de quase tudo: protestos, frases de personalidades, os famosos ‘memes’ das redes sociais... A internet, aliás, te permite mudar a estratégia da noite para o dia”, afirma o empresário. A grande sacada no negócio de Ostia é que primeiro a ideia é vendida e depois produzida. “Criamos um modelo de camiseta, colocamos no site e vamos produzindo conforme a demanda”, explica. Hoje a empresa não está mais apenas no mundo virtual, ela já conta com dois quiosques – um em Itu e outro em Itapevi — para vendas físicas e também com uma “loja ambulante” instalada em um furgão que realiza vendas em eventos, portas de universidades e diversos outros lugares. A primeira loja da empresa deverá ser aberta até o fim deste mês em Araraquara. “E muitas outras novidades estão para acontecer. Não quero parar e acho que temos espaço para crescer muito mais. Eu sou um sonhador!”, afirma o empresário.Sem dinheiro, mas com criatividade Da mesma forma que ocorreu com Ostia, Fábio Seixas percebeu que vender camisetas customizadas, do jeito certo, era um negócio promissor. Ele e o amigo Rodrigo David já sabiam o que fazer: assim como fizeram alguns sites que hoje são sucesso na internet, exemplo do YouTube e do Wikipedia, eles contariam com as ideias e sugestões dos internautas para criar seus produtos. Mas para que isso fosse possível, era preciso colocar o site no ar e isso implicava em recursos, algo que os dois não tinham. “Precisávamos de cerca de R$ 30 mil para o investimento inicial, mas contávamos apenas com R$ 7 mil”, foi aí que a criatividade definiu o destino dos empreendedores: eles criaram uma espécie de pré-venda promocional, que foi feita quatro meses antes do lançamento do site, batizado de Camiseteria. “Os amigos podiam comprar um CD com a apresentação do projeto da empresa e que dava direito a cinco camisetas. Eu chamo essa forma de levantar capital de financiamento criativo”. A opção dos empreeendedores deu à empresa a liberdade de crescer sem se atrelar a qualquer dívida e, de quebra, foi possível testar se o produto se adequava ao mercado. “Nós já tínhamos clientes antes mesmo do site nascer”, conta Seixas.E como a ideia de contar com “cliente colaboradores” funciona? Simples, qualquer pessoa pode enviar desenhos ou frases bacanas para serem estampadas nas camisetas. Estas são publicadas no site para passar pela aprovação dos usuários. Caso a ilustração ou frase seja bem aceita pelo público, o criador ganha R$ 1.300 e mais R$ 500 por cada reedição da estampa. “Com isso, além de ter a chance de produzir uma camiseta que já tem aceitação, pois foi eleita pelos usuários do site, ainda conseguimos produtos originais, que fogem do comum do que está na moda”, afirma o empresário. Feminina sim! Há quem pense que a camiseta é uma peça mais masculina do que feminina, afinal as mulheres preferem sempre uma “blusinha” ou um visual um pouco mais elegante, correto? Na verdade não. Prova disso são os modelos pra lá de criativos e delicados criados pela Eico Camisetaria, das sócias Luciana Spadaccia e Luciana Fujii. A sintonia das empresárias, vai além dos nomes em comum. A parceria funciona muito bem pois Spadaccia tem grande experiência em confecção e Fujii em arte — todas as estampadas são criação dela. As peças, que atingem em cheio o gosto feminino, são mais artesanais e fogem do que Luciana Spadaccia chama de “ditadura da moda”. Na opinião dela, a globalização atrapalhou, e muito, o setor têxtil. “Nada mais é original. Lança-se uma coleção na Europa e dias depois estão vendendo modelos semelhantes mundo afora. São poucas as pessoas que criam algo diferente, a maioria segue o que ‘se está usando’”, afirma. Para fugir dessa “mesmice”, as sócias fazem muita pesquisa para sempre buscar novidades no mercado, de novos tecidos à novas estampas. “Tudo o que produzimos é desenho exclusivo da Eico. Prezamos por produtos de modelagem simples, de alta qualidade e, acima de tudo, confortáveis”, afirma a empresária. Mas nem tudo são flores no ramo das empresas especializadas em camisetas. “Com as margens apertadas e a matéria-prima cada vez mais cara, este segmento têxtil já não é tão lucrativo quanto antes”, afirma Alexandre Mello, professor do Instituto Nacional de Pós-Graduação (INPG). Outro problema apontado pelo docente é que não há uma padronização nacional do ramo, portanto, você pode ficar muito bem usando uma camiseta tamanho M de uma determinada marca, mas de outra este tamanho pode ficar grande demais. “Todos os anos o segmento fala em padronizar, mas a proposta não avança por falta de acordo entre as partes”, lamenta. Estudos realizados pela Associação Brasileira do Vestuário (Abravest) garantem que a padronização das medidas poderia gerar uma economia de até 8% para a indústria na compra das matérias-primas (tecidos). “Já no varejo, cairiam os custos para conferência interna do tamanho das peças e as trocas de roupas por parte do consumidor final, principalmente aquelas realizadas online”, destaca o professor Mello.      

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