Índices de violência caem nas regiões que adotaram o Programa Vizinhança Solidária, em Campinas
Os soldados Matheus Mourão e Beatriz Guerrero, da 2ª Companhia do 35º Batalhão, durante visita em bairro que integra o programa: aproximação (Matheus Pereira)
Os índices de crimes na região Centro-Leste caíram, em média, 59,4% desde o começo da implantação do Programa Vizinhança Solidária (PVS), em meados de 2015. A modalidade roubo de veículo foi a que registrou a maior queda, com 66,5%. Em 2015 foram registrados 149 roubos nos bairros dessa região. No ano passado, caiu para 50, segundo dados da 2ª Companhia da Polícia Militar (PM). Em seguida aparecem os furtos, com queda de 58,2%. Dos 541 notificados em 2015, passaram a 226 em 2017. Os homicídios tiveram queda de 50%, com quatro casos em 2015, e dois no ano passado. O capitão da 2ª Companhia da PM, responsável por essa região, Argeu Alencar da Silva, credita a redução nos índices ao envolvimento dos moradores e a aproximação da polícia com a população, exatamente um conceito de solidariedade e maior engajamento que faz toda a diferença . A região Centro-Leste é composta por ao menos 29 bairros, sendo que aproximadamente 13 deles já contam com o PVS. Entretanto, nem todos os moradores destes bairros ainda aderiram ao programa de segurança. Apesar de ser tímida a participação, hoje há cerca de 30 ruas que contam com moradores que atuam ativamente do projeto. Onde os moradores fazem parte, há uma placa de identificação do PVS. Além de receberem periodicamente a visita de policiais militares, eles participam de grupos de WhatsApp e chamam a polícia quando há um risco iminente. Também contribuem para solucionar problemas que não estão ligados a criminalidade como buracos em rua, iluminação, mato em terrenos entre outros. “O interessante do Vizinhança Solidária é que temos que fazer nosso papel de cidadão. Não é esperar que a polícia faça tudo. Somos nós, moradores, os responsáveis por fazer a jardinagem, cuidar da poda de árvores para melhorar a iluminação no bairro. Segurança pública envolve tudo”, disse o integrante da Associação do Condomínio e Moradores do bairro Gramado (ACMBG) e do Conselho de Segurança local (Conseg), Helder Gusmão Lopes. O primeiro bairro desta região a adotar o PVS foi o Jardim Paraíso, seguido do Bosque e Proença. Atualmente até moradores do Jardim Paranapanema já fazem parte. “Estamos preparando a inclusão de cerca de 40 condomínios na região do Parque Gramado”, disse o capitão Argeu. De acordo com Lopes, um dos responsáveis por levar o PVS nos condomínios, está sendo preparada a placa de identificação para ser afixada nos imóveis e a expectativa é que ainda neste ano todos os moradores já estejam inseridos no trabalho de vigilância. “Está sendo envolvido não só os moradores dos condomínios, mas também os que residem no bairro e os comerciantes”, contou. A associação do condomínio Parque Gramado passou a fazer parte do PVS depois que o local registrou em um curto espaço de tempo do segundo semestre do ano passado nove roubos. Na época, assustados, os moradores buscaram ajuda das polícias Militar e Civil para ajudarem a combater o crime. Ao menos dez criminosos foram identificados e presos por policiais civis do 10º Distrito Policial (DP), responsável pela região. “Ações pontuais em identificar e prender os autores são parte da segurança pública realizada pela Polícia Civil. Também é importante para não só fazer justiça, mas para tirar os ladrões da rua”, disse o chefe de investigação, Marcelo Hayashi. Segundo Helder, na ocasião, a segurança era exclusiva do condomínio e a polícia quase não tinha acesso ao local. Com as ocorrências, os moradores passaram a buscar a ajuda dos policiais, tanto civis como militares, que hoje são bem recebidos por lá. “Recebemos orientações da polícia em como resolver certos problemas, como por exemplo, o levantamento da copa de uma árvore para melhorar a iluminação. Além disso, passamos a conhecer o Vizinhança Solidária e hoje, um vizinho ajuda o outro e cuidam da segurança local”, falou Lopes. “O Vizinhança Solidária é importante para a prevenção. Pois só em sociedade, nos vigiando, é que conseguiremos evitar os crimes”, frisou Hayashi. Troca de informações De acordo Helder, desde que o PVS passou a ser divulgado entre os condomínios locais, passou a existir uma troca de experiências. Hoje, os moradores promovem ações que são realizadas por eles como por exemplo, até a coleta de fezes de cachorros, velocidades de carros nas vias e outros. “A principal importância do Vizinhança Solidária, é a segurança primária. Sem contar que através dela é estabelecido contato entre vizinhos, que moram 20 ou 30 anos, na mesma rua e não se conhecem. A partir do momento que o morador passa a saber quem é seu vizinho, ele passa a se preocupar com aquela pessoa”, frisou o capitão Argeu. Para garantir o sucesso do PVS na região, há dois meses foram designados os soldados da PM Beatriz Guerreiro e Matheus Mourão para fazer as visitas e ajudar os moradores que fazem parte do programa. Eles trabalham de segunda a sexta-feira, em horário de expediente e às vezes alternam para a noite, para conseguir contato com os moradores que não são encontrados em casa durante o dia. De acordo com os policiais, de cada 12 moradores visitados por dia, cinco são localizados. “É muito bom esse contato com os moradores. Já tem alguns que até nos conhecem. Sem contar que muitos moradores nos indicam a outros que não sabe como funciona o programa”, disse Mourão. Durante as visitas, os policiais coletam todo tipo de reclamação, inclusive a maioria delas é registrada automaticamente e enviada ao órgão responsável.