MOACYR CASTRO

Avião não é bonde

02/06/2013 às 05:00.
Atualizado em 25/04/2022 às 14:10

Que fique bem claro: é inútil cavoucar o chão que vai ao aeroporto de Viracopos, porque pra lá nunca houve linha de bondes. Por isso, nada a ver mudar o nome sagrado desse campo. No Universo, o único lugar onde paralelas se encontram, como os trilhos de Campinas, só pode ficar em Pedregulho – se não for lenda urbana. Mas se pode dar o nome da mãe de certo elemento de ruidosa ictiofauna ao bairro ou rua das suas meninas de vida fácil – se elas não se ofenderem.

Na semana que passou, nosso aeroporto cumpriu mais uma missão do seu destino pioneiro, honrando a cidade onde estudou o pioneiro da aviação. Desceu aqui, para descrição da repórter Teresa Costa (terror dos medíocres), um Jumbo Boeing 747-8F, o maior cargueiro do mundo a entrar no Brasil, por Campinas, claro. Não foi o primeiro. Os russos escolheram Viracopos para recepcionar pioneiramente seu Antonov, então o maior, no dia 14 de agosto de 1992. Vinha para levar foguetes da indústria bélica do Vale do Paraíba para a Arábia. (Xiii, Beto Godoy! Contei, será que vai dar rolo?)

Ilustres 140 passageiros também foram apresentados ao cartão de visitas do Hemisfério Sul em voos inaugurais para este País. O primeiro Jumbo aqui chegou com eles a 24 de março de 1971. Era da Lufthansa: sobrevoou o Rio, mas preferiu Campinas para escapar das balas perdidas e das drogas. A bordo, dois grandes jornalistas: o mesmo Roberto Godoy, pelo Correio, e José Aparecido T. Miguel, do Diário do Povo.

Foi outro dia de glória aquele 14 de setembro do mesmo 1971. No Brasil, o Concorde só tinha espaço e céu limpo em Viracopos. Quinta-feira, liguei para um repórter que cobriu aquele voo, o Francisco Arouche S. Ornelllas. Atendeu a mulher dele, elegante Nanci, e a conversa foi assim:

- Você sabe onde o Chico estava no dia 14 de setembro de 1971?

-- Ah, então ele teve despedida de solteiro, né?

-- Que nada! Testemunhava o primeiro pouso do Concorde em Campinas. Ele e o fotógrafo Arnaldo B. Fiaschi.

E 'seo' Roberto Godoy, puro-sangue que só ele, descobriu que o comandante era André Turcat, herói da II Guerra, contemporâneo de Saint-Exupéry, piloto de Charles De Gaulle e de testes dos primeiros Mirage. Campinas não é à toa. Como dizia a filha da minha avó, “até sozinho, político está mal acompanhado”.

Pregado no poste: “Um cenário tão importante da história não pode levar nome de político”

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