outubro rosa

Avanços nos tratamentos

Uma nova geração de terapias orais e a medicina personalizada são a última palavra no câncer de mama

Daniela Nucci
15/10/2019 às 14:18.
Atualizado em 30/03/2022 às 11:07

Nos últimos anos, novas estratégias terapêuticas foram desenvolvidas para o tratamento de diferentes tipos de câncer de mama. Considerada revolucionária, a imunoterapia, aprovada neste ano pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), faz parte desse conjunto de novas opções terapêuticas. Outro dos avanços é a individualização do tratamento contra a doença, fator chave para maior comodidade e segurança no processo de cura dos pacientes. “Para o câncer de mama conhecido como triplo negativo, que representa cerca de 15% dos casos, a associação de imunoterapia à quimioterapia melhorou muito os resultados do tratamento pré-operatório. São mais respostas que geram a expectativa de aumentar também as chances de cura para tumores com expressão de receptores hormonais, há a opção da associação de inibidores de ciclinas à hormonioterapia convencional. Essa combinação demonstrou também melhorar a resposta em pacientes com doença metastática, e aumentou a expectativa de vida de forma muito importante”, explica André Deeke Sasse, oncologista, professor de pós-graduação na FCM-Unicamp, membro titular da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO) e da Sociedade Europeia de Oncologia (ESMO), além de fundador do Grupo SOnHe – Sasse Oncologia e Hematologia, que atua na oncologia do Hospital Vera Cruz, do Instituto do Radium e do Hospital Santa Tereza. É também coordenador da Oncologia Clínica do Hospital PUC-Campinas e faz a preceptoria dos residentes do hospital. Segundo Sasse, para tumores com expressão de receptores hormonais, há a opção da associação de inibidores de ciclinas à hormonioterapia convencional. “Essa combinação demonstrou também melhorar a resposta em pacientes com doença metastática, e aumentou a expectativa de vida de forma muito importante”, afirma. Por isso, a individualização do tratamento é fundamental. “A paciente com câncer de mama precisa saber de que tipo é o seu tumor, e quais as opções de tratamento que tem”, ressalta o oncologista. Hoje em dia, um mesmo tipo de câncer possui um subdiagnóstico específico, alerta o especialista. “Fazendo uma analogia, o câncer possui nome e sobrenome e não há mais espaço para não entender em detalhe o tipo de câncer que acomete o paciente. Como exemplo, o câncer de mama, a paciente obrigatoriamente precisa saber qual tipo ela tem, através de exames anatomopatológicos feitos de parte do tumor para que assim o plano de tratamento seja desenhado e individualizado especialmente para a paciente. A medicina personalizada é baseada nas características do tipo de câncer que acomete o paciente”, diz. Durante o mês de outubro ações de conscientização sobre o câncer de mama são feitas em todo mundo. Conhecido como Outubro Rosa, o movimento acontece anualmente, desde 1990, com o objetivo de compartilhar informações e promover a conscientização sobre a doença e proporcionar maior acesso aos serviços de diagnóstico e tratamento. De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (INCA), o Brasil somará aproximadamente 60 mil novos casos de câncer de mama em 2019. O número corresponde a 28% de todos os diagnósticos da doença registrados no País. Este tumor é o mais incidente entre as mulheres depois do câncer de pele-não melanoma. Alto custo é principal desafio O acesso ao tratamento da imunoterapia ainda é bastante limitado, porque o preço a se pagar é muito alto. “Da mesma forma, identificar quais os casos que irão responder antes de se iniciar o tratamento seria interessante. Principalmente, para evitar falsas esperanças e também evitar gasto financeiro em casos em que o tratamento de altíssimo custo pode ser ineficaz”, diz Sasse. “Muitos estudos estão sendo conduzidos em diferentes estágios da doença e também tentando identificar algum marcador de eficácia do tratamento. Para selecionar aquelas pacientes que realmente terão benefício real”, diz Sasse. Prevenção e riscos Pesquisas epidemiológicas identificaram condições particulares de cada pessoa que aumentam a chance de desenvolver câncer de mama. “Vários destes fatores como hereditários e reprodutivos não podem ser alterados. Outros ambientais e comportamentais podem e devem ser mudados. A reposição hormonal, a ingestão de bebidas alcoólicas, o excesso de gordura corporal, o tabagismo e a exposição à radiação ionizante em tórax são fatores que aumentam o risco de câncer de mama e devem ser evitadas. Já a atividade física regular moderada e a amamentação são comportamentos protetores”, diz Susana Ramalho, especialista em oncologia clínica pela Associação Médica Brasileira e Sociedade Brasileira de Oncologia. Ela também é mestre em Oncologia Mamária e doutora em Oncologia Ginecológica pelo Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher (Caism) da Unicamp, além de ser preceptora dos residentes de oncologia clínica do Caism. Ela destaca que o exame de mamografia é o recomendado anualmente como rastreamento (ou seja, se você não tem nenhum sintoma), a partir dos 40 anos de idade. “Se realizada entre 40 e 74 anos diminui de 15% a 20% a mortalidade por câncer de mama. É importante ressaltar que a mamografia não é 100% eficaz, ela identifica lesões de crescimento lento e também detecta nódulos e lesões tanto benignas quanto malignas”, afirma Susana. Aliada à mamografia, a ultrassonografia avalia lesões palpáveis e lesões em mamas jovens e é usada para guiar biópsias. E o autoexame é hoje recomendado como um exame de autoconhecimento. “Faça quando se sentir confortável: no banho, no momento da troca de roupa ou em outra situação do cotidiano, sem recomendação de técnica específica. Valorize a descoberta casual de pequenas alterações mamárias e conheça a saúde de suas mamas”, orienta Susana. Força e fé “Hoje posso dizer que com 50 anos pareço mais nova do que com 30”. É com essa vibração positiva que a dentista Cynthia Almeida encara seu tratamento do câncer. Há 16 anos, Cynthia descobriu um nódulo no banho quando passou a mão no seio direito. “Ele tinha 3 centímetros e era considerado grande e raro para mulheres da minha idade na época”, relembra a dentista. A evolução do tumor foi rápida e toda a mama precisou ser retirada. “Fiquei exatamente 1 ano e 15 dias sem a mama até conseguir fazer a reconstrução”, conta. Porém, após três anos, Cynthia precisou encarar outro desafio. “Descobri uma metástase óssea na L5 e precisei mudar meu tratamento. Tive que remover os ovários e trocar a medicação. Em 2014, descobri uma nova metástase óssea agora no oitavo arco costal direito e a forma de tratar foi removendo essa costela. Agora meu tratamento segue com controle”, diz. Considerada o pilar da família, precisou ter mais força que os entes queridos para encarar tudo com muita determinação e, principalmente, fé. “Foi um susto, pois ninguém tinha tido algo assim na família. Sou filha única, solteira e todos se preocuparam com minha reação. Mas existe em mim uma força tão grande, uma vontade de viver tão intensa, que superei tudo tão bem. Não foi fácil, nunca é, o diagnóstico te pega e te tira do chão, mas nesse momento existem dois caminhos... Lutar ou desistir. Para mim, desistir nunca foi opção”, afirma Cynthia.  “Tive o apoio de todos, mas confesso que sempre fui o centro, se eu caia todos caíam, o que é normal, às vezes a gente cansa, mas nunca desisti. Tinha certeza que iria passar por isso , que não era o fim da minha vida, era o começo de uma nova fase, de um novo ciclo. Ainda estou em tratamento, ainda tomo medicação diária, mas é como tomar remédio pra pressão”, conta. “Acredite na sua força interior, na sua fé, seja ela qual for, acredite que você está recebendo apoio, você está ganhando força pra seguir e superar, viver um dia de cada vez e viver intensamente cada dia. Saiba que existem muitas mulheres que já passaram por isso, que podem ser apoio e exemplos a serem seguidos”, aconselha a dentista. “A maneira como olhamos para a situação, como enfrentamos nosso medo faz toda diferença no tratamento e no seguir o caminho”. Segurou a onda Há 11 anos, a empresária Maria de Lourdes, 58 anos, descobriu o câncer de mama na praia ao ver uma mancha vermelha ao lado do mamilo direito. “Não fiquei apavorada porque tinha feito uma mamografia há uns meses, mas reparei que foi aumentando. Quando saiu o resultado, o câncer estava avançado, no último grau. Fiquei apavorada e chorei por uns cinco dias sem falar nada pra ninguém. Perguntei para a médica se viveria por mais dois anos. Ela disse que se não fizesse o tratamento não chegaria nem no final do ano. Deixei ela me salvar”, recorda a empresária. Apesar de perder o cabelo e encarar o tratamento durante um ano, Maria sempre manteve a animação. “Tinha muitos amigos e parentes ao meu lado, mas tudo depende mesmo é da gente. Tem que ser firme, forte e ter confiança. Tive a sorte de pegar uma equipe médica excelente também. Hoje, estou curada e, a cada seis meses, faço meus exames de acompanhamento“, diz a empresária, que precisou retirar a mama direita e colocou silicone. “Passar por essa cirurgia não é fácil para a mulher, mas a cabeça analisa várias coisas e temos que viver com essas limitações. Hoje vivo normalmente e estou mais forte e determinada que antes. Dou mais valor à vida e nunca parei de trabalhar, sair, ter amizades, viver com alegria e com trabalho, não tenho vazio e nem depressão”, comenta Maria. “O meu médico, o doutor Sasse, é um anjo na minha vida. Por isso é importante se cuidar e sempre fazer a mamografia e qualquer dúvida procurar um médico de confiança. Hoje a medicina está bem avançada e temos ótimos médicos nessa área. Tem que ter fé e fazer o tratamento direitinho que tem resultado”, conta. Fisioterapia no câncer de mama Boa parte das mulheres que sofrem com a doença desconhecem, mas a fisioterapia no tratamento pós-operatório se mostra extremamente eficaz, tanto quando ocorre a retirada do quadrante quanto na retirada total da mama. Conforme explica a fisioterapeuta do Instituto Mood, Cristiane Melo, especialista em saúde da mulher pelo CAISM/UNICAMP, a fisioterapia atua na prevenção, manutenção e recuperação de alterações decorrentes que possam se desenvolver durante o tratamento oncológico, como edema, aderências cicatriciais, diminuição da amplitude do movimento, neuropatias, seroma e linfedema. “Existem as mulheres que passam pela fisioterapia e as que não, porque muitas vezes nem sabem que existe. Eu, por exemplo, trabalho com um mastologista que em praticamente todas as cirurgias que ele faz, já encaminha. Quem não faz a fisio pode ficar com o movimento um pouco restrito e, ao procurar tardiamente, o tratamento se torna mais lento, porque desenvolve fibrose, é mais difícil voltar ao normal”, disse. O tratamento é feito com terapia manual, drenagem linfática e mobilização. Não é possível definir quantas sessões são necessárias, mas a fisioterapeuta explica que é uma média de 10 sessões no pós-operatório imediato. Já no tardio, depende muito da situação em que o paciente se encontra.

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