PONTO DE VISTA

Autonomia e independência

Ninguém é absolutamente independente em todas as tarefas, mas qualquer um pode ser autônomo

Fabiana Bonilha
13/05/2016 às 16:37.
Atualizado em 23/04/2022 às 00:37

Recentemente, eu assisti a uma excelente palestra proferida por uma terapeuta ocupacional, e durante sua explanação, ocorreu-me a seguinte pergunta: "Qual a diferença entre independência e autonomia?" Ergui a mão e pedi a palavra para apresentar esta questão, que foi respondida com muita precisão e propriedade pela palestrante. A resposta me deu o que pensar, e antes de expor o meu entendimento sobre ela, começo este breve ensaio pela conclusão que extraí acerca do tema. Ninguém no mundo é absolutamente independente em todas as tarefas que realiza, mas qualquer pessoa pode ser completamente autônoma em tudo o que faz. Qualquer um pode, inclusive, ter autonomia para decidir se quer ou não ser independente. Ocorre que, segundo o conceito exposto na palestra, independência é a nossa capacidade de cumprir uma tarefa sem auxílio, enquanto que autonomia se refere à nossa capacidade de pensar, de escolher e decidir o modo pelo qual iremos realizar uma determinada ação. A meu ver, a autonomia está relacionada ao nosso movimento interno, aos nossos pensamentos e sentimentos diante dos desafios, ao passo que a independência se relaciona à nossa ação externa, à nossa habilidade prática de agir frente às demandas que recebemos. Para quem tem alguma deficiência, pensar sobre estes dois conceitos é muito importante, pois frequentemente eles se confundem, o que gera equívocos em relação ao entendimento sobre nossas limitações. O fato de pedirmos ajuda para a realização de certas tarefas denota nossa dependência, mas não suprime nossa autonomia. Podemos decidir o modo como queremos pedir ajuda ou para quem pedir auxílio, ou podemos simplesmente escolher não realizar a tarefa. Ao contarmos com o apoio de acompanhantes somos capazes de orientá-los quanto à forma de proceder, e indicar quais são exatamente nossas necessidades, sem que eles, por iniciativa própria, ajam de modo contrário ao que queremos. Como pessoas autônomas, diante de uma situação em que recebemos auxílio, podemos coordenar as ações daqueles que nos prestam apoio. Nós que temos deficiência visual contamos com muitos pares de olhos em nosso dia-a-dia, os quais enxergam por nós o que não podemos ver. Mas somos nós que direcionamos seus olhares e apontamos para aquilo que precisamos enxergar. Penso ser crucial abordarmos este tema pois percebo que o fator independência fica muito evidente na vida das pessoas que têm uma deficiência. Sinto que infelizmente nós que temos esta condição somos bastante cobrados a desenvolver tal qualidade, e somos lamentavelmente avaliados ou medidos pelo grau que dela dispomos. Suponho que se discriminarmos os dois conceitos aqui relatados, poderemos ter mais respaldo para que nossas limitações sejam melhor compreendidas e para que sejamos tranquilamente dependentes ao realizarmos certas atividades. O direito à dependência é aliás um aspecto da autonomia. Ela nos faz livres para superarmos os limites que possuímos na medida de nosso desejo e de nossas possibilidades.

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