A tensão cresce na Venezuela na medida que Nicolás Maduro aumenta seu isolamento dentro e fora do país. Dado o volume de acontecimentos que se precipitaram desde 2 de janeiro, quando o presidente da Assembleia Nacional, Juan Guaidó, fez o juramento diante de milhares de pessoas como presidente encarregado da transição, cresce a expectativa interna e externa de que o ditador venezuelano está em seus últimos dias como governante. Há um claro apoio popular. Multidões tem tomado as ruas das cidades, o reconhecimento internacional – com Estados Unidos, o Grupo de Lima, o Parlamento Europeu e os países mais influentes da União Europeia – e a surpreendente união que demonstra a oposição em torno da figura de Juan Guaidó. Todos esses fatores estão sendo úteis a essa liderança como base para lançar sua plataforma de três pontos: cessar a usurpação de Nicolás Maduro, governo de transição e eleições livres. Esse programa mínimo tem isolado Maduro e submetem os militares a inúmeras pressões para que se coloquem ao lado da Constituição e do povo. As sanções impostas pelos norte-americanos permitiram que Juan Guaidó passe a controlar os ativos, bens e propriedades do governo venezuelano em contas bancárias nos Estados Unidos. Essas medidas foram um duro golpe ao regime de Nicolás Maduro e acrescentam-se àquelas que vem sendo adotadas por governos europeus construindo um cenário inédito e favorável à oposição venezuelana. Para se ter uma ideia da dimensão das sanções, pelo menos 80% do total das divisas que a Venezuela recebe foram bloqueadas. O regime de Maduro não tem como obter as mesmas divisas com a venda de petróleo para outros países. China e Rússia que apoiam a ditadura importam petróleo venezuelano, mas o pagamento é feito na forma de abatimento nas dividas contraídas por Maduro com essas nações. Sem as divisas do petróleo vendido aos Estados Unidos não há dinheiro para financiar o gigantesco aparato burocrático de governo e os alimentos subsidiados que são distribuídos entre seus apoiadores. Devido a isso o regime está vendendo toneladas de ouro de suas reservas. Neste ano foram 15 toneladas comercializados com os Emirados Árabes. Em troca recebe euros em espécie para financiar suas atividades. Denúncias da Assembleia Nacional revelam que Maduro vendeu 73 toneladas de ouro aos Emirados Árabes e à Turquia em 2018 sem ter cumprido os procedimentos legais. Em fevereiro de 2016, com o risco de sanções por parte dos Estados Unidos, Maduro resolveu investir mais pesadamente na extração de ouro. Decretou o Arco Mineiro do Orinoco (AMO) como zona de desenvolvimento estratégico nacional e dai em diante a extração ocorre de forma intensiva e sem as medidas adequadas de proteção ao meio ambiente. Países como a Rússia e a China ampliaram, desde então, sua presença em empresas mistas de extração de ouro com participação do governo. Sensíveis ao aumento da pressão, diplomatas e funcionários venezuelanos nos Estados Unidos e em outros países, tem manifestado apoio a Juan Guaidó em número crescente. Não há dúvida que as sanções contra a Venezuela criam um estrangulamento financeiro e debilitam o regime chavista. Ocorre que quanto mais acuado, mais aumenta a repressão por parte do regime Maduro, repetindo-se as cenas de brutalidade por parte de policiais e paramilitares. Essas ações de violência explícita indicam que o regime Maduro está na defensiva. No entanto, embora estejam cada vez mais favoráveis as condições para a queda do ditador em favor de uma transição democrática, ainda falta um posicionamento dos militares em favor a Guaidó. A dificuldade maior vem do alto escalão militar, que mantém inúmeros negócios na economia venezuelana. Controlam a empresa petrolífera – PDVSA, mantém várias concessões de mineração e são responsáveis pela distribuição de alimentos. Além disso, muitos deles tem envolvimento com o narcotráfico e a corrupção, tornando mais difícil seu abandono a Maduro. Mas há sinais indicando a possibilidade de ruptura nas forças armadas, principalmente a Guarda Nacional. Há setores da oficialidade jovem que demonstram simpatia por mudanças, contrariando a cúpula militar. É a essa oficialidade que Guaidó tem dirigido seu discurso e apela para que promovam ações concretas de apoio, como por exemplo permitir a entrada de ajuda humanitária.