MEMÓRIA ||| PERSONAGEM

Atis, uma lenda na Ponte Preta

Considerado um dos maiores talentos da história do clube, ex-jogador relembra sua trajetória

21/11/2014 às 05:30.
Atualizado em 24/04/2022 às 01:36

[TEXTO]Aquela partida ficou na memória dos pontepretanos. A Macaca sapecou uma goleada no maior rival, o Guarani, e levantou a taça do torneio. Os dois times de Campinas venceram o Bangu e decidiram o triangular no Majestoso. Lá em 52, a Ponte tinha um timaço. O goleirão era o Ciasca. No ataque, tinha o Sabará, que depois faria sucesso no Vasco. Mas, naquela tarde de julho, quem brilhou mesmo foi o meia Atis, autor de três gols da alvinegra na vitória por 4 a 1. E a exibição de gala não foi por acaso. O moço gastava a bola. “O maior talento de todos os tempos na Ponte Preta”, escreveu o jornalista Zaiman de Brito Franco, em um livro de memórias sobre a cidade. É, o rapaz ficou famoso. Daqui, foi vendido para a Portuguesa em 53 e jogou ao lado de monstros sagrados da bola, como o lateral Djalma Santos e o ponta Julinho Botelho. No ano seguinte, gastou a bola no Fluminense, que tinha Castilho no gol e Telê na ponta. Ê, tempo bom, com mulherada linda na praia e torcida lotando o Maracanã. O meia campineiro chegou a ser convocado para a Seleção Brasileira naquela temporada, e tinha tudo para fazer uma carreira brilhante. Internacional até, como a de muitos contemporâneos seus. Mas não fez. O rapaz tinha 24 anos quando resolveu voltar para Campinas e abandonar a chuteira.Hoje, Atis Monteiro tem 82 anos. Mora em uma casa térrea ali na Sampainho, e guarda nas gavetas recortes de jornal, álbuns de figurinhas e diversas fotografias. É, o homem continua respirando futebol. Mas por que ele abandonou tão cedo os gramados? O ex-meia conta que — desde aquele tempo — jogador de futebol era mercadoria para cartola ganhar muito dinheiro. Em diversos momentos, conta, ouvia falar de negociatas, resultados negociados, interesses impublicáveis. E o jovem, que tinha um bom dinheiro guardado, achou que não precisava engolir desaforos. Nem ser explorado por gente que queria ganhar dinheiro no mole. De volta, começou a fazer negócios com imóveis, fundou empresas. Se casou aos 26 anos de idade com Marisa. Nunca mais saiu do velho e bom Cambuí, onde nasceu. O homem recebe a reportagem em casa. É um daqueles imóveis com cômodos amplos, mobiliário antigo, pisos e azulejos que a gente não vê mais por aí. Lar que ele adora. E que só não é perfeito como antes porque a esposa Marisa se foi há quatro anos. Mas os seis filhos, os sete netos e os dois bisnetos não saem dali, para sua felicidade. Atis fala saudoso do bairro inesquecível da infância. Filho de um importante professor de latim, Coriolano Moraes Monteiro — “catedrático, concursado, muito bem pago”, brinca —, Atis cresceu em um lar estruturado. Nadava no Regatas, por exemplo. Na época, piscina era lazer de gente abastada. Aquele, lembra, era o Cambuí dos córregos, quintais, das quadras e campinhos. E foi em um daqueles jogos, com a garotada do bairro, que Atis foi “descoberto” pelo olheiro Ernesto Bellucci, e acabou indicado para disputar o campeonato municipal de futebol amador pelo Corintinha, no finalzinho dos anos 40. Dali para a Ponte, foi um passo. “É, sou do tempo em que os clubes caçavam talentos na várzea”, lembra. Entrou no juvenil da Macaca e se profissionalizou em 52. Ano, aliás, do dérbi consagrador.“A rivalidade entre as torcidas era divertida demais. Bom, eu marquei três gols no dérbi. No dia seguinte, quando o pontepretano se encontrava com o amigo bugrino, ele fingia que estava espirrando sem parar: atischin, atischin, atischin. Era uma brincadeira com o meu nome, só pra provocar”, diz. Ah, o dérbi. Este sempre foi, na opinião do Atis, o grande patrimônio do futebol campineiro. Claro, claro, ele está muito feliz de ver a Ponte de volta à Série A. Mas confessa que ver o rival em crise é uma tremenda frustração. “Não é bom para a Ponte que o Guarani esteja na Série C”, fala. [/TEXTO] NO MAJESTOSO MudançasObrigado a fazer mudanças no time, o técnico Guto Ferreira começou a definir ontem a Ponte Preta que vai enfrentar o América-MG, amanhã. Serão dois desfalques certos. O atacante Alexandro cumpre suspensão, enquanto o lateral-esquerdo Bryan não pode atuar por pertencer ao clube mineiro. Sem um especialista na posição, o treinador improvisou Juninho e promoveu a entrada de Adilson Goiano no meio.

Assuntos Relacionados
Compartilhar
Correio Popular© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por