A sensação de insegurança que tomou conta do campineiro nos últimos meses tem razões objetivas. A escalada dos números mostrada nas estatísticas policiais é significativa. Não deixa dúvidas sobre o avanço das quadrilhas. Os dramas familiares das inúmeras vítimas da violência formam o retrato mais doloroso dessas planilhas. A impunidade, por outro lado, tem peso considerável, afinal, é um sentimento compartilhado por boa parte dos cidadãos diante do descompasso entre o delito e a punição. O sistema penal ineficiente e a morosidade da Justiça são elementos cruciais para essa percepção, reforçada pela falta de estrutura da polícia, que impede uma rápida solução para os crimes.
Além dos casos de motivação banal que deixaram um rastro de dor, vários outros episódios contam com ingredientes de pura crueldade. É o que se pode dizer da ação de ladrões no km 90 da Rodovia Anhanguera, em Campinas, próximo à entrada do condomínio Swiss Park, em reportagem mostrada na edição da última quarta-feira no Correio. Trata-se de uma nova versão da chamada “gangue da pedrada” da Rodovia Santos Dumont. Desta vez, o arsenal usado pelos assaltantes incluem caibros pesados de madeira, além de blocos de concreto.
É de se imaginar a cena. Do alto do viaduto, bárbaros, provavelmente jovens, atiram essas armas para forçar um acidente ou pelo menos obrigar a que o motorista estacione o carro para verificar a avaria na lataria ou no pneu. É o bote para o assalto.
A questão, porém, é que perícia técnica do Instituto de Criminalística (IC) comprovou que pelo menos dois carros capotaram naquele trecho após lançamento desses objetos na rodovia, uma ação que provocou três mortes no mês passado.
Desnecessário lembrar que tratou-se de assassinatos premeditados, com hora e local determinados. O Código Penal prevê pena mínima de 12 anos para o homicídio doloso, aquele em que há intenção de matar. Impossível não considerar essa hipótese na atitude criminosa, levando em conta a velocidade de um carro numa rodovia como a Anhanguera.
Não há conforto possível para a dor dessas famílias usando apenas palavras, mas espera-se atitude da Polícia Militar Rodoviária para prender a gangue, iniciativa da concessionária AutoBAn para fiscalizar o trecho, agilidade da Polícia Judiciária para investigar os crimes e rapidez da Justiça para impor uma pena compatível à barbárie perpetrada por esses monstros do viaduto.