opinião

As sequentes crises no Governo seriam uma estratégia?

Reinaldo Dias
15/05/2019 às 14:48.
Atualizado em 03/04/2022 às 21:57

O governo Jair Bolsonaro parece estar mergulhado em crises que se avolumam. Algumas herdadas de administrações anteriores e outras criadas por ele mesmo ou por seus aliados mais próximos. A mais evidente é a crise permanente resultante da disputa entre o grupo orientado por Olavo de Carvalho, do qual são expoentes o próprio Bolsonaro e seus filhos e o grupo formado pelos militares que ocupam cargos no governo.  Os olavistas provocam o tempo todo pelas redes sociais e parecem estar em guerra permanente com os militares. Do exterior, Olavo de Carvalho desfere golpes duros e, em geral, de baixo nível contra os principais expoentes da caserna. Sua principal vítima é o vice-presidente General Mourão a quem acusam de adotar uma postura alternativa a Jair Bolsonaro, contrapondo-se a ele em diversas matérias e dialogando com múltiplas correntes políticas, inclusive da oposição. Para um governo que está apenas começando essa luta aberta pelo poder não contribui para a governabilidade o que vem sendo demonstrado pelas sucessivas derrotas no Congresso e a dificuldade na votação da reforma da previdência que só caminha devido ao esforço do presidente da Câmara Rodrigo Maia e da equipe do Ministro Paulo Guedes, particularmente empenhado na sua aprovação. O esforço do presidente Bolsonaro na aprovação dessa matéria fundamental para o país é praticamente nulo, não passando de manifestações públicas pontuais sem efetivo esforço na articulação dos deputados. À primeira vista, as crises provocadas pelo governo parecem não ter lógica, dado o grau de virulência com que se manifestam os olavistas contra os militares, que até o momento mostram uma serenidade surpreendente diante dos ataques. Além disso, dois dos principais Ministros do governo: Sérgio Moro e Paulo Guedes, não tem recebido o apoio esperado em suas iniciativas. Paulo Guedes tem sido deixado praticamente sozinho pelo governo na defesa da reforma da Previdência. E se não bastasse o isolamento imposto pelo Presidente, o ministro é seguidamente contrariado em suas posições pelas manifestações da presidência, como ocorreu quando Bolsonaro afirmou que não existe um valor mínimo de economia com a aprovação da reforma ou ainda quando o afirmou que iria cortar impostos. Há inúmeras manifestações extemporâneas de Jair Bolsonaro desautorizando publicamente pontos de recuperação da economia planejados por Guedes. Do mesmo modo, o Ministro Sérgio Moro vem se mostrando incomodado com afirmações de Bolsonaro em relação à Segurança Pública. O Decreto presidencial que facilita o porte de arma para diversas categorias não recebeu apoio enfático de Sergio Moro, que aceitou a medida com a resignação de subordinado. A manifestação mais grave de Jair Bolsonaro em relação ao Ministro ocorreu recentemente quando declarou que indicaria Moro para ocupar uma futura vaga no STF que deverá ocorrer somente em 2020. Atitude que para os principais formadores de opinião é considerada como fritura do Ministro. Para um observador da cena política parece não fazer sentido que o pilar de sustentação do governo formado pelos militares e os ministros Sérgio Moro e Paulo Guedes sofram esse desgaste logo no início do governo. No entanto, pode ser que haja uma lógica por trás do aparente absurdo dessas crises. Pode ser uma tentativa previamente pensada da extrema direita formada pelos bolsonaristas-olavistas, de assumirem completamente o governo sem alianças que atrapalhem seus planos de formação de um Estado forte baseado no uso da violência como meio de manter o poder e constranger aos opositores. Nesse caso, faz sentido o agravamento da sequência de crises criadas pelo grupo bolsonarista-olavista que tem como principais representantes justamente os filhos do Presidente. A estratégia vai ao encontro do que propõe o expoente da direita Steve Bannon, de articular internacionalmente a extrema-direita com o apoio no Brasil de Flávio Bolsonaro. Seria a vitória da política do quanto pior melhor possibilitando a intervenção mitológica do Presidente Bolsonaro que afastaria no momento oportuno os atores que lhe aprouver. O interessante, mas não menos desastroso para o país, é que a oposição de esquerda radical faz exatamente o jogo desse extremismo de direita, apostando no quanto pior melhor e confirmando o vaticínio da história de que esses extremos se identificam.

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