Dois fatores são determinantes para o fracasso do futebol brasileiro na luta contra a violência das torcidas organizadas. O primeiro é que elas são financiadas, apoiadas e protegidas pelos clubes. Recebem dinheiro, passagens, ingressos, instalações e outros benefícios. É muito fácil crescer assim.O outro motivo é que federações, tribunais esportivos e a justiça adotam medidas completamente ineficazes para “punir” as entidades após incidentes violentos.É inútil “proibir o acesso” de determinada torcida ao estádio. Afinal, não faz nenhuma diferença se um encrenqueiro vai ao estádio com a camisa da torcida ou com outra roupa qualquer.Não faz nenhuma diferença se a arquibancada tomada por arruaceiros tem uma faixa com o nome da facção ou não. Será que ninguém enxerga que o problema não é a faixa?Se os tribunais esportivos cometem o erro de punir de mentirinha, em outras esferas a “estratégia” é semelhante.A Polícia Militar costuma escoltar torcedores violentos nos arredores dos estádios. É um comportamento ridículo, já que uma força de segurança conduz pessoas de comportamento notoriamente inadequado a uma praça esportiva, onde essas mesmas pessoas costumam ofender e agredir torcedores comuns.Descer o cassetete nos confrontos com os mais exaltados pode até ser necessário em alguns momentos, mas se a repressão parar por aí, o efeito será nulo. As torcidas gostam de brigar. Elas marcam confrontos pela internet e se orgulham dos embates com a polícia. Se os transgressores da lei não forem identificados, denunciados, julgados e punidos, a violência só vai aumentar.Outra medida inócua foi tomada, nesta terça-feira, pela PM, que assinou um acordo com a Gaviões da Fiel, no qual a torcida se compromete a não praticar nenhum ato violento no jogo desta quarta-feira contra o Bragantino, no Pacaembu. Que garantia esse acordo dá ao torcedor comum que for ao estádio nesta quarta? Que garantia esse acordo dá à delegação do Corinthians?O futebol precisa agir de modo diferente de tudo o que tem sido feito, sem sucesso, nas últimas décadas.Os clubes precisam romper relações com as torcidas, como já ensaiam fazer Cruzeiro e Palmeiras, por exemplo.Os tribunais esportivos precisam rever a legislação e criar mecanismos que realmente inibam as ações violentas. E, por fim, a polícia, a Justiça e o Ministério Público precisam combater aqueles que cometem crimes como criminosos que são. Não podem ser tratados com benevolência por serem “torcedores”. Não são.