Todo administrador sabe a dificuldade de gerir um orçamento de forma a obter resultados equilibrados e que preencham os requisitos de disponibilidades e metas a serem atingidas. É deste equilíbrio de ações ponderadas que saem os resultados positivos e possíveis, otimizando recursos geralmente escassos para tantas demandas a serem atendidas. No setor público, entra nesta composição o fator político, que é determinante na medida em que determina prioridades que vão além da simples constatação de urgências e merecimentos.
O governo federal vem navegando em uma aparente calmaria econômica, a ponto de poder se dar ao luxo de contar com uma estabilidade que não se via há décadas. O equilíbrio do orçamento permite o avanço em questões sociais importantes, bastando apenas a demonstração de competência e eficácia necessárias para realmente fazer valer a confiança dos brasileiros. O marketing político deu nomes apropriados a projetos que nem sempre correspondem à realidade, a exemplo do famigerado Fome Zero, lançado em meio a sinceras comoções e distantes vínculos com a realidade.
Mesmo com o vento a favor, é visível a falta de tino administrativo para questões que chegam a ser óbvias. Ao criticar o sistema prisional brasileiro, o ministro da Justiça José Eduardo Cardozo cometeu dois deslizes: a impropriedade de criticar a pasta sob sua própria responsabilidade, e expor uma face de incompetência. Dos R$ 312,4 milhões que dispunha em orçamento para investir justamente no sistema penitenciário, seu ministério gastou apenas R$ 63,5 milhões.
Mas ele não está sozinho. O comentado Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) não conseguiu entregar mais que 48% das casas contratadas por meio do programa habitacional desde 2011. Nesses casos, a burocracia e a lentidão do sistema condenam os investimentos que poderiam estar fazendo frente à falta de residências, à atenção a famílias em assentamentos precários, a financiamentos subsidiados. Enquanto isso, as verbas para estádios de futebol fluem espantosamente.
De tudo, o que se vê aqui e ali são demandas crescentes, recursos que repousam intocados em intrincadas peças orçamentárias e um governo engessado que não consegue sequer gastar o que está previsto, que dirá dos investimentos maiores e mais urgentes.