Página Dupla

Arte cidadã

Artista e educador fala de como o circo social pode transformar a realidade de menores carentes, sendo uma importante aliada da cidadania e da inclusão

Thaís Jorge
16/03/2015 às 15:31.
Atualizado em 23/04/2022 às 17:47
Página Dupla ( Dominique Torquato/ AAN)

Página Dupla ( Dominique Torquato/ AAN)

Respeitável público, o show vai começar. É só ouvir essa frase para virem à tona lembranças dos espetáculos apresentados sob lonas coloridas, com artistas que deixam os olhares dos espectadores vidrados e os levam a uma viagem pelo mundo da imaginação. Porém, esse mundo mágico faz mais do que divertir e promove um trabalho que continua mesmo quando as luzes do picadeiro se apagam. É o circo social, que utiliza a arte como ferramenta para intervenção e inclusão de menores carentes na sociedade.   Foto: Dominique Torquato/ AAN Foi, justamente, sobre esse tema que se debruçou o seminário A Evolução, Mudanças e Desafios do Circo Social na América Latina nos Últimos Dez Anos e sua Interface com as Artes Circenses. A atividade, parte da programação do Encontro Anual da Rede Circo do Mundo Brasil, foi realizada no início da semana passada, na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). O encontro, promovido pela Rede Circo do Mundo Brasil em parceria com o Grupo Circus, da universidade campineira, teve entre os convidados o artista e educador Emmanuel Bochud, assessor sênior de circo social do Cirque du Soleil. Para ele, que tem experiência de mais de 15 anos com circo social e é o responsável pela articulação e pelo planejamento dessa atividade na companhia franco-canadense, o Brasil é um dos países que mais se destacam na área. “O País é referência em atividades de circo social. As pessoas precisam valorizar isso, entender o quanto essa ferramenta é eficaz para lidar com cidadania, inclusão, diversidade e arte-educação”, argumenta. Em conversa com a Metrópole, Bochud explica esse conceito e fala dos benefícios proporcionados pela arte circense quando empregada como aliada da educação e da cidadania. “Não é sobre circo. É sobre a lição de vida que ele vai trazer”, diz.Metrópole – Como pode ser definido o termo circo social e tudo o que ele engloba?Emmanuel Bochud – É um termo que integra muitas coisas, mas, resumidamente, é a utilização do circo como ferramenta para interferir socialmente na vida de crianças de comunidades carentes. É usar a arte como meio de transformação social. O objetivo não é formar profissionais, mas incluir esses cidadãos na sociedade, ensiná-los valores e contribuir para o crescimento pessoal deles.Quais os benefícios que as atividades artísticas e circenses promovem a essas crianças?São muitos, mas vou citar os principais. O primeiro é o desenvolvimento da autoconfiança. Também oferecemos a possibilidade de que elas sejam vistas de outra forma pela sociedade e, mais do que isso, que sejam percebidas, o que melhora a relação com a comunidade. É, ainda, uma oportunidade de elas se expressarem e se sentirem parte de algo.Qual é o principal desafio para quem trabalha com circo social nos dias de hoje?Acredito que é a falta de credibilidade por parte de algumas áreas da sociedade. É necessário mais apoio para levar ao conhecimento de um maior número de pessoas que esse tipo de atividade funciona. Temos alunos que hoje são professores, uma prova de que dá certo. Estamos ensinando as pessoas a ensinarem.E como foi seu envolvimento com o Cirque du Soleil e, mais especificamente, com o Cirque du Monde, o programa de circo social da companhia?Eu era artista de circo e já havia estudado um pouco sobre trabalho social no Canadá. Isso foi ao mesmo tempo em que o Cirque du Monde nasceu, por volta de 1995. Me interessei na hora por eles e eles por mim, e essa parceria vem dando muito certo desde então. Hoje, meu trabalho se baseia em aconselhar organizações, planejar e pesquisar ações e estar presente nas comunidades onde desenvolvemos projetos. Aqui no Brasil, temos atividades de circo social em vários estados, como São Paulo, Rio de Janeiro e Pernambuco. A ajuda vai desde networking até treinamentos. Estamos em todos os continentes e existem muitas outras organizações ao redor do globo fazendo esse tipo de trabalho também, o que é ótimo.Qual foi o principal objetivo do encontro na Unicamp?Estabelecer conexões. Isso é muito importante para estreitar os laços entre todos que se dedicam a esse tipo de projeto. Nós aprendemos muito com a Rede Circo do Mundo, é uma troca. O Brasil é referência em circo social. Qual a sensação que fica depois de 15 anos à frente dessa área em uma das maiores e mais importantes companhias circenses do mundo?O que sinto é gratidão. Penso que tenho muita sorte em trabalhar com isso. Sinto, com toda a sinceridade, que estou contribuindo em alguma coisa para o mundo, para as pessoas. E durmo feliz por isso todos os dias. 

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