Coluna publicada na edição de 24/5/18 do Correio Popular
Na coluna de ontem fiz um paralelo sobre a trajetória de Armindo Dias, empresário que nos deixou no domingo, e os clubes de Campinas. Na metade do século passado, nem o jovem que chegou de Portugal com 250 dólares emprestados no bolso e nem Ponte Preta e Guarani poderiam imaginar o sucesso que viveriam nas décadas de 70 e 80. O título brasileiro conquistado pelo Bugre, as memoráveis finais disputadas pela Macaca e uma grande quantidade de jogadores de nível internacional revelados ou contratados pelos dois clubes marcaram a fase de ouro do futebol campineiro. Armindo Dias chegou no que parecia ser o auge de sua trajetória nos anos 90, quando vendeu a Doces Campineira para a Danone em uma transação que ficou casa dos US$ 350.000.000. A partir desse momento, os clubes de Campinas demoraram para se adaptar a mudanças na legislação que transformaram o esporte. O modo de fazer o futebol em também mudou bastante. Tecnologia, fisiologia, marketing, centros de treinamentos com gramados e estrutura impecáveis e profissionais capacitados em outros tantos departamentos de apoio passaram a ser necessários para competir em alto nível. Com um aporte gigantesco das TVs e fortes patrocinadores, os grandes clubes, aqueles que conseguem gerar muita audiência, tiveram condições financeiras de se adaptar ao chamado futebol moderno. Ficaram maiores do que eram. Craques que antes brotavam em abundância na base dos clubes de Campinas desapareceram. O garoto que dá o menor de sinal de talento já é levado para qualquer outro lugar pelo empresário ou mesmo por um dirigente ganancioso que pode sentir tudo, menos amor pelo seu clube. E mesmo no meio de tanto marketing, profissionalismo e dinheiro, talvez o amor seja o ingrediente que tenha faltado ao futebol campineiro. Amor que sobrou em Armindo Dias. Não pelo dinheiro, mas pela cidade que o acolheu e na qual ele construiu sua trajetória de enorme sucesso. Após a venda de sua fábrica que faturava US$ 150 milhões por ano, Armindo poderia ter se aposentado para curtir a vida. Mas a fase de ouro de sua história não tinha terminado. Estava apenas começando. Armindo montou uma rede de revendas das Fiat, da Ford e da Volks que chegou à marca de R$ 320 milhões de faturamento anual. Isso para não falar na rede de hotéis, liderada pelo suntuoso Royal Palm Plaza Resort. Não se trata apenas de ganhar mais e mais dinheiro. Se trata de gerar empregos, criar oportunidades. Conheço histórias maravilhosas de funcionários do grupo de Armindo Dias. Vidas que foram transformadas por um empresário extremamente criativo, competente e querido por seus funcionários. E, com sua vida de dedicação a Deus, à família e ao trabalho (como destaca o título de sua biografia), ele provou, por duas vezes, sua capacidade de fazer sucesso. Na primeira, saiu do nada e fez fortuna. E depois, em uma situação na qual 99,9% das pessoas se acomodariam, ampliou seus negócios de forma inimaginável. Guarani e Ponte Preta também saíram do zero e transformaram Campinas na capital do futebol. Feito estupendo, memorável, e sou muito feliz por ter visto, na minha cidade, jogos e mais jogos de dois dos melhores times do País. Infelizmente, eles não conseguiram começar de novo. Em momentos distintos, estiveram perto de um triste fim. As regras mudaram e tudo ficou mais difícil. Não cobro que sejam novamente os melhores do País. Mas tenho certeza que poderiam alcançar um patamar muito superior ao que frequentam nesse século. Mas, para isso, é preciso ter muita competência, muita dedicação e também muito amor. É preciso desejar que cada clube cresça mais e mais. É preciso ser querido e admirado por funcionários, atletas e treinadores. Não é fácil e não é para qualquer um. Mas a história de Armindo Dias estará para sempre à disposição de quem quiser tentar. Meus sentimentos à família, aos amigos e aos funcionários desse homem que mostrou, a Campinas e ao mundo, que não há barreiras que possam impedir o sucesso de um trabalho construído com dedicação, competência e, tão importante quanto, amor.