CORPO E MENTE

Aprendendo a lidar com a esclerose

Doença assusta, mas sintomas podem ser controlados

Viver Melhor
18/10/2013 às 15:39.
Atualizado em 26/04/2022 às 05:25

Dificuldade para enxergar em determinados momentos do dia, visão embaçada e escura. Como qualquer outra pessoa, a arquiteta Rosângela Ribeiro, de 54 anos, procurou um médico oftalmologista. Mal desconfiava que o diagnóstico da doença que apresentava seria dado dois anos depois por um neurologista. Rosângela descobriu há 20 anos que era portadora de esclerose múltipla, uma doença classificada como autoimune, que atinge o Sistema Nervoso Central (SNC) provocando sintomas sensitivos, como dormência, formigamento, perda visual, dificuldade de movimento, fraqueza dos membros e falta de equilíbrio.  Segundo o neurologista Benito Pereira Damasceno, professor titular da neurologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a esclerose múltipla atinge principalmente mulheres jovens, na faixa de 20 a 40 anos, como foi o caso de Rosângela. “Estava com 34 anos quando comecei a ter os sintomas visuais. Ia no oftalmologista, mas não aparecia nenhuma alteração. Em seguida, os sintomas evoluíram para adormecimento nos braços. Só dois anos depois, por meio de uma ressonância magnética tive a confirmação”, afirmou.  A Esclerose Múltipla é caracterizada pela destruição da bainha e mielina do sistema nervoso e da medula espinhal, segundo Damasceno. Essa membrana protetora, que reveste as fibras nervosas e é responsável pela transmissão dos impulsos do cérebro para as demais partes do corpo, passa a transmitir mal os impulsos elétricos, levando parte dessas fibras à degeneração. “Elas acabam morrendo, mas a maior parte regenera a bainha destruída através de células especiais — as células gliais —, melhorando os sintomas. E os impulsos nervosos voltam a transmitir os impulsos normalmente”, explica.  O conjunto de sintomas varia de paciente para paciente, pode durar semanas ou meses e é chamado de surto da doença. Em muitos casos eles aparecem e desaparecem total ou parcialmente, algumas vezes até sem tratamento, mas podem deixar sequelas. “Uma minoria, de 10% a 15% dos casos, progride de maneira mais grave, sem melhora desde o início. Nos 85% restantes, a pessoa tem melhora total ou parcial dos sintomas.” O neurologista afirma que as causas da doença ainda não são conhecidas, mas sabe-se que o próprio organismo, por meio de glóbulos brancos autorreativos, penetram no tecido nervoso, ativando células gliais e outras células, causando inflamação no local. “O próprio organismo se ataca, por isso dizemos que é autoimune.”  O diagnóstico da doença costuma ser um desafio e exige especialização e muita experiência do neurologista, já que existem vários outros males que se comportam do mesmo modo. “O diagnóstico de esclerose múltipla é por exclusão de outras doenças. É quando não existe uma outra causa que explique melhor os sintomas”, disse Damasceno. A exclusão é feita por meio de ressonância magnética do cérebro e medula espinhal e exame do líquor, além de exames para afastar outras doenças e infecções. O tratamento é feito com droga imunomoduladora, que controla a atividade dos glóbulos brancos, impedindo que provoquem inflamação no tecido nervoso.  Entre as medicações para tratamento da esclerose múltipla estão os interferons beta, o acetato de glatiramer, natalizumab e o fingoloimod. Eles são capazes de reduzir de 30% a 70% a taxa anual de surtos e a ocorrência de novas lesões em quase 80%. “O tratamento imunomodulador tem eficácia parcial enquanto o paciente estiver usando. Dessa forma, tem tratamento e controle, mas ainda não há cura.” O valor mensal do tratamento é de aproximadamente R$ 5 mil, mas a medicação é fornecida gratuitamente pelo Estado. O médico ressalta, no entanto, que tanto o tratamento como a assistência ao paciente deve ser multidisciplinar. “Com neurologista capaz de identificar a doença para traçar diagnóstico e tratamento e também com psicólogo, psicoterapia de apoio e fisioterapia.” O neurologista afirmou que alguns pacientes entram em depressão ao receber o diagnóstico, mas destacou que a própria esclerose múltipla leva à depressão pelas lesões e processos inflamatórios cerebrais, assim como os efeitos colaterais de alguns medicamentos. Também ressaltou a importância do paciente se manter ocupado profissionalmente. “A doença costuma dar algum problema de memória e rapidez de raciocínio, mas a pessoa pode perfeitamente manter suas atividades dependendo da função e desde que não tenha cegueira. Mas tudo tem que ser feito para o indivíduo ser bem tratado e voltar à atividade para evitar sintoma depressivo.”

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