Manifestantes bloquearam a entrada da cidade, depredaram a prefeitura e o comércio da cidade
Depois de cerca de 12 horas de confronto, terminaram no início da noite desta quarta-feira (3) os atos de vandalismo na cidade de Cosmópolis, na Região Metropolitana de Campinas (RMC), que se iniciaram após uma manifestação que começou pacífica.
Cerca de 300 manifestantes fecharam a rodovia Professor Zeferino Vaz (SP-332), atearam fogo em todas as cabines de pedágio e atacaram a Polícia Militar Rodoviária com pedras, bombas e rojões. Depois, seguiram rumo à prefeitura da cidade. O comércio fechou e a Tropa de Choque da Polícia Militar foi acionada.
O protesto reivindica a redução da tarifa de RS 6,20 para R$ 3,10 (50%) ou a instalação do sistema ponto a ponto (tarifa cobrada pelo trecho percorrido).
À tarde, um grupo pequeno de vândalos voltou a depredar o centro, mesmo depois de os manifestantes entrarem em acordo com o prefeito de que irão esperar até a próxima segunda-feira (8) pela resposta da concessionária do pedágio (Rota das Bandeiras) sobre as demandas solicitadas em relação à tarifa.
Portas e janelas do Paço Municipal foram vandalizadas, ônibus incendiados e comércios invadidos, informou a assessoria de imprensa do Poder Executivo local. Não foi possível, até o momento, contabilizar os prejuízos que seguem ocorrendo.
Segundo manifestantes ouvidos pela reportagem, Cosmópolis funciona como cidade dormitório, onde praticamente não há emprego e os moradores precisam viajar para trabalhar. Na segunda-feira (1), um dos funcionários da Refinaria do Planalto Paulista (Replan) contou que para trafegar pelos 15 quilômetros que separam a empresa, localizada em Paulínia, de Cosmópolis, tem que pagar R$ 12,40 por dia. “Ou eu pago o pedágio ou eu como, moça”, disse, sem querer que seu nome fosse divulgado, com medo de perder o emprego.
As linhas intermunicipais do sistema de transporte coletivo foram suspensas para a cidade, segundo a Empresa Metropolitana de Transporte Urbano (EMTU).
Manifestação no pedágio
Esse foi o terceiro protesto na rodovia nos últimos seis dias. Mais agressivo que nos protestos anteriores, o grupo depredou novamente o espaço e atacou também a imprensa e a PM. Um cinegrafista da rede de televisão SBT teve a câmera destruída e ficou ferido. O veículo de uma outra emissora de televisão também foi atingido. Todos os órgãos de imprensa foram hostilizados. No total, as oito cabines foram totalmente destruídas.
Até o final da manhã, 12 pessoas tinham sido presas pela PM. A Tropa de Choque da PM foi acionada e um efetivo de 50 homens foi para o local. Os manifestantes recuaram e começaram depredação de coletivos no bairro Bela Vista. Dois ônibus foram incendiados. Os coletivos estavam parados sem passageiros. Os manifestantes chegaram a bloquear a entrada da cidade, no altura do Km 145, mas com a intervenção da polícia, o acesso foi liberado.
A ocupação começou pela manhã com um grupo de cerca de 300 pessoas, que fechou a pista desde as 5h40 nos dois sentidos, na altura do km 135, em protesto contra o valor da tarifa. A ação, que começou de forma pacífica, transformou-se em um verdadeiro ato de guerra na praça de pedágio. Depois de serem atacados, os policiais responderam com bombas de efeito moral. A Força Tática da PM foi acionada para reforçar o grupo com cerca de 20 policiais.
Com a chegada do reforço policial, o grupo se dispersou. Os manifestantes se afastaram e se reuniram novamente nas imediações do km 140. Mais uma vez, pneus foram queimados. Os manifestantes acuados pela presença da polícia se refugiram no Bela Vista. Dois ônibus foram incendiados. Os coletivos estavam parados sem passageiros.
Foi registrado congestionamento no local para quem seguia sentido Mogi Guaçu. Na pista sentido Campinas, a Rota das Bandeiras fez desvio pelo km 143, mas o grupo fechou o acesso e os motoristas ficaram parados.
A Rota das Bandeiras disse em nota que "mais uma vez expressa seu repúdio com tamanho vandalismo e violência. A concessionária respeita as decisões do Governo do Estado, responsável pela definição de todas as políticas para o setor, assim como confia na adoção de medidas efetivas que, respeitem, sim, as manifestações, mas não permitam a repetição de cenas absurdas como as registradas nesta manhã". (confira abaixo)
Histórico
O primeiro protesto contra o valor do pedágio aconteceu na sexta-feira (28/06). Na ocasião, houve confronto policial, queima de pneus, bloqueio de faixa e três cabines de pedágio foram incendiadas. Já nesta segunda (1), o grupo se reuniu em protesto mais uma vez, bloqueou faixas e pedia uma reunião com a Rota das Bandeiras, concessionária que administra a rodovia. No final do dia, manifestantes atearam fogo em duas cabines de pedágio.
Prefeitura
O grupo de manifestantes chegou até a Prefeitura nesta quarta por volta das 11h30. Segundo informações da PM, vândalos começaram a atirar pedras contra a fachada e vidros do prédio público. Uma funcionária da Administração, em contato com o iG Paulista, disse que os servidores estão "sitiados e com medo" e que pedras são atiradas a todo momento contra as portas e janelas. Oficiais da Ronda Ostensivas Municipal (Romu) e a Polícia Militar fazem a segurança do prédio. Foi formada uma comissão com quatro membros da manifestação para uma conversa com o prefeito Antônio Fernandes Neto (PMDB), que os recebeu em seu gabinete. Os funcionários não puderam deixar a Prefeitura.
Nota oficial
A Concessionária Rota das Bandeiras divulgou às 10h40 desta quarta nota oficial sobre o ataque à Praça de Pedágio em Paulínia, na SP-332.
A nota informa "que a praça de pedágio localizada no km 135 da rodovia Professor Zeferino Vaz (SP-332), em Paulínia, foi destruída por vândalos durante ataque realizado na manhã desta quarta-feira, 3 de julho. ..Às 8h20, já com cerca de 200 vândalos, o grupo chegou até a praça de pedágio e iniciou a destruição. As oito cabines manuais da praça de pedágio foram incendiadas. Os vândalos também incendiaram cones e barreiras plásticas. Câmeras e sensores foram completamente destruídos. Um grupo “escalou” o poste onde está instalada uma das câmeras de monitoramento da praça de pedágio e destruiu a câmera. Equipes de imprensa foram agredidas, equipamentos das equipes que faziam a cobertura dos atos de vandalismo foram roubados".
Ainda de acordo com a nota oficial, "A Rota das Bandeiras mais uma vez expressa seu repúdio com tamanho vandalismo e violência. Destacamos que a Concessionária respeita as decisões do Governo do Estado, responsável pela definição de todas as políticas para o setor, assim como confia na adoção de medidas efetivas que, respeitem, sim, as manifestações, mas não permitam a repetição de cenas absurdas como as registradas nesta manhã. Ressaltamos ainda que a Rota das Bandeiras segue cumprindo integralmente todas as determinações do Poder Concedente, focando na operação da rodovia com excelência, e mantém sua determinação em promover investimentos de longo prazo em parceria com o governo estadual, contribuindo para o desenvolvimento econômico do Estado e do País."
Governador
O governador Geraldo Alckmin (PSDB) afirmou que mandará prender os manifestantes que atearam fogo e depredaram as praças de pedágio em Cosmópolis. "Isso é uma ação criminosa. A polícia já está investigando e serão todos presos."
Alckmin disse que a Secretaria Estadual de Segurança Pública enviou dois ônibus com policiais militares para evitar novos protestos violentos na região. "Temos feito permanentemente (reuniões com caminhoneiros). Democracia tem que ser colaborativa. De outro lado não é possível permitir destruição de patrimônio público e privado."
O valor do pedágio não será reduzido, um dos pedidos dos caminhoneiros, já que o governo do Estado determinou a suspensão do reajuste na semana passada. Com relação aos bloqueios feitos por motoristas de caminhão em rodovias do Estado na segunda (1), Alckmin lembrou que conseguiu, na Justiça, uma liminar para proibir este tipo de manifestação.
"Bloqueios (em rodovias) não só prejudicam a economia como podem levar a acidentes graves", disse o governador. De acordo com a ordem judicial, quem resolver bloquear uma rodovia ou os seus acessos será multado em R$ 20 mil por hora. Além disso, poderá ter o caminhão guinchado.
Com informações de Luciana Félix, Patrícia Azevedo, Raquel Valli, Ricardo Fernandes e Shana Maria Pereira e Virgínia Alves. Fotos de Carlos Souza Ramos e Shana Maria Pereira