ZEZA AMARAL

Aos badaladores do sino alheio

Zeza Amaral
24/03/2014 às 19:53.
Atualizado em 27/04/2022 às 00:20

Nélson Rodrigues continua vivo e me ajudando a compreender a hipocrisia nacional. Nem Freud sacou tanto o complexo de vira-latas descoberto pelo velho cronista, o que desnudou o falso moralista, o falso nacionalista e, sobretudo, o jornalismo oportunista, sem criatividade, sem história, sem informação básica, sem nada além de chopinhos no final do expediente e de serpentinas e confetes que se lançam uns aos outros em programas televisivos, radiofônicos e croniquetas esportivas, como se cachorros fossem se lambendo em esportiva confraternização de egos.O que é o futebol espanhol diante das peladas diárias de meninos brasileiros que se torram ao sol, com os pés nus chutando bolas murchas de um sonho que todos já tivemos? Não é nada! E muito menos nada é a reportagem nacional destinada a um Barcelona e Real Madrid que, no fundo, mais parece um divã feito para que o brasileiro se deite e conte suas frustrações, como se lá, na Espanha, tudo fosse uma festa inesquecível de paixões.Catalão é uma paixão oportunista de ser e a merenguice não fica atrás. Separatismo político é apenas um ato marqueteiro e, lá, todos sabem disso e se aplaudem. E, mesmo assim, Barcelona se apresenta ao mundo como o único clube a não ostentar um patrocinador na camisa e, santa hipocrisia, é propriedade de investidores árabes que, séculos atrás, dominaram e ajudaram a construir a identidade cultural da Espanha imperialista e descobridora de novos mundos. Barcelona, em suma, pertence aos velhos árabes expulsos da Espanha que ainda mata touros e que sequer derramou palavras em tintas quando, recentemente, morreu Paco De Lucia, o maior violonista flamenco de que se tem notícia. Melhor até que o Pelé.Messi não é espanhol. Neimar também não. Daniel Alves muito menos. E isso não quer dizer absolutamente nada. Aliás, também nada do futebol marciano me diz respeito. Depois de quinze Copas do Mundo, cinco vezes campeão, o velho cronista aqui não precisa de ninguém pra me dizer como armar uma seleção para ganhar outra taça mundial. Agradeço e declino.Mas o técnico do Barcelona fazer Neimar jogar pela direita e o técnico do Tottenham, Tim Sherwood, fazer Paulinho sentar no banco de reserva é de uma provocação psicológica digna de um sofá de puteiro. Ou seja: os vira-latas oficiais da imprensa tupiniquim levantam a bola dos estrangeiros e é possível que um deles levante a taça por aqui. É isso.

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