Na oração do Ângelus, Francisco pediu que fieis o acompanhem 'espiritualmente e em oração'
O papa Francisco afirmou neste domingo (21), no Vaticano, que a semana que se inicia deveria ser chamada de "Semana da Juventude" porque "os jovens serão os protagonistas", em alusão a sua viagem de sete dias ao Rio de Janeiro a partir desta segunda-feira (22).
Com esta visita, o primeiro Papa latino-americano da história tentará revitalizar a Igreja numa região onde o catolicismo perde terreno há três décadas.
Na oração do Ângelus celebrada na Praça de São Pedro neste domingo, falando da janela do terceiro andar do Palácio Apostólico, o Papa pediu aos milhares de fieis presentes que o acompanhem "espiritualmente em oração" em sua primeira viagem apostólica.
"Vejo ali escrito 'Boa Viagem'. Obrigado, obrigado", afirmou o Papa referindo-se a um grande cartaz exibido na multidão.
"Todos que forem ao Rio querem ouvir Jesus. E querem peguntar a Ele: Jesus, que devo fazer de minha vida? Qual é o caminho para mim?", afirmou.
E perguntou aos fieis: "Há jovens na praça hoje? Sim? Também eles devem fazer ao Senhor a mesma pergunta".
Este foi o último Ângelus do mês de julho que o Papa reza em Roma, já que o próximo será realizado no Rio de Janeiro.
A partir desta segunda, o Papa argentino presidirá a Jornada Mundial da Juventude (JMJ), já chamada de "Woodstock católico", que reunirá cerca de 1,5 milhão de pessoas vindas principalmente da América do Sul.
=== Sem medo das manifestações ===
O contacto do Papa com os jovens será sem grandes pompas. Seus atos improvisados e sua vontade de interagir com suas ovelhas vão colocar à prova os serviços de segurança, como deve acontecer quando visitar na quinta-feira a comunidade de Varginha, zona norte do Rio, ou quando presidir na sexta-feira as 14 estações da Via Crúcis na praia de Copacabana.
O Papa chega ao Brasil pouco depois das históricas manifestações que, em junho, levaram às ruas mais de um milhão de pessoas exigindo melhores serviços públicos, contra a corrupção e os elevados gastos do Mundial de 2014, e que muitas vezes acabaram tumultuadas pela violência policial e atos de vandalismo.
Ateus brasileiros e o grupo Anonymous Rio, um dos organizadores dos protestos de de junho, também convocaram para esta segunda-feira, o dia da chegada do pontífice ao Rio, uma manifestação contra o gasto público de 53 milhões de dólares - um terço do orçamento total - que implica a visita papal e a organização da JMJ no Rio.
Mas o Vaticano não se mostra preocupado e vários especialistas destacam que a pregação de Francisco em defesa dos mais necessitados têm muita sintonia com os manifestantes.
--- Evangelho social ---
"Creio que no Brasil o Papa prosseguirá, aprofundará e esclarecerá seu Evangelho social. Desde que foi eleito, ele denuncia as novas formas de escravidão, de exploração, a desigualdade, a irresponsabilidade de algumas forças sociais", declarou à AFP o vaticanista Marco Politi.
A América Latina, onde Francisco nasceu e viveu quase toda sua vida, é a região com mais católicos do mundo, cerca de 40%. No Brasil, são 64,6% da população, segundo o mais recente censo, de 2010.
Segundo pesquisa do Instituto Datafolha divulgada neste domingo, 57% da população brasileira se declara católica, o mais baixo nível histórico no país cm mais católicos no mundo.
Os evangélicos, por outro lado, não param de crescer e são mais de 20% da população latino-americana, apoiado por seu hábil manejo da televisão e das redes sociais e uma extensa rede de templos onde os fieis têm voz sem necessidade de serem ordenados sacerdotes.
Relator do documento final da reunião da Conferência Episcopal Latino-americana em 2007 em Aparecida, onde enfatizou a necessidade de uma Igreja mais missionária e próxima de Jesus, Francisco conhece bem o desafio da Igreja católica na região.
"O selo do papa Francisco no Brasil será o do diálogo, da abertura, de recuperar o fervor do Evangelho", explicou à AFP Faustino Teixeira, professor de Ciências da Religião da Universidade Federal de Juiz de Fora, Minas Gerais.
Segundo Teixeira, a opção do papa por uma Igreja mais austera e próxima dos pobres "se identifica profundamente com o horizonte da América Latina e da Teologia da Libertação", a corrente teológica nascida na região e condenada severamente nos anos 80 pelo papa João Paulo II (que a considerava marxista) e com a qual Francisco dá sinais de reconciliação.