Antes chamados de nerds, geeks dão a volta por cima nas ruas

Adolescente com rosto cheio de espinhas, óculos de grau “fundo de garrafa” e aparelho nos dentes. Esta é a imagem estereotipada do nerd. Há décadas, o tom pejorativo do termo soava quase como um xingamento. Pois os nerds mudaram quase na mesma proporção dos avanços tecnológicos e o desenvolvimento cultural da sociedade. Neste século, boa parte deles pertencem ao sub-grupo chamado geeks. Usam camisetas divertidas e às vezes sarcásticas com temática cinematográfica e televisiva, passam horas no videogame, leem histórias em quadrinhos e ouvem rock’n’roll.

Não há uma relação direta entre os roqueiros e os geeks, mas o fato é que em Campinas grande parcela das lojas de discos possuem um sessão destinada a eles em meio ao clássicos do rock.

É o caso da Chop Suey Discos, na Rua Barreto Leme, Centro de Campinas. O proprietário e músico Daniel Giometti, conhecido como E.T., conta que sentiu um crescimento significativo na venda de acessórios e camisetas estilizadas com figuras do cinema, especialmente do gênero terror, e de desenhos animados nos últimos anos. “De quatro ou cinco anos pra cá, houve um boom, acredito que estimulado pela internet. Jovens podem baixar desenhos antigos, que não existem mais”, diz.

Bem próximo à Chop Suey está o Riva Rock Discos. Embora não seja o carro-chefe da loja, as camisetas estampadas com personagens de desenhos animados são bastante procuradas. Muitas delas trazem embutidas frases de efeito ou mesmo versos de música. Sem dúvida, o mais constante, talvez pela própria figura caricata, é a imagem de Homer Simpson, o atrapalhado chefe de família de "Os Simpsons". Outro que não fica atrás é o Seu Madruga, do seriado Chaves. Tem também o Chapolin e personagens do Batman. Aliás, os super-heróis mantêm-se em alta.

Já quando a procura é por acessórios, destaca-se a loja Dixie Arte e Estilo, no Cambuí. Polyana Francisco de Resende, proprietária do espaço, revela que ultimamente a maior procura é por peças ligadas a série de ficção científica "Star Wars" e ao videogame Mario Bros. “Está na moda os anos 80. Atinge tanto o pessoal mais novo como os que curtiram na época”, afirma. Além das camisetas, podem ser encontrados brincos, chaveiros, canecas, quadros, capas para celulares, relógios, bandanas etc. Há até uma sessão infantil com acessórios temáticos de rock e personagens de filmes. “Não sei por quê, mas a galera geek também curte rock”, constata.

Vendedores geeks

As grandes livrarias, como Cultura, Fnac e Saraiva, também deram atenção ao público geek. Na Cultura do Shopping Iguatemi Campinas, por exemplo, há uma área na parte superior destinada a esse público, cuja faixa etária transita entre 25 e 35 anos, de acordo com a assistente de marketing da loja, Lais Costa. As prateleiras são recheadas de HQs, jogos, literatura fantasiosa e até bonecos de super-heróis. “Aqui na livraria, 80% dos vendedores são nerds ou geeks. Todos querem trabalhar nessa sessão”, conta Laís.

O vendedor Caio Vergueiro, de 25 anos, é um desses. “Hoje, todo mundo tem um pouco de geek, gosta de game e quadrinhos. Sempre existiu, apenas entrou para o grande público e o nerd perdeu o tom pejorativo, ganhou status de cool, legal”, diz ele, que é formado em linguagem audiovisual e fissurado em jogos como "Heavy Rain". Já o estudante de economia Felipe Padovan, de 25 anos, destacou a série de quadrinho "Maus", que conta a história de Vladek Spiegelman, um judeu polonês que sobreviveu ao campo de concentração de Auschwitz. O livro é considerado um clássico contemporâneo das histórias em quadrinhos.

Portanto, o “acervo geek” jamais poderá ser confundido com a sessão infantil, apesar dos bonecos e até jogos do Mario Bros. Alguns dizem que nerds e geeks são a mesma coisa, o que mudou foi a aceitação social das pessoas ligadas em tecnologia.