Algumas profissões, apesar de terem explodido há anos, ainda vão demorar para sair dos holofotes
José Oscar Fontanini de Carvalho, diretor do curso de graduação da PUC-Campinas, com alunos de sistemas da informação ( Carlos Sousa Ramos/AAN)
Algumas profissões, apesar de terem “explodido” na década de 90 e nos anos 2000, ainda vão demorar para sair dos holofotes. Atividades como programador, administrador de dados e chefe de sistemas ainda são consideradas do futuro e têm como base o curso de sistemas de informação. Antigamente chamada de análise de sistemas, o Ministério de Educação decidiu padronizar a denominação das faculdades no ano passado. Na Região Metropolitana de Campinas (RMC), há grande quantidade de cursos de bacharelado, mas os profissionais são absorvidos pelo mercado mesmo antes de se formarem. Os softwares estão cada vez mais presentes na vida dos brasileiros, mas, proporcionalmente, o número de jovens que se interessa por tecnologia ainda é pequeno — por isso o mercado constantemente aquecido.Sistemas de informação é a administração do fluxo de informações geradas e distribuídas por redes de computadores dentro de uma empresa. O bacharel planeja e organiza o processamento, o armazenamento e a recuperação de informações e disponibiliza esse material para usuários, além de criar, adaptar e instalar programas para facilitar a consulta em computadores. O diretor do curso de graduação da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), José Oscar Fontanini de Carvalho, tem uma forma simples de explicar o que faz um analista de sistemas. “Ele vê o software como uma atividade meio. No banco, por exemplo, os programas são voltados para a atividade financeira. Ele desenvolve e faz a manutenção específica do software para essa finalidade.”Segundo o professor, a maior área de atuação ainda é o gerenciamento de dados dentro de uma organização. Porém, o Brasil ainda não tem regulamentação para as profissões ligadas à tecnologia, apesar dos esforços da categoria. Dessa forma, muitas vezes, o analista de sistemas acaba fazendo o papel de engenheiro de computação.No curso da PUC, o profissional é preparado para não ser um mero colaborador, mas sim um consultor. “Não queremos o aluno funcionário, mas o aluno empreendedor. Incentivamos que eles montem suas próprias firmas e trabalhem em parceria com companhias maiores”, afirma.A grade curricular tem ainda forte formação em engenharia de software, programação de computador e gestão de projetos. Além disso, a universidade passa ao estudante uma visão humanística da profissão, ainda que a base seja a matemática e o raciocínio lógico. “Nós damos ferramentas para ele modificar a sociedade, mesmo em uma profissão tão prática e racional.”E tão importante quanto ter uma visão mais humana da profissão é saber lidar com pessoas e trabalhar em equipe, segundo Carvalho. A imagem do analista de sistemas que fica o dia inteiro isolado, em frente ao computador, é ultrapassada. “Hoje, as equipes de projetos são grandes e multidisciplinares, muitas vezes com profissionais de outros países. Por isso, é essencial que os analistas falem, pelo menos, o inglês fluente”, acrescenta. MestradoA aluna de sistemas de informação da PUC-Campinas Flávia Erika Azevedo, de 29 anos, foi incentivada pelo marido, doutorando em engenharia da computação, a fazer mestrado, mesmo com o mercado de informática tão aquecido. Natural de Recife (PE), a universitária fazia faculdade de ciências da computação no Nordeste, antes de vir para Campinas. “Poderia escolher aqui outros cursos, mas escolhi sistemas porque sei que tenho chances de ter uma melhor colocação no mercado de trabalho”, ela diz.Flávia já fez estágios, mas hoje conclui seu projeto de iniciação científica. “Quero entrar no mercado bem preparada. Mesmo se não quiser seguir carreira acadêmica, muitas empresas valorizam o título de mestre o oferecem salários melhores.”TécnicoAluno de um curso técnico em informática em Campinas, Wesley Henrique Alves Praxedes, de 18 anos, vai prestar sistemas de informação no final do ano. “Fui instruído pelo meu professor do colégio a fazer o técnico antes de tentar a faculdade. Sempre gostei muito de ficar no computador, mas agora tenho certeza que é isso que quero fazer”, disse o adolescente, que já estagiou em laboratórios de computação. O curso de sistemas de informação exige conhecimento em cálculos e raciocínio lógico, por isso é necessário gostar muito de matemática. Projeto de conclusão de curso e estágio são obrigatórios. A duração média da graduação é de quatro anos.Contato na faculdadeRodrigo Tadeu Rampazo Vasconcellos nunca tinha ligado o computador até ingressar no curso da PUC-Campinas de análise de sistemas, atual sistemas da informação, em 1996. O bacharel de 36 anos sempre sonhou com o mundo da informática, mesmo sem contato com a máquina. “Por sorte, quando eu entrei na faculdade, vi que era mesmo isso que eu queria fazer pelo resto da vida”, disse. Sem conhecimento na área, Vasconcellos contou que sentiu dificuldade em algumas matérias específicas, enquanto alunos que haviam feito técnico em computação estavam totalmente à vontade no curso. Mas ele foi persistente e, ainda na faculdade, conseguiu um estágio na DPaschoal, onde fez carreira e permaneceu por dez anos. Quando foi para a Softway, entrou como coordenador de projetos, depois de ter feito especialização na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e MBA.“Eu tinha dois caminhos: desenvolver softwares ou gerenciar projetos. Escolhi o cargo de gestor porque gosto de ter contato com os clientes”, disse. De acordo com Vaconcellos, um diretor de Tecnologia da Informação (TI) de uma grande empresa chega a ganhar até R$ 20 mil. “Mas o profissional precisa investir na carreira, fazer cursos de pós-graduação, falar pelo menos duas línguas.”