CARLO CARCANI

Amor à camisa e profissionalismo

Carlo Carcani
04/04/2015 às 21:50.
Atualizado em 23/04/2022 às 16:59

Foi muito triste para o futebol brasileiro a imagem do lateral-esquerdo Fabrício fazendo gestos ofensivos para a torcida, atirando a camisa ao chão e disparando ofensas ao Internacional, conforme relatou o árbitro da partida entre o clube gaúcho e o Ypiranga.   A vaia é extremamente desagradável, mas faz parte do esporte. Qualquer atleta deve estar preparado para ela, inclusive Cristiano Ronaldo, eleito o melhor jogador do planeta nos últimos dois anos.   A vaia às vezes é mais do que merecida, às vezes é exagerada ou até mesmo injusto. Mas é um direito do torcedor. Fabrício, um jogador experiente de 28 anos, deveria ter mais controle emocional para enfrentar o problema. Sua reação foi a pior possível. Foi ruim para ele, para o Inter e para o esporte.   O fato de o futebol ter se transformado em um milionário braço da indústria do entretenimento acabou com o que chamávamos de “amor à camisa”. É natural que seja assim porque se trata de um grande negócio. A paixão fica por conta do torcedor.   Nenhum atleta, portanto, tem a obrigação de beijar o escudo, amar a camisa, ficar para sempre no mesmo clube. Ele é uma peça da engrenagem e jogar bola é a sua profissão. O problema é que muito atleta acha que esse futebol-mercado lhe dá o direito de desrespeitar o clube que o contrata. E isso dá origem a uma série de problemas no futebol brasileiro.   Um atleta profissional tem o direito de negociar do jeito que bem entender. Tem o direito de escolher a proposta que lhe for mais vantajosa. Mas, uma vez assinado o contrato, um bom atleta profissional tem a obrigação de cumpri-lo da melhor forma possível.   Não pode se acomodar e deixar de dar seu melhor nos treinos e jogos. Não pode desrespeitar a torcida ou a instituição. Não pode fazer onda no elenco para derrubar esse ou aquele. E não pode, claro, forçar uma situação para conseguir uma transferência na hora que bem entende, desrespeitando o compromisso assumido na assinatura do contrato.   Não pode nada disso, mas, na realidade, essas práticas são rotineiras. E assim vamos caminhando para um cenário cada vez mais sombrio, chegando ao ponto de um jogador ofender dentro de campo o clube que paga o seu salário.   Os clubes, de um modo geral, mimam seus jogadores, dando a eles mais do que merecem. Ao mesmo tempo, deixam de exigir o mínimo que eles devem dar em troca. Com um relacionamento assim, fica cada vez mais difícil encontrar atletas realmente profissionais.

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