CRÍTICIA

'American Sniper' faz pequeno retrato do espírito dos EUA

Assim pode ser definido o mais recente filme de Clint Eastwood que pode ser conferido em cinco salas de Campinas, em pré-estreia

João Nunes/Especial para o Correio
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15/02/2015 às 05:00.
Atualizado em 23/04/2022 às 19:17

Embora seja um relato de guerra, há um claro esforço para que nem todo conflito esteja no campo de batalha ( Divulgação)

É impossível não associar 'Sniper Americano' ('American Sniper', EUA, 2014), de Clint Eastwood, a 'Guerra ao Terror' (Kathryn Bigelow, 2008). Ambos os protagonistas têm ligação visceral com a guerra. O dever de salvar a pátria move o primeiro (pretensão que lhe abre as portas para se assumir herói); a adrenalina impulsiona o segundo. E nos dois casos, eles se sentem inadequados quando regressam para casa.   A semelhança vai além. 'Guerra ao Terror' se estrutura em episódios nos quais o protagonista precisa desarmar bombas. Idêntica estrutura se vê em 'Sniper Americano', no qual o personagem real Chris Kyle (Bradley Cooper, muito bem no papel) tem a tarefa de executar alvos considerados perigosos aos soldados americanos. A diferença é que o roteiro de Jason Hall cria um vilão, chamado Açougueiro, que, dramaturgicamente nunca convence. Na verdade, trata-se de arremedo de vilão a partir do qual o mocinho se impõe uma missão e, com isso, se constrói uma história com começo, meio e fim. A associação dos dois filmes pode não servir em princípio para nada, a não ser o fato de que Kathryn Bigelow fez primeiro. Mas torna-se útil para entender o pouco impacto que 'American Sniper' gera, como se já o tivéssemos visto antes — mesmo sendo uma história real. Ainda assim, impressiona a eficiência de um homem de 84 anos de contar bem uma história. Biografias, em geral, tendem a ser laudatórias ou condescendentes — ainda mais em se tratando de um herói de guerra nos Estados Unidos. Pois, além da vitalidade excepcional, Clint Eastwood consegue fugir da armadilha de ser apenas correto em relação ao biografado.   O roteiro expõe o conflito humano de um trabalho tão complexo como o de matar (mesmo que seja numa guerra), o que inclui mulheres e crianças. O personagem até tenta encarar a tarefa como normal, mas tem consciência de que esta o atormenta. Para se confortar, ele se apega ao princípio de que mata pelo país e no cumprimento de um dever — o que é verdade.   Porém, não há como não levantar, a partir deste fato, uma discussão igualmente complexa e difícil de compreender para quem não é americano ou não vive em países em situações de conflito: o exacerbado sentimento de heroísmo que a população devota a uma figura como Chris Kyle, tido pelo próprio como “o mais letal atirador da história do exército dos EUA” — o subtítulo da autobiografia dele — com cerca de 160 mortes no currículo.   A esta questão se soma a do culto a arma tão acentuado na América. O que mais se vê no filme são armas e o que mais se ouve são tiros. E não só porque estamos na guerra. O personagem tem intimidade com elas desde a infância quando o pai o leva para caçar — ensinamento que ele transmite ao filho. E o desfecho da vida de Chris Kyle traz a marca dessa cultura.   Tal sentimento de heroísmo — justo, de um lado, para quem se expôs aos horrores de um campo de batalha, mas incompreensível aos olhos de quem não vê sentido algum na guerra — se materializa nas cenas finais: o povo americano saúda o herói como se fosse, por exemplo, um atleta campeão ou algo assim.   O reflexo também se vê nas bilheterias dos Estados Unidos, onde o filme virou sucesso e se tornou o maior êxito comercial da carreira de Clint Eastwood. O público parece ter ficado satisfeito com a maneira como o herói de guerra foi retratado, mas seria injusto dizer que se trata de uma obra oficial feita com o propósito de não manchar a imagem do biografado. Em síntese, 'Sniper Americano' é um pequeno retrato do espírito de um país bélico que vive em permanente estado de guerra.PRÉ-ESTREIA   'Sniper Americano' pode ser conferido neste domingo em pré-estreia, nos seguintes cinemas de Campinas:   Cineflix Galleria 1 (21h40)   Cinemark 4 (22h30)   Cinépolis 9 (22h20)   Kinoplex 7 - Sala IMAX (21h)   Multiplex Parque das Bandeiras 3 (18h45)

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