A guerra ideológica travada pelo Bolsonarismo contra o avanço da ciência e do conhecimento científico atinge picos assustadores de irracionalidade. A última pérola foi artigo publicado pelos senadores Flávio Bolsonaro (PSL) e Márcio Bittar(MDB) que identificou a ideologia verde como refúgio de esquerdistas produtores de teorias para barrar o progresso. Os senhores senadores, invertem a lógica ao se referirem às suas propostas como progressistas quando na realidade buscam aniquilar todo avanço produzido nos últimos anos pela ciência. Consideram as mudanças climáticas como falácia, refutando-a com argumentos primários sem nenhuma fundamentação científica. As mudanças climáticas são um consenso científico global aceito pela ampla maioria dos países, com exclusão solitária dos Estados Unidos na gestão de Donald Trump. Há concordância entre as principais organizações científicas em todo o planeta de que o aquecimento global é real e está sendo causado pela atividade humana. No referido artigo os senadores apontam que a destruição da camada de ozônio é outro discurso apocalíptico. Ocorre que este é mais um evento muito bem documentado desde os anos 70 e o trabalho desenvolvido pelos cientistas e governos de todo mundo levaram à assinatura do Protocolo de Montreal sobre substâncias que destroem a camada de ozônio e que foi adotado em 1987 por todos os países da ONU. Em 2018, cientistas da NASA conseguiram provar, por meio de observações de satélites, que o buraco na camada de ozônio está diminuindo. E pesquisadores da Centro de Voo Espacial Goddard da agência espacial americana relacionaram a novidade ao Protocolo de Montreal. Nessa velocidade, os cientistas estimam que por volta de 2060, o buraco tenha diminuído consideravelmente — ou até desaparecido caso as medidas em curso sejam mantidas. Outros absurdos podem ser observados no artigo dos senadores apontando para o combate ao avanço da ciência ambiental. Criticam a preservação do mico leão dourado, questionam os riscos que corre a biodiversidade e o papel da Amazônia como pulmão do mundo. Esse retrocesso que espelha a nova política ambiental foi motivo de reunião de 8 ministros do meio ambiente de gestões passadas que criticaram o desmonte da governança ambiental construída a duras penas em governos anteriores. Entre outros problemas os ex-ministros criticam a perda da Agência Nacional de Águas, a transferência do Serviço Florestal Brasileiro para o Ministério da Agricultura, a extinção da Secretaria de Mudanças Climáticas, a ameaça às áreas protegidas, ao Conselho Nacional do Meio Ambiente e ao Instituto Chico Mendes. Ressalte-se que os dois senadores produziram o artigo citado são autores de projeto de lei que propõe eliminar a reserva obrigatória em propriedades rurais. O que ameaçaria a existência de diversas espécies de animais que encontram refúgio nessas áreas. Além disso, essas reservas contribuem para o aumento da diversidade biológica e o favorecimento da agricultura com a multiplicação de insetos polinizadores que poderiam desaparecer, pois é cientificamente comprovado que estes animais estão diminuindo rapidamente em todo o globo, vítimas que são do desmatamento e dos pesticidas utilizados em demasia nas lavouras. O que acontece no meio ambiente soma-se ao ataque desferido pelo Ministério da Educação às universidades no combate ideológico a que se propõe com a redução em 30% do orçamento das instituições de ensino superior e no ataque aos cursos de filosofia e Ciências Humanas e mais recentemente, ao corte de bolsas de estudo de pesquisas de pós-graduação da Capes. A pesquisa científica ficará profundamente prejudicada. Já andava mal das pernas, com os ataques atuais perderá as duas pernas e seu avanço será sacrificado colocando o Brasil mais abaixo ainda no quesito desenvolvimento científico - condição necessária para se tornar um país desenvolvido. Só resta a resistência, que pode ocorrer nos Estados, nos municípios e em cada recanto do país. Nos Estados Unidos, governadores e prefeitos tem resistido aos retrocessos na política ambiental gerados pelo governo Donald Trump. No Brasil temos que seguir o exemplo. Sinais positivos indicam que o movimento de resistência já começou. Governadores de 11 Estados e do Distrito Federal se reuniram no final de abril e manifestaram sua concordância com as metas estabelecidas pelo Brasil para enfrentamento das mudanças climáticas. Amapá, Amazonas, Distrito Federal, Espírito Santo, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e São Paulo manifestaram-se de forma favorável ao cumprimento do Acordo de Paris. Espera-se que prefeitos sigam o mesmo caminho.