APURAÇÃO

Alunos negam violência na CPI do Trote

De 16 chamados a depor em Campinas, dois aparecem. Comissão Parlamentar de Inquérito quer tornar prática crime de tortura

Inaê Miranda
09/03/2015 às 21:22.
Atualizado em 24/04/2022 às 01:19
Veteranos e calouros durante o trote da PUC-Campinas nesta segunda-feira ( Dominique Torquato/AAN)

Veteranos e calouros durante o trote da PUC-Campinas nesta segunda-feira ( Dominique Torquato/AAN)

Apenas dois dos 16 convocados a depor na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Trote — sobre as violações de direitos humanos nas universidade paulistas — compareceram à última audiência, realizada nesta segunda-feira (9) na Câmara de Campinas. A comissão é uma iniciativa da Assembleia Legislativa.   Os dois alunos ouvidos foram presidente e vice-presidente da Atlética da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas) em 2013 e negaram ter praticado ou fomentado qualquer tipo de violência.   O relatório final da CPI será apresentado hoje na Assembleia pelo deputado Adriano Diogo (PT), que preside os trabalhos. O objetivo é tornar o trote crime de tortura. A sessão teve uma hora e meia de duração e tinha como convocados alunos e professores, 11 da Unicamp e cinco da PUC-Campinas.   Os alunos da Unicamp, contra os quais pesam suspeitas ou acusações de participações em trotes violentos, já haviam faltado em outras duas audiências anteriores realizadas em São Paulo. Cinco deles apresentaram justificativa de que conseguiram na Justiça um habeas corpus.   A assessoria do deputado informou que o documento não os exime de depor, apenas de não serem presos em caso de falso testemunho. Os outros convocados não apresentaram justificativa, o que foi considerado pelo deputado um “total desrespeito”. Os únicos alunos que compareceram, ambos da PUC, negaram prática violenta. Contra um deles pesa as acusações de ter urinado em um colega e de ter assediado sexualmente uma estudante de medicina, que na sequência se transferiu para outra universidade. Sobre os estudantes ainda pesava a acusação de produção de drogas para festas e de trotes no âmbito das atléticas.   O primeiro deles ressaltou que, justamente por ser um órgão ligado à prática esportiva, a entidade jamais participaria ou incentivaria trotes abusivos.   Questionado pelos integrantes da comissão, ele também negou que a Atlética ordenasse a alunos que levassem drogas ilícitas para festas, mas admitiu a presença de entorpecentes nas festas. A CPI durou aproximadamente dois meses e realizou 35 audiências sobre trotes nas Instituições de Ensino Superior de São Paulo — duas das audiências foram em Campinas. “É um universo de problemas tão grande que se fosse comparar a CPI a um livro ela não teria saído do índice. Os capítulos ainda não foram escritos”, disse Diogo. Sobre as informações colhidas na PUC-Campinas, o deputado considerou que atingiu os objetivos.   “A PUC foi bem feita. A Unicamp deu ausência total. Isso não impede que a gente escreva o relatório. Já entregamos uma versão parcial ao Ministério Público e vamos entregar uma versão definitiva.” Com a audiência de hoje, os depoimentos da CPI foram encerrados e o relatório será apresentado amanhã (10). O deputado pretende ainda apresentar os documentos ao Ministério Público Estadual e Federal e fazer as informações chegarem ao Papa Francisco, em razão das acusações de trotes nas Pontifícias Universidades Católicas.   “Nós católicos da comissão vamos para a nunciatura apostólica, para bispos e para CNBB. Meu mandato acaba dia 15, mas vou continuar como cidadão e vou fazer com que o relatório chegue ao papa Francisco.” Diogo afirmou ainda que a expectativa é que as investigações sobre os trotes continuem sendo feitas pelas Câmaras Municipais. “Enquanto a CPI funcionou houve um processo civilizatório, o nível de barbárie diminui. Nosso receio é que apague a luz da CPI e a barbárie volte.” A Unicamp e a PUC-Campinas informaram que apuram as denúncias apresentadas e reforçaram que proíbem atividades constrangedoras ou de risco envolvendo calouros.

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