VOLTA AO PASSADO

Alimento brota na mata em fazenda centenária

Cultivo tradicional dá lugar a agrofloresta em propriedade de Mococa

Projeto Ambiental
faleconosco@rac.com.br
18/10/2013 às 14:57.
Atualizado em 26/04/2022 às 05:33

Vanessa Tanaka* Ao olhar para a fazenda Santo Antônio da Água Limpa, localizada em Mococa, a 160 quilômetros de Campinas, não se imagina, nem de longe, que se trata de um lugar 100% natural. Mas a propriedade, que já foi um dos grande produtores de café, hoje é reconhecida pela ação da natureza em cada metro quadrado do local, a chamada agrofloresta. O antigo ganha-pão do senhor João Pereira Lima Neto, um dos proprietários, agora é só uma parte do rendimento, que vem também de outras fontes. De forma sustentável, tudo que é produzido não tem agrotóxicos e muito menos elementos artificiais que possam causar danos ao meio ambiente.  Lá, o equilíbrio natural não sofre interferências e cria uma harmonia entre fauna, flora e o homem. Diferente do que comumente é visto, a fazenda não tem plantação em local específico, fica tudo misturado. E onde a planta nasce, fica. É muito comum ver pés de várias espécies misturados à mata, com a circulação livre e frequente de animais — com exceção dos porcos que teimam em invadir a propriedade vizinha. Lima Neto costuma dizer que não se deve nadar contra a maré e que a própria natureza é bem clara nisso. Tanto que considera as formigas suas melhores operárias. “Voltei à minha verdadeira formação de engenheiro civil. Agora, construo casas para os pés de manga, abacate, jabuticaba, milho, feijão. Sinto que realmente me integro à natureza”, conta.  Mas a fazenda nem sempre foi assim. Antigamente, para dar conta da produção cafeeira, cerca de 1,5 milhão de pés, ele tinha que pagar cada vez mais insumos e, mesmo assim, a terra não ficava fértil. Comprava mais e nada de resultado. Uma bola de neve havia se formado. Foi então que resolveu voltar às raízes, plantar como sua família começou em 1822, quando a propriedade era só mata.  A decisão radical, colocada em prática em 1990, foi vista como antiagricultura, mas hoje a colheita é maior, a terra é fértil, o ar puro e a água limpa. A mudança refletiu também na saúde de Lima Neto. “Eu era obeso. Depois que mudei minha vida, emagreci muito e, desde 1994, não sei o que é tomar remédio”, conta.  Tudo que sai da terra vai para a mesa. A cozinha se transformou em laboratório e todo dia têm invenções culinárias assinadas pelo proprietário. Para ele, quando se produz dentro da mata, a compostagem é natural e fértil, o solo fica muito mais rico e o que sai dele é de melhor qualidade. Exemplo disso é a sua pequena plantação de café orgânico, que cresce escondida pelas plantas maiores, à sombra, ficando assim protegida da geada e do calor escaldante.  Por ser natural, que não recebe nenhum tipo de insumo, apenas os da própria natureza, possui qualidade diferenciada. Os pés ficam espalhados pela mata da fazenda, em várias ilhas, e seus grãos são todos exportados para o Japão, maior consumidor do produto. São enviados anualmente de oito a dez contêineres, sendo que cada um tem capacidade para 280 sacas. Troca de conhecimento atrai gente de todo mundo  Quando abriu a fazenda para o intercâmbio, em 2010, João Pereira Lima Neto não considerava a riqueza de conhecimento que iria adquirir. A troca de experiências, que não fica restrita apenas à agricultura, vem proporcionando mais inovação e dinamismo em todas as áreas.  Os seus maiores contribuintes são os alunos, profissionais e pessoas comuns do Brasil e de todas as partes do mundo que vêm ensinar e aprender. Alguns trocam a estadia por trabalho através dos programas de intercâmbio World Wild Oportunities on Organic Farms (WWOOF) e Help Exchenge.  Segundo Lima Neto, as portas estão sempre abertas para projetos e parceiros que acreditam nos valores da natureza e colabora com as pesquisas de universidades nas áreas de história, arquitetura, agricultura, biologia, ecologia e culinária, entre outros assuntos multidisciplinares. O proprietário conta que recebe grupos de estudantes, em sua maioria, estrangeiros vindos da Austrália, África do Sul, Alemanha, Holanda, Inglaterra e Estados Unidos, para vivenciar experiencias e, assim, ajudar a dispersar essa semente.  “Muitas pessoas pensam que eu é quem vou ensinar, quando na verdade é o contrário. Sou eu quem aprende com eles”, aponta. Não é raro ter contato com quem já foi embora e a maioria faz questão de manter a relação mesmo longe, nem que seja para mandar uma dica ou pedir um conselho.  A propriedade acolhe os visitantes, seja para intercâmbio ou apenas para relaxar, em seu casarão, construído no final do século 19 e que ainda preserva suas principais características. As 25 casas que antes pertenciam ao funcionários passaram por reformas e se transformaram em confortáveis chalés.

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