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Alerta no prato

Alimentação: estudo aponta que o campineiro consome gordura saturada além do recomendado e mostra que, quanto maior o nível de escolaridade, mais prejudiciais são os hábitos

Thaís Jorge
31/05/2015 às 10:00.
Atualizado em 23/04/2022 às 12:05
Lhais de Paula Barbora: "Muitas vezes, em busca de praticidade,  acabamos colocando a nossa saúde em risco. A recomendação é preparar os lanches em casa e levar para os momentos de intervalo no trabalho ou estudo." (  Divulgação)

Lhais de Paula Barbora: "Muitas vezes, em busca de praticidade, acabamos colocando a nossa saúde em risco. A recomendação é preparar os lanches em casa e levar para os momentos de intervalo no trabalho ou estudo." ( Divulgação)

Foto: Divulgação Lhais de Paula Barbora: "Muitas vezes, em busca de praticidade, acabamos colocando a nossa saúde em risco. A recomendação é preparar os lanches em casa e levar para os momentos de intervalo no trabalho ou estudo." Antes de começar a ler esta entrevista, faça um teste. Dê uma olhada na geladeira e na dispensa e tente se lembrar o que esteve em seu prato durante a semana. Provavelmente, foi a praticidade que coordenou o cardápio, certo? Se essa foi a resposta, pode ser que você faça parte das estatísticas analisadas pela nutricionista Lhais de Paula Barbosa, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Na pesquisa para sua dissertação de mestrado, ela avaliou o consumo de gordura pela população adulta de Campinas. E o resultado mostrou que a ingestão supera o recomendado e é maior quanto mais alto for o nível de escolaridade. Segundo a nutricionista, a relação se deve, provavelmente, ao ritmo de vida das pessoas com mais anos de estudo, aliado ao fato de que elas têm mais acesso a alimentos industrializados, uma das principais fontes de açúcares e gordura saturada. “Os impactos desse hábito alimentar a curto prazo são, principalmente, o ganho de peso e o aumento dos níveis de colesterol e de triglicérides. A longo prazo, o indivíduo pode desenvolver doenças crônicas, como diabetes e hipertensão arterial, além da obesidade”, informa Lhais. Sobre o estudo e como ter uma rotina mais saudável, a Metrópole bateu um papo com a nutricionista. Metrópole – Antes de tudo, qual é a definição mais adequada para o termo gorduras saturadas? Lhais de Paula Barbosa – Gorduras saturadas são aquelas encontradas, principalmente, em alimentos de origem animal, como carnes bovinas (especialmente cortes como cupim e costela), suínas (nas mais gordurosas, como costela e pernil) e nas de frango, principalmente na pele, além de queijos amarelados e manteiga. Vale ressaltar que essas gorduras, quando consumidas em excesso, podem prejudicar a saúde das pessoas e que produtos industrializados como nuggets, hambúrgueres, lasanhas prontas, pizzas, steaks, bolachas recheadas e salgadinhos de pacote também são fontes de gordura saturada.O que a motivou na escolha desse tema para a dissertação de mestrado? Ao optar por estudar esse tema, pretendia identificar diferenças no padrão alimentar dos moradores de Campinas e responder a alguns questionamentos, como: Será que existem diferenças no consumo de alimentos entre as pessoas? Indivíduos de diferentes níveis de escolaridade ou socioeconômico escolhem os mesmos alimentos? E qual nutriente é mais afetado por essas diferenças?Como foi feito o levantamento sobre a situação alimentar da população campineira?As informações da pesquisa fazem parte de um projeto maior, que é o Inquérito de Saúde de Campinas (ISACamp), realizado a cada cinco anos desde 2002. Meus dados foram coletados da segunda edição do ISACamp (2008/2009) e utilizei um instrumento chamado Recordatório de 24h. As pessoas foram entrevistadas em suas casas e relataram os alimentos que haviam consumido nas 24 horas que antecederam a entrevista. As informações foram processadas em um software de nutrição e então pudemos analisar cada nutriente da dieta dos entrevistados.As pesquisas para o ISACamp ainda estão sendo realizadas? Sim. A terceira edição do ISACamp (2014/2015) está em campo desde o ano passado e continua coletando informações. A novidade é que, desta vez, um módulo específico para a alimentação (ISACamp-Nutri) está sendo aplicado. Nutricionistas e entrevistadores treinados visitam os domicílios sorteados e fazem questões sobre alimentação e nutrição. Isso permitirá a ampliação das informações sobre a dieta dos campineiros e possibilitará verificar se a realidade observada em 2008/2009 melhorou, piorou ou se manteve igual no que se refere ao consumo de gorduras.Até o momento, a que conclusão já se chegou? Como é a alimentação do campineiro? Concluímos que o consumo de gorduras saturadas e trans é elevado na população e ainda maior entre as pessoas com melhor nível de escolaridade. Os resultados mostraram que as quantidades ingeridas dessas gorduras estão acima do recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que é de 10% do total de energia para o dia. Em Campinas, segundo o estudo, o consumo entre os homens é de 10,4%; entre as mulheres, 10,7%. Portanto, para o consumo desse tipo de gordura, posso dizer que a dieta dos campineiros não estava adequada.Quais são os efeitos que esses hábitos alimentares trazem a curto e longo prazos? A curto prazo, os impactos são, principalmente, o ganho de peso e o aumento dos níveis de colesterol e de triglicérides. Mas, a longo prazo, especialmente quando associados ao sedentarismo, ao consumo de bebidas alcoólicas e de cigarros, o prejuízo pode ser ainda maior. O indivíduo pode desenvolver doenças crônicas como diabetes, hipertensão arterial, doenças cardiovasculares e obesidade.Como explicar a relação entre o elevado consumo de gordura e o nível de escolaridade? Fazendo um paralelo do nosso estudo com os resultados publicados por outros pesquisadores, é possível dizer que, provavelmente, essa relação se deva ao ritmo de vida das pessoas com mais anos de estudo e maior acesso à compra de alimentos industrializados, como os que citei anteriormente.É possível mensurar a partir de quando, efetivamente, a qualidade da alimentação do campineiro começou a cair? Infelizmente, não. O ISACamp entrevista os indivíduos em uma única oportunidade, portanto, não é possível saber exatamente em que época ou em que momento a qualidade da alimentação piorou. Aliás, é importante ressaltar que não temos como dizer como era o consumo de gordura antes, pois não foi feita uma análise temporal. Como adotar uma alimentação equilibrada e mais natural, levando em conta a rotina agitada dos grandes centros? Quais alternativas podem ser sugeridas? Para conciliar rotina corrida e hábitos alimentares saudáveis, a grande estratégia é organizar-se com a alimentação. Muitas vezes, em busca de praticidade, acabamos colocando nossa saúde em risco. A recomendação é preparar os lanches em casa, como frutas picadas, sucos, vitaminas, sanduíches leves com salada e levar para os momentos de intervalo no trabalho ou estudo. No horário do almoço, se for necessário comer fora de casa, prefira restaurantes tipo self-service, que têm opções de salada e você pode escolher os alimentos e as quantidades que coloca no prato. Outras recomendações são substituir frituras por assados e retirar a gordura em excesso das carnes, como a pele do frango e a capa de gordura dos cortes bovinos. 

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