Comportamento

Ainda prefiro as cobras

15/10/2012 às 18:20.
Atualizado em 26/04/2022 às 20:21

Recentemente um telejornal importante deu uma matéria de quase 2 minutos sobre uma cobra encontrada em um apartamento de uma família de classe média. Os moradores, apavorados, teriam chamado a Polícia Ambiental e se mudado para um hotel até que o réptil fosse devidamente removido.

A notícia, na hora não me chamou muito atenção. Depois fiquei pensando que, até pouco tempo atrás, as pessoas viam uma cobra e, literalmente matavam-na a pauladas. Bem ou mal sabiam o que fazer. A ponto de termos até cunhado a expressão "mata a cobra e mostra o pau".

Hoje, não apenas as cobras são pouquíssimo familiares para a maioria das pessoas, mas o mesmo acontece com a maior parte dos animais - quaisquer que sejam eles. Prova disso é o filho de minha amiga que ganhou um pintinho amarelinho de presente e, depois de um tempo apareceu com a pobre ave morta na mãozinha pedindo para a mãe trocar a pilha...

Nem é preciso dizer que cada vez que conto isso sou interrompida por uma série de comentários indignados com a falta de correção em se dar um pintinho de presente em uma festinha de aniversário. Ok, sim disso e até concordo. Mas o que estamos discutindo aqui é a pouca familiaridade dos humanos com animais.

Isso é efeito do excesso de urbanização da vida contemporânea e coisa e tal. Aí chamamos a Polícia Ambiental para dar conta de tirar uma cobra de casa. Normal.

O problema é que, na outra ponta, aproveitando a faltando familiaridade com o mundo selvagem, traficantes ganham fortunas contrabandeando espécies raras que acabam sendo vendidas, entre outras coisas, para se transformarem em pets exóticos de urbanos carentes.

A variedade é imensa: hamsters, tartarugas em extinção, cacatuas, tucanos, macaquinhos... Tudo isso acrescido de um mercado para bichos que vai desde coleirinhas de strass para aves (sim você leu direito, coleira para aves) até caminhas com estampas de onça para cães, gatos e macaquinhos, passando por sapatinhos para quadrúpedes... E haja polícia ambiental!

Faço toda essa digressão pensando no quanto isso é um contra senso em um país do tamanho do nosso - e com a nossa incrivelmente rica fauna e flora! As famílias preferem gastar pequenos patrimônios levando os filhos em viagens para a Disney ou outros parques cheios de asfalto para que conheçam bonecos de feltro gigantes ou animais pré-históricos de plástico. Em vez de fazer com que conheçam nossos majestosos pantanais, grutas e florestas.

Ok. Uma coisa é uma coisa e outra, completamente diferente, é outra coisa. Entendo isso, mas acho que, para quem como nós vive em um país onde as cobras ainda podem aparecer de visita no apê e onças pintadas surgem frequentemente no meio de ruas movimentadas, estimular nossos pequenos a conhecerem melhor nossas espécies e seus hábitos teria muito mais utilidade do que apostar corrida com ratos como o Mickey.

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