Líquido&Certo

Ainda no clima

17/10/2012 às 17:42.
Atualizado em 26/04/2022 às 20:20

Para não sair do clima, prossigo aqui com os pitacos na trilogia mais falada dos últimos tempos, agora com 'Cinquenta Tons mais Escuros', o segundo da série de começa com 'Cinquenta Tons de Cinza' e termina com 'Cinquenta Tons de Liberdade'. Alguns leitores estranharam o fato de eu “ter deixado passar” o merchandsing insistente, a começar pelo nome do protagonista Christian Grey que remete imediatamente a uma conhecida marca de cosméticos. Os leitores estão certos. É cansativo trombar com o mesmo carro e o mesmo helicóptero nas centenas de páginas... É, sim, uma obra comercial na origem e a autora, E. L. James, não tem nenhum constrangimento com isso.

Mas o principal tema deste espaço são os vinhos, no caso os que o dominador escolhe para as refeições com Anastasia Steele. E eu dizia que inventar um enófilo convincente numa ficção requer que o autor também seja um conhecedor de vinho. Caso contrário, o resultado será frágil, tão frágil quanto os argumentos que Grey dispara para justificar a escolha dos modelos de carros que dirige e que presenteia as submissas. Em 'Tons mais Escuros', a presença do vinho, um indicador do refinamento do dominador nos primeiros capítulos, aos poucos vai esmaecendo até virar um lacônico “tomou mais um pouco de vinho”.

Eu sei, eu sei... Ninguém disse que o personagem era um enófilo. Acontece que eu sou e, nesta condição, o vinho nunca passa em branco. E como não notar o australiano Barossa Valley Shiraz compartilhado num restaurante intimista, ao som de Ella Fitzgerald? Ou o Pinot Grigio gelado que acompanhou um frango xadrez e macarrão chinês numa despojada refeição no tapete persa ao som de Buena Vista Social Club? Há até um momento para o Armagnac, bebida mais viril para um momento de tensão, que autora comete a imprecisão de chamá-lo de conhaque (esses brands, destilados de uva, foram comentados recentemente neste espaço).

Entre um clichê e outro, a passagem mais convincente é a descrição do cardápio do baile de máscaras (oh, céus, não podia faltar) que alinha, da entrada à sobremesa, os seguintes rótulos: Alban Estate Roussane 2006, Domaine de La Janasse, Vin de Constance 2004 Klein Constantia, Alban Estate Grenache 2006. Funcionou porque se tratava de uma esbórnia entre milionários e, obviamente, isso é sinônimo de jantar sofisticado e vinhos corretos.

Fora um Bollinger (de novo, o champanhe de James Bond, com aroma de merchandsing) aqui, umas cervejas (Adnams Explorers, Budvar) ali, um Frascati acolá, o atormentado casal segue sua saga sem muitos brindes. E o elemento vinho, que antes era tão presente, vaio perdendo acidez. E, de novo, a velha tecla: com vinho não existe enganação. In vi in veritas. Saúde!

Vale ouro

Já chegou por aqui o espumante Nero Gold que tem como principal atrativo o fato de conter partículas de ouro puro 23 quilates. Lançamento da Domno Brasil, é o primeiro das Américas elaborado com ouro (25 miligramas por garrafa). Trata-se um Blanc de Blancs (feito apenas com uvas brancas, neste caso 100% chardonnay). “Sem o ouro, seria um espumante de extrema qualidade; com o metal, é um produto excepcional”, define Jones Valduga, diretor da Domno.

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