ANTONIO CONTENTE

Água, água, água

Antônio Contente
08/07/2013 às 05:00.
Atualizado em 25/04/2022 às 09:29

Poucos elementos são tão presentes na vida do homem quanto a água. Basta lembrar que até nosso corpo é formado em grande medida por ela e, no planeta Terra, a parte líquida supera em larga dimensão a sólida. Quero, com este texto, buscar, como se poço artesiano cavasse nos planos da imaginação, a presença da água em coisas que você até pode conhecer no geral, mas só recordará através destas mal traçadas linhas. Há um verdadeiro oceano sob seus pés, sabia? É um aquífero subterrâneo (o Guarani) a se mover a todo instante esteja você a derrubar um “tea for two” n’algum lugar, dando alô à namorada, protestando contra a Dilma/Lula no Largo do Rosário ou até numa igreja em devota oração. No jardim, na entrada da sua casa, há um reloginho, não há? Pois é, o que a Sanasa, empresa hoje tão bem dirigida pelo meu amigo Arly de Lara Romeo, faz lá? Mede, o que é de praxe, aquilo que você consome no seu banho, comida, escalda pé, refresco ou na pedra do uísque. Porém, vamos redescobrir como o chamado “precioso líquido rola” pelos caminhos das ironias, sutilezas e, até, nos bons rasgos da inteligência.

Comecemos lembrando que quando determinado plano, seja político, empresarial, escolar, familiar ou qualquer outro, não dá certo, o que muitos se apressam a dizer é que “fez água”; ou “foi por água abaixo”. Mas, no boteco da esquina, alguém pode muito bem estar a se movimentar numa boa. Fazendo o que? Ora, derrubando uma “água que passarinho não bebe”...

Peguemos, agora, caso, digamos, passional. Você se espantaria se algum personagem de discussão amorosa murmurasse um “querida, o nosso caso está dando com os burros n’água”? Já de outro lado um dos envolvidos na história poderia argumentar que no futuro tudo poderia se ajeitar. Vamos dizer, em um ano. E o antagonista:

— Ih, nesse tempo “muita água ainda vai rolar por baixo da ponte”...

Recordo que certa vez, na escola dos meus verdes anos, ocorreu, no recreio, discussão entre dois alunos. Antes que as taponas voassem, apareceu alguém para “colocar água na fervura”. Recordo, ainda neste episódio, que um dos observadores da cena de quase pugilato suspirou: — Ah, o Zé... Ele adora “fazer tempestade em copo d’água”...

Mas queria retornar novamente ao passional. Era um amigo que, apesar de casado com mulher belíssima, costumava passá-la para trás inclusive com garotinhas sem encantos. Até que um dia a traída soube e resolveu retornar pra casa da mãe. Apavorado por redescobrir o quanto era apaixonado, o galã prometeu, de pés juntos: — Querida, vou “mudar da água pro vinho”...

Na nossa mesa diária no Café Regina senta de vez em quando um advogado que ainda ontem me garantiu que a situação do país é muito ruim; abriu os braços, ao sentenciar: “Isto está claro como água”.

Também na semana passada, o famoso repórter fotográfico Neldo Cantanti, personagem recorrente neste meu espaço, estava a tomar um hidrolitol comigo no barzinho na entrada da Galeria Trabulsi. De repente alguém perguntou a ele se não iria fotografar os acontecimentos do quebra-quebra na cidade.

— Tá doido? — O colega logo respondeu — “Gato escaldado tem medo de água fria”...

E foi outro parceiro de profissão, também muito famoso, o lendário jornalista Zaiman de Brito Franco, que, ao me convidar para feijoada de fim de semana, levantou o dedo diante da minha afirmação de que não degluto, por incompatibilidade gastronômica, tal iguaria: Nunca, meu caro, diga “desta água não beberei”. Pois, com uma baita fome...

Como vocês vêm, sempre, no dia a dia, você topa com a líquida personagem desta crônica. Eu mesmo, diante de pessoas a reclamar de ocorrências perdidas nas brumas do tempo, já bradei o famoso: “Aguas passadas não movem moinho”...

Fecho esta viagem insólita com algo ligado ao atual momento institucional; os amantes do mar constatam: “As águas quentes são as mais profundas”. E chego à política porque muita gente estranha que Lula, diante dos embates nas ruas, sumiu, não diz uma palavra sobre nada. O que isso significa? Novamente os marítimos: “As águas silenciosas são as mais perigosas”. E o complemento: “Não se deve confiar em gato que não mia e água que não corre”... Afinal, há quem diga que o ex-presidente adoraria jogar a tigrada do PT contra os manifestantes. Para observar um quebra-pau que seria como “fogo morro acima; e água morro abaixo”...

Assuntos Relacionados
Compartilhar
Correio Popular© Copyright 2025Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por