Agora não dá mais

A Ponte Preta ainda não anunciou, mas deixou bem evidente que deseja disputar o Campeonato Brasileiro sob o comando de um novo treinador. Como escrevi na coluna de terça-feira, não vejo motivos para a troca de comando, mas a diretoria não pensa assim e, apesar de ter anunciado a “permanência” de Guto Ferreira, está claro que a mudança será inevitável. Se o treinador não se desligar para assumir outro clube, a diretoria terá que pagar a multa rescisória, que, dizem, é de R$ 600 mil.

Repito que não vejo motivos para a troca, mas, com esse clima, não dá mais para dar sequência ao trabalho. Sem o apoio de vários integrantes da diretoria, Guto seria questionado a cada empate no Brasileirão. O melhor a fazer é contratar o novo técnico (provavelmente Dado Cavalcanti, que também interessa ao Paraná) o quanto antes para que ele possa se ambientar ao clube e implantar seu estilo de trabalho semanas antes da estreia contra o São Paulo.

Só acho que a Ponte deve ser mais criteriosa na análise do trabalho de seus profissionais. O clube já sofreu um pouco com isso em relação a goleiros. Nos últimos anos, foram várias contratações para a posição. Tenho a impressão que a Macaca procura um goleiro que não falhe, o que não existe. A atuação de Edson Bastos contra o Corinthians apenas comprova isso.

Com Guto, aparentemente ocorre um fenômeno parecido. A Ponte Preta poderia ter feito mais do que os 27 gols que anotou no Paulistão? Não tenho dúvidas que sim. Até o rebaixado Mirassol fez mais. Todo mundo gosta de um time que marca muitos gols. Mas e o fato de a defesa ter sido uma das menos vazadas do campeonato? E o fato de o time ter encerrado a primeira fase com saldo de 14 gols, o terceiro melhor do Paulistão? Guto não tem méritos por isso?

É difícil digerir uma derrota como a das quartas de final, mas trocar de técnico a cada decepção não é solução para nada.

O melhor exemplo disso é o Corinthians. No início de seu trabalho, Tite era criticado porque só ganhava de 1 a 0 (algo parecido com o que se fala de Guto). Foi mantido no cargo.

Depois, Tite sofreu uma humilhante derrota para o Tolima, na pré-Libertadores. O Corinthians virou motivo de piada, mas Tite foi mantido. Por fim, Tite foi eliminado nas quartas de final do Paulistão pela Ponte Preta, no Pacaembu. Ficou no cargo e meses depois foi campeão da Libertadores e do Mundial de Clubes.

Não estou dizendo que a Ponte será campeã brasileira se Guto continuar. Mesmo porque ele não tem um elenco milionário em mãos para ter essa obrigação.

A questão é que a Ponte, daqui para frente, deveria ser mais criteriosa na avaliação de seus treinadores. Dispensar Guto vai custar caro e não há nenhuma garantia que, com seu substituto, a Macaca se transformará em uma máquina de marcar gols, imune a derrotas frustrantes. A lição deve ficar para o futuro, já que com Guto não é mais recomendável permanecer. O trabalho de Guto tem algumas deficiências? Sim. As de seu sucessor serão menores? Não dá pra saber.