Chá: considerado um importante aliado na perda de peso, produto livremente comercializado pode não trazer apenas benefícios
O friozinho que ronda nossos dias é propício para encher as xícaras de chá e se aquecer com as tantas variedades da bebida. Melhor ainda se ela estiver relacionada à possibilidade de se obter benefícios para a saúde e emagrecer, não é? Quem se liga nas novidades do mercado para eliminar quilinhos extras já deve ter provado o chá de hibisco, o queridinho da vez entre os que vivem lutando contra a balança. Além de enxugar medidas, ele vem sendo consumido também como diurético, digestivo, regulador intestinal e antioxidante.
Encontrado em lojas de produtos naturais em sachês e porções da flor desidratada, o chá tem um sabor meio azedinho, comparado por muitos ao da framboesa. A indicação predominante é que ele seja tomado entre as refeições, sem adição de açúcar ou adoçante.
Pensando em emagrecer, a jornalista Fabiana Forgi (foto) incluiu o chá de hibisco na dieta por aproximadamente um ano. Em dois meses, ela eliminou cerca de cinco quilos ao associar o consumo diário de um litro e meio do líquido a dieta balanceada e malhação.
"Como não gosto de água, depois desse período continuei a tomar o chá para manter o peso e me hidratar", conta ela, atestando a ação diurética do produto. Entre as vantagens que ela encontrou no consumo da bebida estão o sabor agradável e o fato de não alterar o sono, o que acontecia quando tomava chá-verde. "Dependendo da quantidade consumida, o chá-verde me dava insônia", diz.
Antes de beber
Dois alertas são feitos pelo farmacologista João Ernesto de Carvalho, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), em relação a produtos naturais para perda de peso. O primeiro refere-se às cápsulas, que costumam aparecer após as versões para chá.
"Na produção da cápsula, é retirada a água do chá e concentra-se somente o que ela extraiu. Por isso, ao ingerir a cápsula, toma-se uma dose muito maior do que a infusão e aumenta-se o risco de efeitos adversos", esclarece. A outra recomendação refere-se à compra de produtos importados tidos como emagrecedores naturais, principalmente, por meio de sites estrangeiros. Segundo Carvalho, é comum a adulteração desses itens, adicionando a eles até substâncias proibidas como efedrina, anfetaminas, hormônio da tireoide (acelera o metabolismo) e laxantes. "Isso acontece, especialmente, nos Estados Unidos, que não têm regulamentação rígida nessa área."
Nada de confusão
A planta que dá origem ao chá do momento não é o hibisco comum, aquele que encontramos facilmente em jardins e nas calçadas da cidade e que tem como nome científico hibiscus rosa-sinensis.
A nutricionista funcional Renata Beraldo (foto) explica que a bebida é feita com o cálice das flores da espécie hibiscus sabdariffa. Para não haver engano, ela considera mais seguro utilizar as versões industrializadas e conferir o nome da variedade impresso no rótulo.
De acordo com a especialista, uma das principais características do hibisco é ser rico em flavonoides, substância antioxidante que combate os radicais livres. "Além de auxiliar na perda de peso, esse chá elimina o inchaço e as toxinas do organismo", diz.
Apesar dos benefícios, Renata alerta sobre a importância de consumir o produto somente com prescrição e orientação profissional. "É necessário avaliar se a pessoa tem alguma disfunção, os medicamentos que toma e o PH da urina. Da mesma forma que o ômega 3 não faz bem para todos, o chá de hibisco também pode não fazer", orienta. Segundo ela, na questão funcional, o hibisco fica aquém do chá-verde.
Sem licença para emagrecer
O farmacologista João Ernesto de Carvalho (foto), coordenador da Divisão de Farmacologia e Toxicologia do Centro Pluridisciplinar de Pesquisas Químicas, Biológicas e Agrícolas (CPQBA), da Unicamp, informa que o hibisco é usado como chá na área de alimentos e pode ser vendido em lojas de produtos naturais ou supermercados sem qualquer alegação - ou seja, não pode indicar suas propriedades, como, por exemplo, "chá para emagrecer".
Fora do Brasil, o hibisco tem seu uso em chás mais estabelecido. "É utilizado nas composições de diversos chás, principalmente por sua coloração avermelhada", diz.
Em relação aos efeitos emagrecedores atrelados à espécie, Carvalho afirma que não há estudos que comprovem essas propriedades. "O máximo ao que se chegou é que ele pode diminuir um pouco a pressão arterial e melhorar a atividade diurética. Mesmo em relação a esses efeitos são necessários mais estudos", ressalta.
Quanto à ação antioxidante, explica que as antocianinas, responsáveis pela cor roxo-azulada, são pouco absorvidas via oral. "O percentual que sai do sistema digestivo e chega à circulação é de cerca de 0,01%. Embora tenha propriedades antioxidantes, elas ficam todas no intestino. Para o organismo, de forma geral, não há benefícios", avalia.
O especialista, que também é membro da Comissão de Alimentos Funcionais da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (anvisa), compara o chá de hibisco a outros produtos caíram no gosto do brasileiro que quer perder peso com rapidez e sem esforço. "O óleo de coco foi uma febre dois anos atrás, não funcionou e todo mundo já se esqueceu dele", exemplifica.
Queridinho da vez, o chá de hibisco tem poder diurético, digestivo, regulador intestinal e antioxidante. O chá não é feito com o hibisco comum, encontrado em jardins e calçadas da cidade; por isso, tenha cuidado e esteja atento ao que consome.
Eficientes ou modismo?
Alguns dos principais produtos que, nos últimos anos, caíram no gosto do brasileiro que busca emagrecimento rápido: vinagre de maçã, chá verde, chá mate e óleo de coco.