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Raphael Veiga cria projeto social, sonha com Copa e mais títulos no Palmeiras

Estadão Conteúdo
24/07/2022 às 08:30.
Atualizado em 24/07/2022 às 08:36

Poucas horas depois do jogo com o América-MG, o meia Raphael Veiga, do Palmeiras, já tinha um importante compromisso. Chegou a São Paulo às 3h30 da manhã e, perto das 11h, lá estava ele no Allianz Parque para encontrar, pela primeira vez, as crianças do projeto social que criou.

A manhã ensolarada e a alegria contagiante das crianças foram suficientes para que o jogador se esquecesse do cansaço. Assim que ele entrou na sala de treino, ao lado do vestiário, após momentos de suspense, com a porta fechada, um alarido eufórico ecoou pelo recinto, seguido de uma correria desenfreada e de abraços cheios de inocência.

Denominada Projeto 23, em alusão ao número da camisa do jogador, a ação, que conta com a participação da mãe de Veiga, Márcia, oferece atividades educacionais e de lazer, para as crianças e seus familiares, em um centro educacional no bairro Jardim Nove de Julho, no distrito de São Mateus, zona leste de São Paulo.

Foi neste local, onde os sonhos se misturam às dificuldades do dia a dia, que Raphael Veiga nasceu, cresceu, deu seus primeiros passos e, como não poderia deixar de ser, seus primeiros chutes. Foi onde ele começou a sonhar em ser jogador de futebol. Por isso, já consagrado, decidiu se tornar um espelho para as crianças que hoje vivem por lá.

"É um projeto que começou há pouco tempo, já tinha um desejo de fazer isso. A minha mãe também foi muito importante nesta iniciativa, trabalhou o tempo inteiro com crianças, é formada em pedagogia. A gente tem o desejo de atender cada vez mais crianças e ajudar a retribuir um pouco o que o futebol tem me dado, o que a vida tem me proporcionado. Acho isso importante", diz o jogador.

FASES DA CARREIRA

O cansaço também não aparece no semblante de menino que o jogador mantém. Ele fala, no entanto, de uma maneira madura, firme. Mas sem perder a descontração de um jovem de 27 anos. Veiga parece conseguir lidar com leveza com os altos e baixos da carreira.

No atual momento, após perder duas penalidades (uma no jogo e outra na disputa de pênaltis) que ajudaram o Palmeiras a ser eliminado da Copa do Brasil pelo São Paulo, Veiga ainda não reencontrou seu melhor futebol. Deixou de ser decisivo, como era há algumas semanas. Para ele, são situações que fazem parte da carreira de qualquer jogador e que não servem para desmotivá-lo.

"Lido do mesmo jeito quando faço um gol ou quando perco um gol, não dá para a gente basear nossa felicidade, nossa identidade, em quem a gente é por um gol ou por perder um gol. O principal é saber quem eu sou, sei do que sou capaz. Tem que ter esse equilíbrio para eu não depender de elogios ou me abater com críticas", diz o jogador, que costuma valorizar as questões emocionais e assimilar o trabalho psicológico desenvolvido no clube.

Para Veiga, tudo continua dentro do esperado. Não são algumas oscilações, conforme diz, que o deixarão de manter a confiança em ser convocado para a seleção brasileira. Ele não descarta, inclusive, participar da próxima Copa do Mundo, a ser realizada entre novembro e dezembro, no Catar.

"Para isso me baseio naquele clichê: a esperança é a última que morre. Em futebol tudo pode acontecer, a gente viu em outras Copas que acontecem coisas. A minha parte é só estar preparado. Se vou ou não ser convocado, quando, só Deus sabe, cabe a mim treinar, me dedicar e dar o meu melhor, seja em treino ou em jogo. Com certeza é um sonho, claro que quero ir para a seleção. Tenho convicção de que estou no caminho certo, agora, quando vai acontecer eu não sei e não depende 100% de mim", afirma.

PASSADO E PRESENTE

Nas declarações do jogador fica clara a sintonia que ele tem com o técnico Abel Ferreira. Tal sintonia o ajuda a manter a confiança e a compreender até as suas frequentes substituições, geralmente no meio do segundo tempo. Isso ocorreu até nas duas finais da Copa Libertadores e na do Mundial e foram compreendidas por Veiga como uma das facetas da mentalidade europeia no trabalho de Abel.

"Cada pessoa pode ver pela ótica que acha melhor, eu prefiro olhar pela ótica de que ele está me preservando. Há muitos jogos na temporada, tenho iniciado em quase todos os jogos e vejo isso como uma maneira dele estar me preservando dentro da partida. Isso tem me ajudado", observa.

Veiga mostra ter clareza quando faz um paralelo entre o passado e o presente. De alguma maneira, ressalta que continua tentando evoluir, assim como nos tempos de criança, quando jogava futebol de forma lúdica, até começar a disputar Jogos Escolares, pelo colégio Amorim. Mesmo tendo se tornado profissional, o segredo para ele, e para tantos outros, é ter mantido aquela essência.

"Nunca fui um Messi quando criança (risos), mas, nas devidas proporções, eu me destacava entre as pessoas com que eu jogava. Atuava com mais velhos, mas quando eu era mais novo era muito fraco fisicamente, magrinho, até me chamavam de 'Cabeçudo'. Mas fui crescendo, ganhando corpo e isso me ajudou", observa.

LONGE DO VIDEOGAME

O fato dele não gostar de videogame e de, na concentração, buscar adquirir conhecimentos fora do futebol também o diferencia da média dos jogadores. Ele faz aulas de violão e de outros idiomas, tentando se aprimorar em outras áreas.

"Sou mais da música do que de filmes e séries, gosto de ler bastante, aprender coisas novas a gente tem muito tempo livre, mas não é para fazer qualquer coisa. Na concentração podemos ler, eu particularmente aprendo violão, outra língua, procuro me desligar um pouco do futebol nessa situação. Não gosto de videogame", completa.

O alarido das crianças já cessou. Elas já foram embora. Lá em cima das arquibancadas, um grupo de torcedores ainda chama o jogador. Como sempre, ele dá atenção. E, enquanto acena, fala com prazer sobre sua fase de menino quando, impulsionado pelo seu avô, Rafael, que falava de Alex, Evair e Ademir da Guia, se apaixonou pelo Palmeiras e pelo futebol.

"Ali em São Mateus foi o início do meu sonho de jogar futebol, foi lá que começou o desejo de eu me tornar jogador. Claro que era um negócio muito mais lúdico, de brincar, mas começou ali a despertar dentro do meu coração o desejo de estar mais com a bola. Até goleiro eu quis ser. Já brinquei no gol, eu gostava muito do Marcos, brincando eu falava que eu era o Marcos, que iria pegar no gol. Mas que bom que deu certo de eu ir para a linha e não ter sido goleiro", completa, com o bom humor que o acompanha sempre. Cansado ou não.

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