O Ibovespa acompanhou até certo ponto a piora de Nova York à tarde, onde a percepção de risco voltou a se deteriorar nesta terça-feira, pré-Fed e pré-Copom, com a falta de descompressão no Oriente Médio. O temor, agora, é de que os Estados Unidos, deliberadamente, possam vir a se envolver de forma direta no conflito deflagrado por Israel, de forma a neutralizar as capacidades nucleares do Irã, vistas como uma ameaça existencial pelo aliado na região - estratégica para a produção global de petróleo.
Nesta terça-feira, a commodity subiu mais de 4% em Londres e Nova York, com impulso na etapa vespertina ante os rumores sobre eventual participação americana no conflito iniciado na noite da última quinta-feira.
Em comentário ambíguo, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou nesta terça que os americanos não pretendem assassinar o líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei - "pelo menos não por enquanto", ressalvou.
Em publicação na rede social Truth Social no início da tarde, Trump disse que os EUA sabem exatamente onde Khamenei está se escondendo. "Ele é um alvo fácil, mas está seguro lá - não vamos eliminá-lo (matar!), pelo menos não por enquanto", escreveu. Em Nova York, as perdas da sessão ficaram entre 0,70% (Dow Jones) e 0,91% (Nasdaq).
Aqui, o Ibovespa caiu 0,30%, aos 138.840,02 pontos, entre mínima de 138.293,11 e máxima de 139.496,64 em sessão na qual saiu de abertura aos 139.255,91 pontos. O giro financeiro ficou em R$ 22,7 bilhões. Na semana, com a alta de cerca de 1,5% na segunda-feira, o Ibovespa ainda avança 1,19% e, no mês, tem ganho de 1,32%. No ano, o índice da B3 sobe 15,43%.
Por um lado, o Ibovespa foi pressionado pela queda de 4,50% de Vale ON, a principal ação da carteira - e que na segunda, em alta de 3,26%, havia sido fundamental para o avanço de 1,49% do índice. Por sua vez, o sólido ganho de Petrobras (ON +2,95%, PN +2,27%) desempenhou papel correlato, ao abrandar o efeito negativo da mineradora sobre o Ibovespa - na segunda-feira, os dois papéis da estatal haviam fechado o dia em baixa. Os grandes bancos ao final foram majoritariamente positivos, com variações entre +0,20% (Santander Unit) e +1,50% (Bradesco PN), ambas nas respectivas máximas da sessão no encerramento - exceção para Banco do Brasil (ON -0,36%).
Na ponta ganhadora do Ibovespa, além de Petrobras, destaque nesta terça também para Vamos (+2,46%), Prio (+1,97%) e Direcional (+1,90%). No lado oposto, além da Vale, apareceram Usiminas (-6,90%), Cosan (-3,79%), Bradespar (-3,00%) e Suzano (-2,97%).
Considerando a desaceleração do IPCA nos últimos meses, a expectativa para o Copom da quarta-feira, em parte, é de manutenção da Selic em 14,75%, mas há quem pense que a taxa básica de juros possa ser elevada em 25 pontos-base, o que a colocaria em 15%. De qualquer forma, o ciclo de alta de juros está perto de sua conclusão, na avaliação do mercado a partir dos sinais emitidos pelo BC, seja no comunicado, seja na ata da mais recente reunião - o que recolocará, mais adiante, o debate sobre o momento em que as taxas poderão começar a cair.
Ainda assim, ao se analisar a conjuntura econômica desde a última reunião do Copom, e os impactos da política monetária e comercial, "é crucial observar que o cenário internacional permanece incerto: países continuam negociando condições tarifárias com o Departamento de Comércio americano, sem a garantia de grandes avanços", aponta Roberto Simioni, economista-chefe da Blue3 Investimentos.
"A inflação de curto prazo continua pressionada, principalmente nos setores de serviços e bens industrializados, refletindo efeitos do câmbio e do setor alimentício", acrescenta o economista, observando também que os dados ainda indicam que "o mercado de trabalho e a atividade econômica permanecem dinâmicos, embora com sinais de moderação no crescimento".
"Está dividido para o mercado: atividade ainda está relativamente aquecida, o que prejudica a tese de que os juros possam já ter chegado ao fim do ciclo de alta, mas o que se tem na mesa, mesmo, é manutenção da Selic amanhã ou mais um aumento de 0,25 ponto porcentual", diz Ian Lopes, especialista da Valor Investimentos.