A Liga dos Social-Democratas (LSD), um partido político pró-democracia de Hong Kong, anunciou sua dissolução neste domingo, 29, devido à imensa pressão política. O grupo é a vítima mais recente de uma repressão de anos que já silenciou grande parte da oposição, bastante vocal no passado.
Após massivos protestos antigovernamentais em 2019, muitos dos ativistas mais proeminentes foram processados ou encarcerados sob uma lei de segurança nacional imposta por Pequim em 2020. Dezenas de grupos da sociedade civil foram dissolvidos. Meios de comunicação críticos ao governo fecharam.
A Liga dos Social-Democratas era o único partido pró-democracia que ainda organizava pequenos protestos de vez em quando e mantinha atividades em estandes nas ruas, para continuar com sua defesa apesar dos riscos.
A presidente do partido, Chan Po-ying, disse que a decisão foi tomada após uma cuidadosa deliberação, especialmente levando em conta as consequências para seus membros e companheiros. Chan se recusou a dar detalhes sobre a pressão, mas disse que estava orgulhosa pela contribuição do partido para o movimento pró-democracia da cidade nos últimos anos.
"Permanecemos fiéis às nossas aspirações originais e não decepcionamos a confiança depositada em nós por aqueles que foram para a prisão", afirmou ela. "Embora agora sejamos forçados a nos dissolver e sintamos uma dor em nossa consciência, não temos outra escolha", acrescentou.
Em 1º de julho, Hong Kong celebrará o 28º aniversário de seu retorno ao domínio chinês. A cidade, uma antiga colônia britânica, costumava contar com protestos pró-democracia anuais nesse dia, e várias outras manifestações reivindicando melhores políticas. Isso cessou após a maioria dos grupos organizadores se dissolverem, e os principais ativistas serem presos.
Críticos dizem que as drásticas mudanças políticas sob a lei de segurança refletem que as liberdades que Pequim prometeu manter intactas em 1997 estão diminuindo. Os governos de Pequim e Hong Kong insistem que a lei é necessária para a estabilidade da cidade.
Supervisionando os assuntos de Hong Kong em 2023, um oficial chinês disse que os protestos não são a única forma das pessoas expressarem suas opiniões, indicando a postura de Pequim em relação às manifestações na cidade.
Em abril, o Partido Democrático, maior partido pró-democracia de Hong Kong, também votou para dar a sua liderança o mandato de avançar para uma possível dissolução. Uma votação final é esperada.
Chan disse acreditar que o princípio de "um país, dois sistemas", que Pequim usa para governar Hong Kong, já terminou, apontando para a imposição da lei de segurança pelo governo chinês e levantando a ideia de "resistência suave", um termo usados por oficiais para se referir aos riscos de segurança subjacentes. "Um país, dois sistemas já se tornou um país, um sistema", disse ela.
Fundada em 2006, a Liga dos Social-Democratas era um partido político de esquerda que se opunha ao que chamava de conluio entre o governo e as empresas. O partido defendia o princípio de que as pessoas têm voz e estava firmemente comprometido com os interesses dos residentes menos privilegiados.
Era amplamente conhecido por táticas de confrontação mais agressivas na luta por mudança. Seus membros lançaram bananas, ovos e carne enlatada em oficiais ou legisladores pró-Pequim como protesto. A plataforma do partido dizia que o grupo defendia a resistência não violenta, mas não evitaria confrontos físicos - postura que o diferenciava de grupos mais antigos e tradicionais.
O partido chegou a ter três legisladores no cargo. Seu parlamentar com mais tempo de serviço, Leung Kwok-hung - marido de Chan - foi desqualificado da legislatura devido à sua maneira de prestar juramento ao tomar posse, em 2017.
No ano passado, Leung e o destacado ativista LGBTQ+ Jimmy Sham, um ex-líder do partido, foram condenados a quase sete anos e mais de quatro anos por seus papéis em uma eleição primária não oficial sob a lei de segurança. Sham foi liberado da prisão no mês passado.
Nos últimos anos, o partido teve influência política limitada, e não tem mais cadeiras no parlamento nem nos conselhos distritais locais. Até um banco parou de fornecer serviços ao grupo. O partido continuou, porém, a organizar pequenos protestos ocasionais, apesar das prisões. Em 12 de junho, Chan e outros membros foram multados pelas atividades em estandes de rua. Sem deixar desanimar, seguiram pressionando e protestaram contra a decisão fora do tribunal.
Durante coletiva de imprensa neste domingo, a presidente do partido enxugou as lágrimas e entoou slogans ao lado de outros membros. Chan disse que não acredita que a democracia chegará num futuro próximo. "Avançar não é nada fácil", afirmou. "Espero que todos possam se tornar como uma brasa, uma faísca voadora - ainda trazendo luz, mantendo essa chama viva, por menor que seja."