O dólar acentuou bastante o ritmo de alta ao longo da tarde desta quinta, 15, e se aproximou no nível de R$ 5,70 com um aumento da percepção de risco fiscal, após relatos de que o governo estuda a adoção de um pacote de medidas para alavancar a popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Antes, já circulavam informações de que o Planalto pretendia reajustar o Bolsa Família a partir de 2026.
Apesar de negativas de autoridades em Brasília, incluindo uma fala dura do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, o desconforto com o quadro fiscal continuou a permear os negócios no mercado de câmbio doméstico, embora o dólar tenha desacelerado o ritmo de alta reta final da sessão. Já abalado pelo tombo do petróleo e o ambiente ruim para divisas latino-americanas, o real terminou por apresentar nesta quinta-feira o pior desempenho entre as moedas mais líquidas.
Com máxima a R$ 5,6974, o dólar à vista fechou em alta de 0,82%, cotado a R$ 5,6788. Depois do avanço dos últimos dois pregões, a moeda passou a apresentar ganho de 0,42% na semana e de 0,04% em maio. As perdas da moeda ano, que na segunda-feira superavam 9%, estão agora em 8,11%.
"A questão fiscal voltou a influenciar o câmbio. O governo conseguiu ressuscitar o assunto com essa história de reajuste do Bolsa Família. Quando Lula estava recuperando a popularidade, veio o escândalo do INSS e o governo parece querer reagir", afirma o head da Tesouraria do Travelex Bank, Marcos Weigt, em referência aos descontos indevidos em salários de aposentados.
À tarde, fontes ouvidas pelo Broadcast afirmaram que o Palácio do Planalto analisa uma série de medidas para tentar alavancar a popularidade de Lula. Estariam em estudo um novo Vale Gás, uma linha de crédito para entregadores por aplicativo e um programa para uso de estrutura de hospitais particulares para cirurgias do SUS. Haveria estudos também para uma linha de financiamento para melhorias em moradias precárias e uma proposta para igualar benefícios de motoristas de aplicativo aos de taxistas.
Diante dos rumores sobre um reajuste do Bolsa Família, o ministro do Desenvolvimento Social, Wellington Dias, e fontes de diversas alas do governo negaram a intenção de elevação do benefício no próximo ano, marcado pela eleição presidencial. "Não há decisão e nem estudos para o reajuste citado", disse Dias ao Broadcast Político.
Em seguida, foi a vez das negativas de Haddad. Ele ressaltou que não há "demanda de espaço fiscal para novos projetos". Segundo o ministro, estariam em discussão medidas pontuais para cumprimento do resultado primário de 2025. "Não há da parte do MDS pressão sobre a área econômica para nenhuma iniciativa nova", disse, em referência ao ministério do Desenvolvimento Social.
O economista-chefe da Frente Corretora, Fabrizio Velloni, observa que a tendência global de enfraquecimento da moeda americana poderia abrir espaço para queda adicional do dólar por aqui, mas que a preocupação com o quadro fiscal doméstico impede uma apreciação maior do real.
"Há muita dúvida ainda com a parte fiscal, que ficou um tempo fora de foco por conta das turbulências globais com as tarifas de Donald Trump. A volta do problema fiscal para a pauta pode puxar o dólar novamente para o nível de R$ 5,90", afirma Velloni.
Lá fora, o índice DXY - que mede a força do dólar em relação a uma cesta de seis divisas fortes, em especial o euro e o iene - operou em baixa moderada ao longo do dia e rondava os 100,800 pontos no fim da tarde, após mínima aos 100,589 pontos. As cotações do petróleo caíram mais de 2% com possibilidade de acordo entre EUA e Irã sobre a questão nuclear, o que poderia levantar sanções sobre o óleo iraniano.
Leitura de indicadores americanos, como vendas no varejo e produção industrial, vieram abaixo do esperado, embora não mostrem sinais de uma piora acentuada da economia dos EUA desenhada pelo chamado 'soft data', como os números de confiança do consumidor e índices de gerentes de compras. Em todo caso, sugerem que pode haver espaço para o Federal Reserve cortar os juros neste ano, mesmo com um eventual repique dos preços.
Após a leitura benigna da inflação ao consumidor, saiu hoje que o índice de preços ao produtor (PPI, na sigla em inglês) dos EUA caiu 0,5% em abril, enquanto se esperava alta de 0,2%. Na comparação anual houve avanço de 2,4% em linha com o esperado. O núcleo do PPI caiu 0,4%, diante de previsão de alta de 0,3%. Mas o núcleo subiu 3,1% na comparação anual, pouco acima das expectativas (3%).
Segundo a Capital Economics, tanto as vendas no varejo quanto o PPI trazem poucos sinais negativos da política tarifária de Donald Trump. Em nota a clientes, a consultoria britânica prevê agora que o Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA crescerá 2,5% no segundo trimestre, após a contração de 0,3% do primeiro trimestre.