O Banco de Brasília (BRB) anunciou na sexta-feira, 28, a compra de 49% das ações ordinárias (com direito a voto) do Banco Master e de 100% das ações preferenciais (sem direito a voto), por cerca de R$ 2 bilhões. Os dois bancos continuarão operando separadamente, mas haverá apenas uma marca, a do BRB.
Daniel Vorcaro continua como controlador do Master, que se tornaria BRB Bnaco de Investimentos, com 51% de participação com direito a voto.
O BRB terá poder de veto em determinados temas.
A operação só será fechada após o cumprimento de algumas condições, como a conclusão de uma diligência dos ativos e passivos do Master. Também após a aprovação das autoridades, como Banco Central (BC) e Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).
O Master passará por uma reestruturação societária, em que participações detidas pelo banco serão segregadas da estrutura.
Na venda, entram apenas o banco múltiplo, a fintech Will Bank e a securitizadora Maximainvest.
Por que a operação do Master era polêmica?
- Parte importante do patrimônio que garantia a solidez do banco era composto por precatórios (títulos de disputas judiciais contra governos), que são de recebimento incerto e tinham tratamento equivalente a títulos públicos no balanço.
- O banco multiplicou por dez seu patrimônio e quintuplicou sua carteira de crédito desde 2021. Um dos motores desse crescimento foi a oferta de Certificados de Depósito Bancário (CDB) que pagam ao investidor taxas muito acima dos concorrentes, de até 140% do CDI.
- Os CDBs são garantidos pelo Fundo Garantidor de Crédito (FGC). No ano passado, o volume de CDBs emitidos pelo Master e seus coligados equivalia a mais de um terço do que o FGC tinha disponível em seu fundo, para ressarcir investidores em até R$ 250 mil, caso haja quebra de alguma instituição do sistema. A propaganda de venda dos fundos do Master era feita em cima dessa garantia.
- O Banco Central reajustou normas que tocavam nesses dois pontos (precatórios e CDBs), o que obrigou o Master a adequar suas operações.
- Sem acesso investidores institucionais e gestoras, o Master passou a captar recursos em fundos de pensão de Estados e municípios (RPPS), sendo o maior deles na cidade do Rio de Janeiro. O total chegou a R$ 800 milhões.
- O Master ficou dependente do aporte dos acionistas, que colocaram R$ 1,6 bilhão no primeiro semestre do ano passado para fortalecer o capital.
- O banco tentou fazer captações internacionais, com títulos de dívida chamados bonds, no valor de US$ 500 milhões. Não foi bem sucedido.
- O Master também tem uma carteira grande de empréstimos corporativos feitos a empresas classificadas como em "situações especiais", ou seja, dificuldades financeiras. Esses empréstimos são feitos diretamente ou via fundos ligados a investidores como Nelson Tanure. São operações com baixa liquidez, com risco carregado para o banco.
O que falta responder?
- Por que o BRB comprou um banco envolvido em tantas polêmicas?
- O BRB terá solidez para levar adiante essa operação?
- Qual parte será segregada do banco e ficará de fora do negócio?
- Por que as operações serão independentes, apesar de ficarem sob uma única bandeira?
- Por que Daniel Vorcaro, fundador e principal executivo do Master, permanece como controlador da instituição?
- O que acontece com o Master, caso a transação com o BRB não seja aprovada?
- Como fica o restante da operação, caso a venda seja aprovada?
- Os R$ 2 bilhões a serem pagos pelo BRB serão usados para capitalizar a operação restante do Master ou irão para os acionistas?