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Academia Gracie em SP usa brincadeiras para ensinar jiu-jítsu para crianças

Estadão Conteúdo
05/02/2023 às 15:00.
Atualizado em 05/02/2023 às 15:09

Entre brincadeiras de "Raio Laser" e "Touro Mecânico", os alunos a partir de 3 anos de idade dão seus primeiros passos dentro do jiu-jítsu, tendo contato de forma lúdica com a arte marcial, mas aprendendo no dia a dia os valores de disciplina, foco, concentração e, sobretudo, o respeito que ela traz consigo. No espaço que antes abrigava uma adega, o faixa preta primeiro grau Felipe Franhani comanda na zona oeste de São Paulo a unidade da Vila Romana da Gracie Barra, tradicional escola da "arte suave" que leva os preceitos do mestre Carlos Gracie Jr. em mais de 1.000 unidades espalhadas pelo mundo.

Com turmas divididas entre a GBI (para crianças de 3 a 5 anos), GBII (de 6 a 9) e a categoria Junior (10 a 15 anos), a Gracie Barra da Vila Romana tem como missão plantar nas crianças valores que elas irão levar para o resto da vida. "A gente está sempre frisando que o importante é estar aprendendo o tempo todo e treinar cada vez mais. E a gente também diz que às vezes a derrota te ensina e a vitória te cega. Então, é ter humildade. Reconhecer que você venceu e aprender com seus erros. A questão do nunca desistir. A gente fala do nosso credo, do nosso lema de fortalecer o corpo, a mente e o espírito", diz o professor Felipe Franhani, proprietário da unidade.

Os valores trazidos pela "arte suave" já são percebidos pelos pais das crianças, que se orgulham em citar como a prática do jiu-jítsu alterou para melhor o comportamento de seus filhos. Karina Cortina é mãe de José Renato, de 9 anos, que há poucos meses iniciou os treinos na Gracie Barra da Vila Romana. Apesar do pouco tempo de prática, a mãe já identificou melhorias no comportamento do filho, que passou a ser mais responsável e respeitoso. "O dia que tem jiu-jítsu é um dia que não tem problema, o horário vai ser cumprido, porque é um dia de prazer", disse.

"Sempre achei que as artes marciais ensinavam disciplina, respeito e hierarquia. Acho que é importante, além do treino de força, de ser um esporte, tem toda essa questão da disciplina, que acho que é importante para essa juventude de hoje", seguiu. "Ele se veste sozinho, coloca o quimono, faz todo ritual para cuidar das próprias coisas. Só de ele cuidar disso, já acho importante, de ele ter essa responsabilidade. Outra coisa que achei legal é que ele já observou como funciona a postura no tatame. Então, já faz referência ao tatame quando entra, cumprimenta o mestre. Pelo menos aqui, ele já está entendendo essa questão da hierarquia", acrescentou Karina.

FORMA LÚDICA

O professor explica ao Estadão como adapta os métodos de ensino dos fundamentos do jiu-jítsu em brincadeiras para a criançada, que ganham momentos de descontração após cumprirem a série estabelecida de treinamentos.

"Fazemos cabo de guerra, pique bandeira, todas brincadeiras a gente coloca mensalmente ou semanalmente como uma recompensa após o treino de técnicas. A gente aborda defesa pessoal, treinamentos em situação de bullying, onde o agressor quer demonstrar superioridade física ou mesmo machucar a criança, técnicas de pé e técnicas em solo. Depois, a gente libera a criança para a brincadeira. Elas gostam muito de uma chamada 'Bulldog'. É como se fosse um pega-pega, mas nessa o pegador é um 'Bulldog', e o objetivo dele é derrubar. E nesse momento é bom para treinar alavancas e como derrubar e as crianças aprendem a cair e as regras associadas ali. É super legal essa brincadeira", explicou Franhani.

No dia da visita da reportagem, o "Bulldog" foi substituído pelo "Touro Mecânico" e "Raio Laser", que não fica atrás na preferência da criançada. Além de Felipe, a unidade contou com o professor faixa marrom Marcelo Dias, que auxiliou nos treinamentos corrigindo movimentos e instruindo as crianças.

Clara, de 5 anos, estava estreando em um novo horário e dentro do tatame não continha os sorrisos ao participar das brincadeiras. Mais tímida, em conversa com o Estadão, tentou explicar as atividades. "Ele roda a faixa e a gente tem de pular ou se abaixar na brincadeira do 'Raio Laser'". Quando comentou sobre o Touro Mecânico, foi categórica e sincera: "É difícil não cair".

AUTOCONFIANÇA

O professor Felipe Franhani cita o exemplo de um aluno que chegou ao dojo, local onde se treinam artes marciais, acanhado e tendo de lidar com medo de agulhas, dificultando a realização de exames médicos de rotina e aplicação de vacinas, por exemplo. Com as lições tomadas dentro do tatame, a família percebeu que o garoto, aos poucos, foi lidando com seus temores e hoje é considerado "um tratorzinho" pelo professor devido à força que desenvolveu nas aulas.

"Aqui, acho que é principalmente a questão da defesa pessoal, principalmente para as meninas, que dá muita confiança. Saber o que pode fazer, o que não pode. Então, principalmente as meninas, vão ganhar mais autoconfiança. Mas é isso, a autoconfiança, ser uma melhor pessoa e acabar com esse negócio de brigão", disse Franhani.

Ainda assim, ele afasta a ideia errônea de que praticar uma arte marcial pode deixar a criança violenta. No Gracie Barra da Vila Romana é ensinado "que o bom de luta não é o bom de briga" e que "é bom saber e não precisar usar (o jiu-jítsu) do que precisar usar e não saber".

Com planos de expansão e melhoria na unidade, Franhani revela à reportagem que um de seus próximos passos é eternizar nas paredes do local um lema proferido pelo fundador da Gracie Barra, Carlos Gracie Jr, para que os alunos absorvam essa ideia cada vez que chegarem ao dojô.

"Nós buscamos treinar o corpo, a mente e o espírito através do mais alto nível de instrução do jiu-jítsu. Imaginamos o estudo da arte como veículo fundamental de desenvolvimento individual e de fortalecimento do espírito de família, indo além da filosofia de meramente ganhar ou perdão.

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