Ulisses teve um sonho tão estimulante, que acabou acordando no meio da noite. Não, ele não sonhou com uma mulher. Nem com várias. Ele sonhou que tinha livrado a cidade do atual prefeito, um safado, e era adorado por isso.
Aquele sonho deixou Ulisses animado como nunca em sua vida sem graça de funcionário de almoxarife, marido de uma mulher mais previsível que cerimônia do Oscar e dono de carro popular um ponto zero.
O sonho não deixou claro o que Ulisses fizera exatamente para derrubar o político corrupto, mas para ele aquilo só poderia ser um sinal. Era dever dele fazer algo realmente grandioso, algo que tirasse não só a cidade, mas ele próprio daquela inércia.
Como já estava acordado, Ulisses se meteu a pensar ali mesmo, na cama, no que poderia fazer. Como ser aquele revolucionário do sonho? O que fazer primeiro? Pensou em fazer um abaixo-assinado pela internet. Não, aquilo era muito pouco. Não teria o menor efeito. Além disso, ele nem sabia mexer direito em computador.
E um protesto em frente à prefeitura? É um clássico! Mas aqui no Brasil isso não resolve nada. Todo mundo faz e não vira porcaria nenhuma. Só serve para tomar cacetada e spray de pimenta da polícia.
Passou pela cabeça dele organizar uma marcha, mas logo descartou a ideia. Passaria o dia inteiro andando debaixo daquele sol escaldante, seguido por um monte de gente e, no final das contas, ninguém nem lembraria mais pelo o que estavam marchando.
O certo era encontrar provas concretas contra o prefeito, contar com a ajuda de vereadores honestos – caso existam –, contatar um bom promotor para redigir a cassação e aí, legalmente, afastar o larápio da prefeitura. Mas isso demoraria muito.
Esse prefeito estava acabando com a cidade rapidamente, e precisava sair logo do poder. Por isso, era necessária uma atitude drástica. E urgente! A revolução não podia esperar tanto tempo, não podia esperar um dia sequer. Teria que acontecer aquela noite, até porque se a gente deixa de fazer algo importante na hora em que decide fazer, a gente acaba desistindo e nunca mais anima para fazer de novo.
Por isso, Ulisses manteve a decisão de agir aquela noite mesmo e até definiu de uma vez por todas o que faria. Ele iria sequestrar o prefeito e torturá-lo até ele concordar em renunciar ao cargo.
Após se convencer de que essa era a ideia perfeita para livrar a cidade do larápio, Ulisses pulou da cama e gritou:
– É isso! A hora é agora!
É claro que isso acordou a mulher dele, que questionou:
– Que isso, Ulisses? Tá com dor de barriga?
– Não, amor. É que eu vou...
– Vai assaltar a geladeira?
– Não, eu vou é...
– Se não é banheiro nem fome, fica quieto e vem dormir.
Sem protestar, ele foi para a cama.
Maurício Fregonesi Falleiros é publicitário