A tradição ensina que, no ano de 387 a. C., próximo a Atenas, no local onde Platão reunia-se com seus discípulos, veio a florescer a primeira academia que se tem notícia. Etimologicamente, a expressão “academia” quer dizer “o bosque de Academos”, herói grego a quem se consagrou um jardim de oliveiras no mesmo local.A academia, então, deixou de ser apenas um espaço geograficamente definido, tornou-se uma escola filosófica grega e, séculos mais tarde, cosmopolitizou-se, estruturando-se como uma instituição voltada para o cultivo da literatura, da história, da filosofia e da ciência.Mal sabia Platão da importância que sua originária academia traria para as inúmeras gerações que o sucederam e que, como a sociedade grega, também procuraram e, ainda hoje, procuram compartilhar o saber, preservar as descobertas e transmitir aquele legado para as gerações vindouras. Em várias línguas e lugares. E por aqui também.Nessa semana, comemoramos o 57º aniversário da Academia Campinense de Letras, essa importante associação que congrega pessoas que transitam por diversos segmentos do conhecimento humano e que têm um protagonismo fundamental dentro daquele rol de propósitos costumeiramente reconhecidos em favor de instituições dessa envergadura.Dentre essas inúmeras finalidades, a Academia Campinense de Letras ajuda a zelar pelo depósito do conhecimento humano. Não por intermédio dum zelo fechado às novas possibilidades do saber, mas que procura harmonizar o saber clássico com as contribuições das diversas correntes de pensamento da modernidade, das ciências e do ideário das liberdades cívicas.E o espaço da Academia Campinense de Letras é justamente a arena excelente para o alcance desse ideal: um ideal que, por sua amplidão de horizontes, está além das forças de qualquer indivíduo, sendo necessária a cooperação de várias pessoas com mentalidades, formação, inclinações e opiniões diversas.Um espaço que exige estudo permanente e metódico, levado a cabo com paixão e temperado pelo debate de ideias pautado pelo respeito, liberdade e responsabilidade intelectuais. Um ambiente com um espírito coletivo de busca da verdade aberto à inovação, sem apegos obstinados ao passado.Mas a Academia Campinense de Letras destaca-se, também, pela defesa de alguns valores fundamentais, sem os quais a sociedade — e cada homem em particular — acaba por deteriorar-se. São a dignidade da pessoa humana, mediante a defesa e a promoção dos direitos e deveres de cada pessoa, os quais são anteriores ao Estado, competindo-lhe o respeito, a fim de assegurar a legitimidade de uma ordem social e evitar o império de qualquer relativização ideológica; a tutela dos valores que fundamentam a civilização ocidental, bem como da mútua autonomia das esferas política e religiosa e, também, o ideal democrático aliado à observância da liberdade dos indivíduos e das organizações intermediárias.Como pode ser visto, a Academia Campinense de Letras atua e colabora na condução de uma nobre dimensão de nossa sociedade. A dimensão invisível de nossa dimensão visível: a dimensão espiritual de nossa dimensão corporal. Uma dimensão que, no fundo, é a alma do corpo social. Uma dimensão que explica o agir da outra dimensão através dos tempos e de toda sua expressão filosófica, literária e artística.Por isso, uma academia, como a Academia Campinense de Letras, é muito mais do que uma associação de autores representativos das ideias de seu tempo. É um magnífico painel do esforço individual e coletivo para eleger o humanismo integral como experiência de vida e exemplo de dignidade do homem.Existem artigos-manifestos, artigos-informativos, artigos-críticas, artigos-defesas, artigos-sem-pé-nem-cabeça, artigos-crônicas. Um artigo pode ser prólogo, epílogo e, como no caso da Academia Campinense de Letras, homenagem. Também é epílogo esta frase antecedente, porque percebo que o artigo sobre nossa academia já está pronto. Com respeito à divergência, é o que penso.