“Ele vai ser protegido, como de costume”, avisou Mark Webber ainda no pódio do GP da Malásia ao reclamar que o companheiro Sebastian Vettel havia contrariado as ordens da Red Bull e vencido uma corrida que sentia ser sua. Três semanas depois, o alemão escancara a má relação com o australiano e garante que faria tudo novamente. Webber estava certo: Vettel não tem nenhum pingo de preocupação por ter desafiado o próprio time. E por que seria diferente?
A Red Bull tem um longo histórico de conivência com este tipo de atitude — muitas vezes vinda do próprio Webber. Na tentativa de se vender como um time diferente, afastando-se da tradicional noção de primeiro e segundo pilotos cultivada especialmente pela Ferrari, evitou lavar a roupa suja em público e usou códigos — “até quando não era permitido”, nas palavras de Webber, referindo-se ao período em que as ordens de equipe eram proibidas por regulamento — só dando uma determinação clara uma vez, para o australiano não atacar Vettel no GP da Grã-Bretanha de 2011. E ele não atendeu.
A falta de comando no time anglo-austríaco foi uma das facetas expostas pelo episódio de Sepang, assim como a pouca credibilidade de Webber como “funcionário do mês”. O australiano é conhecido por jogar politicamente contra seus companheiros — e muitos, como o brasileiro Antonio Pizzonia, creditam em parte o fato de não terem vingado na categoria a ele. A verdade é que Webber nunca superou Vettel ao longo de uma temporada — e o alemão tinha apenas 21 anos quando chegou ao time, em 2009 — e só pode culpar a si próprio por ter perdido a chance de ser campeão, batendo sozinho no GP da Coreia de 2010.
Até agora, Vettel tinha mantido as aparências. Afinal, continuara vencendo corridas e conquistando títulos e tinha no consultor Helmut Marko seu colete à prova de balas, quer dizer, à prova de Webber. Mas, uma vez que a imagem de bom moço já estava arranhada por claramente não ter sentido remorso algum pela vitória da Malásia até enfrentar as caras fechadas dos dirigentes do time e do companheiro, decidiu encarnar o papel do vencedor a qualquer custo, no melhor estilo Baby Schumi, apelido que caíra em desuso há alguns anos.
Na China, Vettel fez dois grandes favores à Red Bull, e é de se imaginar o quanto a própria equipe tem a ver com isso. Ao dizer que irá para cima do companheiro mesmo que peçam o contrário, estampou o selo de segundo piloto em Webber. E, de quebra, acabou com as ordens no time. Afinal, quem vai cumpri-las daqui para frente?