Baú de Histórias

Ação entre (bons) amigos

A creche Casa da Criança Vovô Nestor, no Parque Itália, estava fechada desde 2009, mas reabriu após ação de grupo de voluntário e já acolhe 150 crianças

Rogério Verzignasse
10/03/2015 às 15:50.
Atualizado em 24/04/2022 às 01:21
baú de histórias (Reprodução/Giancarlo Giannelli/EspecialparaAAN)

baú de histórias (Reprodução/Giancarlo Giannelli/EspecialparaAAN)

Casa da Criança Vovô Nestor, creche do Parque Itália, em Campinas, nasceu há 40 anos. E sempre fez malabarismos para pagar as contas. Um grupo de voluntários compensava a falta de funcionários e garantia a prestação de serviço de excelência para os pequeninos. Em 2009, no entanto, mergulhada em uma crise financeira sem precedentes, a entidade teve fechou as portas. Foi aí que os velhos amigos da casa se uniram pra valer. O grupo se mobilizou e saiu pela cidade à caça de recursos para bancar reformas e adequações. Doações pontuais em dinheiro ergueram o caixa que estava no vermelho. Jantares, rodadas de pizzas e outros eventos reuniram antigos e novos parceiros. Na semana passada, após um ano e meio de obras e R$ 150 mil em investimentos, a creche retomou as atividades, acolhendo 150 crianças de dois a seis anos.   Foto: Reprodução/Giancarlo Giannelli/EspecialparaAAN   O presidente, o engenheiro civil Eduardo Maluf, informa que foram feitas intervenções estruturais importantes nos banheiros, na cozinha e no refeitório. As adequações nas partes elétrica e hidráulica seguiram critérios técnicos severos, e a casa se credenciou a receber recursos públicos para cobrir despesas como o pagamento de salários dos 25 funcionários contratados e a compra de material didático. O repasse da Prefeitura, de cerca de R$ 75 mil mensais, cobrirá 70% dos gastos previstos. A diferença será bancada pelas ações altruístas de sempre: muita gente batalhando sem ganhar um tostão. A Vovô Nestor, que nunca teve fins lucrativos, nasceu em 1975 do empenho da comunidade espírita campineira. A administração não tinha profissionalismo algum. Era, basicamente, uma ação entre amigos que não se preocupavam em registrar receitas nem despesas. Um confiava no outro. Como a procura por vagas crescia sem parar, a casa pediu e recebeu ajuda da Prefeitura para arcar com gastos essenciais. Acontece que o governo municipal, no começo da década passada, regulamentou o setor e passou a exigir prestações de contas, tanto dos recursos recebidos quanto dos serviços prestados. Enquanto não se adequasse às novas regras, a entidade deixaria de receber a verba.   Foto: Reprodução/Giancarlo Giannelli/EspecialparaAAN Em plena atividade: casa recebe meninos e meninas de dois a seis anos de idade, em situação de vulnerabilidade social Em 2005, a suspensão do repasse levou a direção a restringir o atendimento a 50 crianças. Com o caixa vazio, optou-se pela demissão de funcionários. Os colaboradores seguiam bancando os gastos, mas, três anos depois, sem recursos, a Vovô Nestor deixou de acolher crianças e se limitou a funcionar como um centro de convivência de idosos. As salas eram cedidas, também, para alfabetização de adultos. Na segunda-feira passada, graças ao pool voluntário para adequações estruturais e administrativas, a entidade retomou sua proposta social original e voltou a receber a criançada. Os critérios para matrículas continuam os mesmos. “São acolhidas crianças em situação de vulnerabilidade social, oriundas de lares onde a renda familiar não passa de R$ 1,2 mil mensais. Também há os que chegaram de lares desestruturados”, conta a diretora pedagógica, Cristina Helena Neves Bertuzzi.Só não será retomada, por enquanto, a assistência a crianças menores de dois anos, pois recém-nascidos ainda dependem de outras adequações, como a construção do berçário e do lactário. Ninguém na direção arrisca um cronograma de obras, nem faz previsão de despesas.Do lado de fora   Foto: Reprodução/Giancarlo Giannelli/EspecialparaAAN Crianças atendidas pela entidade no passado: creche nasceu do empenho da comunidade espírita O entusiasmo com a retomada do convênio com a Prefeitura não mudou o empenho voluntário. Cerca de 50 pessoas, de diversas profissões e níveis intelectuais, continuam se entregando a uma ação apaixonante além dos muros da creche. O grupo se reúne nas noites de sábado e, dividido em equipes volantes, percorre a cidade distribuindo comida, roupas e cobertores a moradores de rua. Caridade pura. Valor essencial da comunidade espírita que fundou e se orgulha da Vovô Nestor. SAIBA MAIS A Casa da Criança Vovô Nestor fica na Rua Pedro Braga, 130, Parque Itália, Campinas. O telefone é (19) 3272-4737 e o endereço eletrônico,[email protected]   Foto: Reprodução/Giancarlo Giannelli/EspecialparaAAN Cristina Helena Neves Bertuzzi, diretora pedagógica, e Eduardo Maluf, presidente da Casa da Criança Vovô Nestor   A fundadora da creche foi Ophelina Rabelo. Em meados de 1973, ela recebeu uma herança e decidiu doá-la à Casa da Criança Meimei, tradicional lar de acolhimento mantido pelos espíritas campineiros. Na época, Nestor Mendes da Rocha (fundador daquela casa) incentivou-a a abrir uma nova creche junto de seu grupo de colaboradores. Ophelina não só abriu a casa, como também homenageou seu mentor na denominação do espaço.    

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