JOSÉ ERNESTO

Abaixo as dietas!

12/10/2013 às 00:00.
Atualizado em 25/04/2022 às 00:36

Calma, não se trata de convite para outra manifestação pelas avenidas da cidade, e se fosse não se anime porque, mesmo com o uso de mascaras não conseguiríamos esconder que em nosso País 51% da população acima de 18 anos tem o peso maior que o desejável e que os homens estão mais pesados (54%) do que as mulheres (48%). Esta pesquisa conduzida pelo Ministério da Saúde desde 2006 observou que este ano pela primeira vez, que o percentual de maiores de 18 anos com excesso de peso supera os 50%. Em 2006 “apenas” 43% dos patrícios estavam acima do peso que, sabemos se associar a maior risco de doenças como hipertensão arterial, diabetes, enfarte agudo do miocárdio, etc., e seguindo-se uma longa sequencia de et cetera. Faço questão de não analisar os aspectos estéticos do peso. Estes são temporais, mas os seus efeitos deletérios à saúde não o são. Se você se detiver por algum tempo observando telas como “A maja desnuda” de Goya (Francisco José de Goya y Lucientes, 1746 — 1828), poderá facilmente concluir que a modelo que inspirou o quadro, apesar de ser provavelmente simpática, agradável, de trato facil e bela (o significado de “maja”), deveria ter um índice de massa corporal acima do que consideramos adequado. Outras “majas” foram imortalizadas por outros artistas da época. Embora eu não saiba o passado mórbido ou a “causa mortis” da retratada por Goya, á luz do que sabemos penso que, mesmo sendo modelos de beleza da época, essas “majas” tinham maior risco de apresentarem os problemas de saúde associados ao excesso de peso.Criticar a situação ponderal do brasileiro não é uma posição confortável. Ninguém ganha peso porque quer. Nosso peso é consequência da interação complexa e não conhecida integralmente, entre a nossa “tendência”, em outros termos nossa genética, e o meio ambiente. As modificações que ocorreram em nosso meio ambiente nos milhões de anos que estamos no planeta são drásticas. O ambiente que vivemos na maioria dos biomas do mundo, inclusive no nosso, é obesogênico. O que significa isso: a disponibilidade de comida é irritantemente constante na frequência, na quantidade e na composição e a automação atingiu grau quase máximo, ou seja, não precisamos gastar tanta energia para fazermos o que nossos ancestrais precisavam dispender. Os alimentos mais populares, disponíveis e mais baratos têm grande quantidade de açúcar e gordura. As frutas, legumes e verduras gozam cada vez mais de menor prestigio em nossas mesas. Assisti há pouco tempo um documentário maravilhoso denominado “Muito além do peso”, produzido por Maria Farinha e dirigido por Estela Renner. Este documentario, que está disponível no Youtube, mostra entre outras coisas que nossas crianças não conheçem os legumes. Conhecem batata frita, mas não conseguem reconhecer uma batata “in natura”. Não sabem identificar uma berinjela, abobrinha, quiabo, vagem e as verduras de folhas. Esse é o mundo obesogênico que estamos criando.Outro aspecto interessante de se analisar é que nunca conversamos tanto sobre dieta. Se voce se detiver por alguns minutos em frente a uma banca de revista poderá escolher e comprar mais de uma dezena de publicações que vendem milagres para perder peso e que ja foram testados e aprovados com sucesso (claro) por algum ator ou atriz famosa. Louise Foxcroft doutora em historia da medicina pela Universidade de Cambridge, publicou recentemente livro intitulado "A tirania das dietas: Dois Mil Anos De Luta Contra O Peso”, (Editora Tres Estrelas). O titulo original é para mim mais atraente: “Calories and corsets: A history of dieting over 2000 years”, ou seja: ”Calorias e espartilhos: uma historia de regimes em 2000 anos”. Nele a autora analisa de modo crítico, bem humorado e agradável às milhares fórmulas de emagrecimento propostas desde a Grécia antiga por Hipocrates (460 A.C - 370 A.C) até a época moderna, como as dietas com mais proteína, menos carboidratos, mais gordura e outras tantas com modificações radicais. Nada de cientifico é demonstrado quanto à eficácia ou eficiencia de um método sobre o outro. Não devemos nos esquecer de que as modificações radicais propostas nestas dietas da moda terão seu teste de validade no ambiente em que vivemos, e esse é movido pelo lucro e pela sedução do sabor.Arrisco-me em afirmar que não existe um método milagroso para perda de peso sustentável. Incluo entre eles as cirurgias, os medicamentos e as dietas. Aliás, esse vocabulo “dieta” somente poderá ter algum resultado se for entendido, como os gregos o propuseram: um controle gradual da alimentação, associado a um programa de exercicios e mudança no estilo de vida. Nunca como uma tentativa transitoria e periodica. Para aderirmos a uma dieta prudente e saudável, precisamos de muita independencia do mundo obesogênico e perseverança.

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