A violência e as novas arenas

Brigas de torcidas organizadas nunca deixaram de ser um problema no futebol brasileiro, mas nos últimos anos foram raras as ocorrências dentro dos estádios. As brigas eram nas redondezas, estações de metrô, na estrada... De alguns meses para cá, depois da inauguração das primeiras arenas multiuso, passamos a ter várias brigas dentro dos estádios, muitas delas exibidas ao vivo.Não acredito que isso esteja acontecendo por coincidência. As arenas, confortáveis e modernas, podem contribuir e muito para uma evolução do Campeonato Brasileiro, que precisa, urgentemente, aumentar sua média de público, atualmente inferior à de campeonatos de menor (Estados Unidos) ou quase nenhuma (Austrália) expressão no cenário mundial.Para evoluir, o futebol brasileiro precisa levar às arenas torcedores que gostam de seus times, mas não se sentem à vontade em estádios desconfortáveis e, ainda por cima, com ambiente tenso e violento.Para crescer, é necessário atrair um novo público e não se trata de, como muita gente diz, trocar os humildes pelos abastados. O futebol tem espaço para torcedores de todas as classes sociais. A troca que precisa ocorrer é a do vândalo pelo torcedor de futebol.Por isso acredito que, e isso é só uma suposição, as brigas não voltaram para dentro dos estádios por acaso. As cenas de violência, muitas delas com mulheres e crianças aterrorizadas, servem para afugentar quem talvez esteja com vontade de ir com a família aos novos estádios. As organizadas, dessa forma, estariam preservando seu espaço. Quanto mais hostil, violento e vazio, para elas é melhor.O que era bem raro se tornou frequente. Torcidas de Vasco e Corinthians brigaram no belo Mané Garricha, em Brasília. Cruzeirenses brigaram entre si na Arena Independência, no mesmo dia em que sãopaulinos guerrearam com a PM no Morumbi. Isso só para citar algumas das brigas que, como se vê, deixaram de ser raras.Minha suposição pode estar completamente errada. Pode ser apenas coincidência que esse surto de violência ocorra com o surgimento das novas arenas.Ainda assim, alguém precisa fazer alguma coisa para preservar a integridade física das pessoas de bem. Multas irrisórias e “perdas de mando” que não verdade não são perdas de mando são punições inúteis. Os clubes continuam financiando as torcidas e as torcidas continuam brigando. Resta saber até quando a Justiça, em todas as esferas, continuará dando moleza para essa gente que comete crimes e causa enorme dano ao futebol.