Já houve um tempo que os jogos de futebol noturnos eram exclusivos da capital e dos países europeus. Ouvia-se falar da iluminação artificial. Como a noite pode ser dia se vivemos com estes postes e essas lâmpadas que mal permitem a gente jogar amarelinha à noite? Some-se ainda o fato que televisão era assunto para explicações demoradas de quem vinha de São Paulo. Para os mais novos não estou falando do período paleolítico, mas de 1956, se tanto.
Nessa época o Botafogo fez dois grandes prodígios, entrou para a primeira divisão e fez em seu estádio o que procurarei descrever a seguir. A entrada na primeira divisão (gol de Dicão, no Estádio Palestra Itália!) fez com que toda população da Vila se mobilizasse para tornar o Estádio Luiz Pereira adequado para um time da primeira divisão. Isso consumiu noites e dias de todo mundo com martelo e prego às mãos para a construção das arquibancadas, que depois de prontas, especialmente nos “grandes” jogos balançavam mais que as bailarinas do Chacrinha.
Começa então o desafio maior. O estádio deveria ser iluminado para jogos noturnos. Se não estiver enganado essa proeza foi feita com patrocínio da Companhia Antarctica, que tinha sua fábrica na Vila Tibério. Todo o ao redor do estádio em alerta máximo foi vendo inicialmente a construção das bases de “cimento armado” e então começam a subir as torres dos holofotes. Um quebra cabeças de pequenas peças de ferro que iam se unindo e subindo aos céus. Altíssimas e para nós verdadeiras plataformas de lançamento de foguetes espaciais. Coisa semelhante somente víamos nos filmes do Flash Gordon, o herói galáctico dos seriados que víamos aos Domingos nos Cine Avenida ou Pedro II.
Inicia-se por fim a instalação dos holofotes. Ansiedade geral entre os tiberianos. Eram quatro torres e, muitas lâmpadas, enormes. A ansiedade e curiosidade aumentam quando finalmente começam os testes com as lâmpadas, que logicamente eram feitos à noite. Passamos várias semanas aguardando a sua ligação e quando isso ocorria corríamos para as arquibancadas. Sentávamos e ficávamos vendo um engenheiro no meio de campo orientando os técnicos para ajustarem a direção das lâmpadas. Passávamos muito tempo assim, vendo luz. A Vila Tibério entrou para o primeiro mundo.
Finalmente o grande dia, 13 de Novembro de 1957, quando vimos pela primeira vez um jogo à noite: Botafogo x Atlético Mineiro. O Botafogo ganhou de 4X1, mas isso pouco importou. Mais importante é que vimos a noite virar dia.
Hoje, depois de quase 55 anos, passadas tantas noites em claro e tantos dias escuros, me lembro da simplicidade que vivíamos, sem TV, telefone, internet, tablets, facebook, celulares, twitter, etc. Éramos felizes.
