CÉLIA FARJALLAT

A vida sem gafes

18/07/2013 às 10:16.
Atualizado em 25/04/2022 às 08:24

A vida social e a profissional seriam bem mais suaves, embora menos divertidas, sem os escorregões das gafes . Quando eu trabalhava aqui mesmo no Correio, em seu Suplemento Domingo - Mulher, hoje extinto, recebia cartas e mais cartas de pessoas temerosas de assim perderem amigos, namorados e negócios. Sempre, além de orientação adequada, lhes recomendava os livros de Marcelino de Carvalho, um dos mais perfeitos gentlemen que conheci, e o de Marta Calderaro . Recentemente, conheci outro livro interessante, “”Europe for business “” de Frances Petit, da Agência DPZ.

Todos aconselham como primeira virtude a naturalidade . Ser natural é mais difícil do que se julga . Consiste em falar e agir sem afetação, sem falsa modéstia, sem exibicionismo . Vejam. Quem se apresentar perfumadíssimo, pelintra, com o cabelo pintado, roupa espalhafatosa, ou ao contrário amarfanhado e cheio de nódoas e de caspas, causa repulsa . A mulher, empetecada de jóias, como árvore de Natal, maquiada como vedete, portando roupas impróprias para sua idade, é logo comparada a uma perua.

Se falar alto e, pior ainda com a boca cheia, se der gargalhadas, beijar meio mundo, se demonstra assanhamento, queima sua imagem. Ela pensa, coitadinha, que está fazendo bonito, que é superatraente, moderna e charming. Não é nada disso. Está provocando comentários maldosos. Naturalidade, minha gente, antes de tudo. A finura se demonstra pela discrição.

E o homem de negócios ? Tem de manter a linha, a compostura e a naturalidade, além de demonstrar não possuir cérebro vazio nem visão curta . Um dos maiores atributos é ser pontual, pontualíssimo. Nós, brasileiros, primamos pela impontualidade, o que causa horror aos estrangeiros . Além disso, lisura, conhecimento do assunto . Ao menos o homem de negócios deve dominar o francês e o inglês . Este ponto é fundamental. Se não conseguir isso, o jeito é levar a tiracolo a patroa ou a secretária .

Outros cuidados: nada de intimidades, tapinhas nas costas. Eles são impermeáveis até aos encantos de nossa língua pátria. Não lhes mandem flores: os crisântemos são flores de defunto, as rosas vermelhas só para as grandes relações amorosas. Evitem o uso de malas velhas e vulgares. Um empresário jamais desconhece os bons vinhos. Mas é sóbrio, gosta da boa mesa também, mas nunca faz comentários sobre os gays, os escândalos e jamais reclama da comida em restaurantes ou festas.

Mas, o homem de negócios como o político em campanha não precisa exagerar, comendo buchada de bode, pata de urso, fígado ou escargots, só para demonstrar cordialidade. Ele não se perde em explicações longas e inúteis. Dá seu recado, apresenta suas pretensões com clareza e com franqueza. E aguarda. Bons negócios, minha gente !

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