EDITORIAL

A vida por um fio e a falta de comunicação

20/02/2013 às 05:00.
Atualizado em 26/04/2022 às 04:02

A morte de um jovem esfaqueado de maneira estúpida na Praia da Enseada, no Guarujá, depois de uma discussão em um restaurante, ainda causa comoção em todos que acompanham o desenrolar da tragédia. A vulnerabilidade das pessoas e a falta de controle de outras levam a estados de exaltação e violência inaceitáveis, mostrando uma sociedade doente, sem limites, sem reserva de cidadania e respeito pessoal.

A divulgação do áudio do último diálogo de Mário Sampaio ao celular mostra um lado dramático da situação, com a vítima tentando desesperadamente — e diga-se de passagem, educadamente — pedir ajuda à Polícia Militar. O conteúdo, porém, revela que o jovem esbarrou em uma barreira de despreparo, burocracia e falta de sensibilidade. O tempo desperdiçado numa ligação para comunicar uma emergência evidencia o que se denuncia com frequência: o atendimento em prestadores de serviço é deficiente e muitas vezes não se mostra adequado para a ação imediata que os casos requerem (Correio Popular, 19/2, A6).

A excessiva busca pelos detalhes burocráticos, a insensibilidade do atendente e a falta de providências urgentes levaram a um atraso que, se não poderia evitar o drama, poderia ter dado um rumo diferente aos acontecimentos. É possível imaginar muitas circunstâncias que poderiam ter levado à falta de comunicação, até mesmo o despreparo para reagir a um momento de tensão. Mas não se pode esquecer a consequência fatal que decorreu da infeliz recepção. Inclusive porque, entre testemunhas, há quem afirme que sequer a viatura policial foi enviada ao local.

Para todas as atividades, sempre se espera o melhor desempenho, o preparo ideal, a dedicação extrema e o cuidado necessário para que as tarefas sejam cumpridas com o máximo de segurança e eficiência. No campo profissional, são muito claros os limites entre o que é esperado e o que se pode esperar de falhas das pessoas ou limitação de recursos. Em situações onde a vida está em jogo, seja na segurança ou na saúde, não se pode vacilar sob risco de comprometer o que de mais valioso existe. Há que se relevarem fraquezas, momentos de desatenção ou imperícia. O que não se pode tolerar é que um sistema tão vital não seja permanentemente avaliado e que se tenha sempre uma alternativa que vise a preservação da vida acima de todas as normas e burocracias.

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