A Suprema Corte que parece o STJD

Desde os anos 70 ouço que o futebol é o “ópio do povo”. Que campanhas da Seleção Brasileira podem influenciar resultados de eleições. Considero tudo isso uma grande bobagem. O futebol é sim o esporte mais popular do País e faz parte da vida de milhões de brasileiros. Mas o futebol também é o esporte mais popular de vários países e nenhum deles tem tantas barbaridades como o nosso porque as pessoas gostam de futebol. Japoneses adoram esportes. Norte-americanos adoram vários esportes e cada vez mais o próprio futebol. Países desenvolvidos possuem grandes times de diversas modalidades e inúmeros ídolos. Nem por isso essa paixão entorpece a população. No Brasil, o futebol nada mais é do que um reflexo da nossa sofrível, vergonhosa e descarada classe política. Evidentemente, não me refiro a todos políticos e nem a todos dirigentes. Procurando bem, muito bem e com muito cuidado, é possível encontrar bons valores aqui e ali. Mas, de um modo geral, a imagem dos dois setores é muito ruim. Quantas e quantas vezes não vemos um punição rigorosa e justa do STJD a um atleta ou clube ser transformada semanas depois — pelo próprio STJD — em uma leve advertência, quase um afago? Quantas e quantas vezes não ouvimos sobre investigações de dirigentes que há décadas mandam e desmandam na CBF e nas federações? O mesmo vale para confederações de outras modalidades e clubes que tiveram suas finanças destroçadas por gestões extremamente desonestas. Alguém liga? Não? E os bilhões de reais desviados na construção de um número absurdo de arenas para a Copa do Mundo? Arenas caríssima, com alto custo de manutenção, erguidas em cidades sem grandes clubes, onde são absolutamente inúteis? E a fortuna torrada e desviada na organização da Olimpíada de 2016, num Rio de Janeiro que virou terra de ninguém? Quem reclama? Quem protesta? Quem se dá ao menos ao trabalho de boicotar entidades que tantos danos causaram aos cofres públicos? Futebol não é ópio do brasileiro coisa nenhuma. Futebol é apenas mais do mesmo para o brasileiro. Brasileiro que há quatro anos vem descobrindo, graças ao magnífico e inédito trabalho da Lava Jato, quanto dinheiro se rouba, das mais variadas formas. Brasileiro que, na quinta-feira, assistiu atônito a uma manobra da Suprema Corte para livrar da cadeia um ex-presidente que está diretamente envolvido em vários dos crimes citados aqui. Suprema Corte que, no melhor estilo do STJD, transformou em afago uma lei dura e justa que ela própria criou.