EDITORIAL

A saúde na estatística da produtividade

20/05/2013 às 05:00.
Atualizado em 25/04/2022 às 15:27

Um dos setores mais essenciais de atendimento à população, entre os que são encargos do poder público, a Saúde é reconhecidamente um problema em que não há outra solução que não seja a aplicação maciça de recursos e a qualificação dos profissionais. Não se tem uma saúde de qualidade sem investimentos, dando à sociedade o retorno da imensa carga tributária que deveria reverter à população no cumprimento do dever de Estado.

Diante de uma crônica situação de penúria orçamentária, governantes e administradores buscam soluções alternativas para garantir um mínimo de estrutura de atendimento, contando com o alívio proporcionado por aqueles que podem contratar planos de saúde privados, e lutando contra a demanda de assistência das comunidades mais carentes, a falta de médicos dispostos a enfrentar condições impiedosas de trabalho e baixa remuneração para a categoria, além de uma rede física decadente e sem equipamentos adequados.

A proposta da Administração de Monte Mor, de oferecer gratificação aos médicos da rede pública que conseguirem atender mais pacientes no período de uma hora, levantou dúvidas quanto a sua eficácia e protestos quanto à possibilidade de prejuízos à qualidade do serviço prestado. O próprio Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo considerou absurda a ideia, que vem contra tudo o que se busca em termos de refinamento e atenção nas consultas (Correio Popular, 18/5, A4).

É possível entender a intenção de buscar uma alternativa diante da carência de uma equipe médica à altura da demanda do município. Não é uma crise isolada e exige soluções diferenciadas. Sacrificar o tempo que deve ser dedicado à consulta, diagnóstico e orientação dos pacientes é um atentado ao bom-senso, é impor a capitulação diante de um problema seriíssimo. Transformar a necessidade com uma manobra estatística não é a melhor saída. Os médicos devem assumir a sua parcela de responsabilidade e oferecerem o que de melhor está à disposição. Transformar os consultórios em linhas de produção apenas agrava o já constatado descaso que ganha algum espaço no serviço público, com o desrespeito aos pacientes e a premência de tornar interessantes as condições de trabalho. Se há soluções possíveis, essas não passam pelo distanciamento na relação médico-paciente, e sim pelo estabelecimento de um vínculo humano de atenção extrema, gentileza e aplicação, de forma a elevar o padrão de saúde devido em todos os níveis.

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