ZEZA AMARAL

A saga do menino mágico

Zeza Amaral
27/05/2013 às 20:19.
Atualizado em 25/04/2022 às 14:28

A foto estava lá, grudada na página de esportes, enorme, mostrando o semblante caído de um jogador de futebol antes de uma partida. Fotos hoje em dia não valem por mil palavras. São apenas fotos; desde que a televisão não tenha mostrado antes, é claro. Neymar deixou rolar uma lágrima quando o Hino Nacional era executado; ele estava se despedindo do futebol brasileiro rumo ao futebol espanhol. Mais especificamente ao futebol catalão, Barcelona, que, em si, representa apenas o futebol catalão. Espanhóis são um povo muito esquisito, separatistas de si mesmos, brigam até mesmo quando todos têm razão — segundo me dizia o tapeceiro, cantor, pintor e restaurador, Arturo Molina, ele mesmo, um critico catalão da cultura política que a sua tribo nutria há séculos “e milênios se darão para que não tenham razão”.

Não vou levar palavra para explicar Arturo Molina, que, no final dos anos sessenta, se achou no direito de me “adotar” após a morte acidental de seu filho. Éramos pai e filho da música e da noite e apenas isso. Ele não suportava touradas e seus clarins, e muito menos o fanatismo de catalões, bascos e merengues. E ele já se foi daqui há muitos anos e há tantos anos ainda venho buscando argumentos para contradizê-lo, tudo em vão, tudo em saudade, tudo em boas e robustas lembranças de bacardi, coca-cola e limão. E, sem dúvida, o melhor cantor da Orquestra de Sevilha.

Neymar vai para Barcelona jogar ao lado de um grande jogador, Messi, um argentino que saiu da sua terra, aos treze anos, para ganhar a vida com os seus pés, nervos e muito talento. Neymar foi para o Barcelona porque Messi está lá. Ele poderia aceitar muito mais dinheiro para jogar em qualquer outra grande equipe da Europa, mas quer mesmo é jogar ao lado do Messi. Ele é um aprendiz — e sabe disso. E já faz um bom tempo que ele entendeu que seus marcadores brasileiros antecipam suas mágicas, estão mais atentos a seus truques e não se deixam mais enganar pela prestidigitação de seus pés. Neymar vai em boa hora para aprender novos truques com os mágicos catalães que bem aprenderam com os melhores ilusionistas de suas infâncias, Maradona (por que não?), Zico, Romário, Zidane, e, é claro, com os tapes de Pelé e Garrincha.

Vai ser chato passar um fim de semana sem as brincadeiras do Neymar. Só espero que ele mantenha sua fina e elegante figura e não se deixe levar pela força bruta dos preparadores físicos europeus; afinal, para ser mágico, é preciso, antes de tudo, sensibilidade nas articulações. Que os deuses dos estádios o protejam.

Assuntos Relacionados
Compartilhar
Correio Popular© Copyright 2025Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por