Coluna publicada na edição de 3/7/18 do Correio Popular
Todos nós gostamos de esquemas ofensivos e de times que jogam para frente, buscando o gol o tempo todo. Quando torcemos para o time favorito, essa exigência se torna ainda maior. Mas torcedores brasileiros, mal-acostumados com a história vitoriosa da Seleção, costumam exigir isso de seus clubes, mesmo quando o favoritismo é todo de um adversário com orçamento muito superior. Alguns jogos das oitavas de final da Copa do Mundo mostraram que, às vezes, é recomendável buscar o objetivo com uma estratégia compatível com o tamanho da própria qualidade. Foi o que fez a Rússia no domingo. Em casa e empurrada pela torcida, a equipe entrou em campo preocupada apenas em se defender. Nem mesmo depois que a favorita Espanha saiu na frente os russos abandonaram a estratégia adotada por Stanislav Cherchesov. O time chegou a ser vaiado no primeiro tempo porque a Espanha vencia por 1 a 0, trocava passes no meio-de-campo e ainda assim os jogadores da casa ficaram postados na defesa. A Rússia não tentou ter a bola. Nem se expôs aos contra-ataques em busca do gol que precisava marcar para ter chance de seguir na Copa. Depois que, sem se abrir, encontrou esse gol, o estádio explodiu. Mas o entusiasmo da torcida não afetou o plano inicial. A Rússia fez apenas uma finalização em direção ao gol em toda partida. A Espanha fez nove. A meta da Rússia era levar a decisão para os pênaltis, onde suas chances seriam iguais. Na bola, a Espanha é melhor. A Rússia compreendeu isso. Reconheceu a própria inferioridade. O México pensou com a cabeça de torcedor. Juan Carlos Osorio mandou seu time para cima do Brasil e causou ligeiro desconforto durante 20 minutos. Depois que Neymar abriu o placar, Osorio colocou mais um atacante. O México não admitiu o seu tamanho. Não se viu como uma seleção que não chega às quartas de final desde 1986. Não reconheceu que do outro lado estava o único pentacampeão do mundo. Se não fosse a grande atuação de Ochoa, teria perdido por um placar bem maior. O Japão cometeu um erro semelhante. Abriu 2 a 0 na superfavorita Bélgica e se recusou a jogar como a Rússia. Continuou em busca do terceiro gol, mesmo depois de ceder o empate. E pagou caro por isso. Sofreu um gol em contra-ataque no último lance, coisa que jamais aconteceria se tivesse reconhecido o seu tamanho. Eu gosto de futebol ofensivo, assim como você, leitor. Mas reconheço que a estratégia mais inteligente é aquela que se adequa à qualidade de cada elenco.